Tecnologia foi importada pelo pecuarista mineiro Luciano Borges Ribeiro, do Rancho da Matinha
por Sebastião Nascimento | Fotos Ernesto de SouzaNo rancho da Matinha, em Uberaba, 128 bezerros nelore foram testados nos cochos em tempo real nas 24 horas do dia
Aos 64 anos de idade, Luciano Borges Ribeiro, selecionador tradicional e independente de nelore, já poderia ter desacelerado o ritmo. Somente touros de ponta em centrais de inseminação ele tem 26, o que o coloca entre os maiores proprietários de reprodutores em coleta nas empresas. O faturamento com as doses de sêmen na certa daria para esticar as folgas, mas Luciano se confessa apaixonado pela pecuária em tempo integral e pelas experiências decisivas que faz no sentido de aprimorar o gado. Conhecido como Luciano da Matinha, ele se dá ao luxo de, ao contrário de outros criatórios, não vender tourinhos melhoradores amiúde no Rancho da Matinha, em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Prefere ofertar 300 de uma só fornada num megaleilão anual – a maioria dos remates dessa modalidade coloca no máximo 100 cabeças. Em 2011, o evento durou dois dias e engordou em R$ 3 milhões o caixa da fazenda.
Inquieto, em 2002, quando a técnica da avaliação de carcaça por meio de ultrassonografia era pouco conhecida no país, ele já a utilizava. Agora, Luciano é o primeiro pecuarista a trazer para o Brasil – e instalar no Rancho da Matinha – o sistema chamado GrowSafe, que mede, sem interrupção, durante as 24 horas do dia, toda a comida consumida nos cochos por bezerros nelore.
“Meu DNA reúne quatro gerações de pecuaristas, e todas elas procuraram antecipar tendências”, diz Luciano, que convive com a nata dos zebuzeiros em Uberaba, mas se pauta por critérios próprios de seleção – não leva bovinos aos julgamentos da ExpoZebu, por exemplo, onde as vitórias nas pistas abrem as portas ao estrelato. Argumenta que não gosta de gado de vitrine. Seu propósito é fazer carne.
Luciano trouxe a novidade do Canadá neste ano. Ele conheceu o GrowSafe em fazendas dos Estados Unidos em 2004. Em julho de 2010, visitou propriedades americanas desde o Texas, no Sul, até Montana, na fronteira com o Canadá, e afirma ter constatado que a tecnologia apresenta resultados econômicos positivos. “Voltei entusiasmado. Criadores experientes, que usam o sistema há oito anos, me disseram que obtêm ganho de eficiência em média de 20%, ou seja, o custo para alimentar o gado é 20% menor”, conta.
A pioneira prova na Matinha teve início em 22 de agosto deste ano e terminou no dia 19 do mês passa do, sendo os primeiros 20 dias usados na adaptação. Foram confinados 128 bezerros nelore desmamados – filhos de 13 diferentes pais –, que tiveram a eficiência alimentar medida individualmente e em tempo real. Em 16 cochos individuais, que eram esvaziados às 7h30 da manhã e cheios novamente às 8 horas, os animais comeram ração composta de 60% de silagem de milho e de concentrados como farelo de soja (40%). “A dieta foi a mesma para todos”, conta.
Divididos em dois grupos de 64 cabeças cada, os bezerros, cujas idades variavam de nove a 11 meses, se alimentavam à vontade e os cochos eram dotados de balança eletrônica e antenas. Eles tinham brincos afixados na orelha. “Ao baixar a cabeça no cocho em busca da ração, o bicho tinha a presença detectada por um transponder acoplado ao brinco, que transmite as informações de consumo em tempo real, via rede sem fio, para um computador em nosso escritório”, diz. Segundo o pecuarista, o GrowSafe desenvolveu um software que reúne dados relacionados ao consumo e ao comportamento do animal. Além de medir a conversão alimentar, o aplicativo elabora gráficos sobre os horários de frequência no cocho. Os dados gerados são enviados, via internet, à GrowSafe System, no Canadá, empresa fabricante e responsável pela auditoria.
Inquieto, em 2002, quando a técnica da avaliação de carcaça por meio de ultrassonografia era pouco conhecida no país, ele já a utilizava. Agora, Luciano é o primeiro pecuarista a trazer para o Brasil – e instalar no Rancho da Matinha – o sistema chamado GrowSafe, que mede, sem interrupção, durante as 24 horas do dia, toda a comida consumida nos cochos por bezerros nelore.
“Meu DNA reúne quatro gerações de pecuaristas, e todas elas procuraram antecipar tendências”, diz Luciano, que convive com a nata dos zebuzeiros em Uberaba, mas se pauta por critérios próprios de seleção – não leva bovinos aos julgamentos da ExpoZebu, por exemplo, onde as vitórias nas pistas abrem as portas ao estrelato. Argumenta que não gosta de gado de vitrine. Seu propósito é fazer carne.
Luciano trouxe a novidade do Canadá neste ano. Ele conheceu o GrowSafe em fazendas dos Estados Unidos em 2004. Em julho de 2010, visitou propriedades americanas desde o Texas, no Sul, até Montana, na fronteira com o Canadá, e afirma ter constatado que a tecnologia apresenta resultados econômicos positivos. “Voltei entusiasmado. Criadores experientes, que usam o sistema há oito anos, me disseram que obtêm ganho de eficiência em média de 20%, ou seja, o custo para alimentar o gado é 20% menor”, conta.
A pioneira prova na Matinha teve início em 22 de agosto deste ano e terminou no dia 19 do mês passa do, sendo os primeiros 20 dias usados na adaptação. Foram confinados 128 bezerros nelore desmamados – filhos de 13 diferentes pais –, que tiveram a eficiência alimentar medida individualmente e em tempo real. Em 16 cochos individuais, que eram esvaziados às 7h30 da manhã e cheios novamente às 8 horas, os animais comeram ração composta de 60% de silagem de milho e de concentrados como farelo de soja (40%). “A dieta foi a mesma para todos”, conta.
Divididos em dois grupos de 64 cabeças cada, os bezerros, cujas idades variavam de nove a 11 meses, se alimentavam à vontade e os cochos eram dotados de balança eletrônica e antenas. Eles tinham brincos afixados na orelha. “Ao baixar a cabeça no cocho em busca da ração, o bicho tinha a presença detectada por um transponder acoplado ao brinco, que transmite as informações de consumo em tempo real, via rede sem fio, para um computador em nosso escritório”, diz. Segundo o pecuarista, o GrowSafe desenvolveu um software que reúne dados relacionados ao consumo e ao comportamento do animal. Além de medir a conversão alimentar, o aplicativo elabora gráficos sobre os horários de frequência no cocho. Os dados gerados são enviados, via internet, à GrowSafe System, no Canadá, empresa fabricante e responsável pela auditoria.
Luciano Borges Ribeiro, no último dia da prova. Ele visitou fazendas desde o Texas até Montana, nos EUA, para conhecer o GrowSafe
Luciano observa que tradicionalmente a seleção no Rancho da Matinha prioriza outras características, portanto, não é feita com base apenas na eficiência alimentar. “Leva em consideração características relevantes como fertilidade, habilidade materna, precocidade sexual e carcaça (rendimento e terminação), as quais, em conjunto com a eficiência alimentar, favorecem a geração de animais de alta eficiência econômica”, diz. No derradeiro dia do teste, que foi acompanhado por Globo Rural na Matinha, o veterinário Fabiano Araújo verificava também o rendimento e a terminação da carcaça, além do marmoreio da carne por ultrassonografia.
Luciano, respaldado pela opinião de especialistas, acredita que a eficiência alimentar vai representar uma revolução na moderna pecuária de corte. “São dois os resultados da característica: um está diretamente ligado ao caixa, já que a seleção para eficiência alimentar visa elevar o ganho financeiro por meio da redução de custos”, diz.
Encerradas as provas na Matinha, constatou-se que os animais testados consumiram, em média, 8,7 quilos de matéria seca para cada quilo de peso que ganharam. O bezerro mais eficiente, filho do touro Laredo da Mat, comeu 6,4 quilos ao dia de ração para converter em um quilo de peso. Na outra ponta, o machinho que apresentou menos eficiência consumiu 16,1 quilos de ração para cada quilo de peso ganho. Luciano explica que, para unificar as avaliações de eficiência alimentar em todo o mundo, existe uma metodologia denominada Consumo Alimentar Residual (CAR), que considera eficientes os animais que demandam menos energia que o esperado.
“Em se tratando de custos para se produzir uma arroba, a diferença é gritante”, ressalta Thiago Lopes, zootecnista da Matinha. Segundo ele, o animal mais eficiente teve custo de arroba de R$ 72,36 e um ganho de peso diário de 1,25 quilo. Já o bezerro menos eficiente registrou custo de R$ 183,60 a arroba produzida – prejuízo certo, portanto, se ele fosse para o abate, considerando-se o preço atual da arroba, ao redor de R$ 100. Seu ganho de peso diário foi de 0,54 quilo por dia.
Luciano observa que a adoção da seleção para a eficiência colabora também para a sustentabilidade, evidenciando que, no futuro, será possível o aumento da produção numa mesma área evitando-se a derrubada de árvores. “Quando o resultado for transferido para o pasto – e essa é a finalidade almejada –, poderemos colocar 120 ou 130 matrizes mais eficientes num espaço onde a lotação é de 100, e a mesma quantidade de capim será ingerida”, diz. O grande objetivo dessa seleção, adianta o pecuarista, é o gado comercial criado a pasto e de genética superior. Satisfeito, Luciano afirma que os resultados das provas revelaram ainda que a taxa de herdabilidade da eficiência alimentar é de até 40%. “Justifica, assim, o investimento na compra de gado selecionado para essa característica”, diz.
Ele avisa que os testes comprovaram que a eficiência alimentar não tem correlação com outras características produtivas, ou seja, um animal que apresenta ótima eficiência para converter comida em ganho de peso pode não produzir resultados relevantes quanto à precocidade e à qualidade da carcaça. “A característica da eficiência alimentar agrega e será o diferencial da Matinha”, diz Luciano.
Luciano, respaldado pela opinião de especialistas, acredita que a eficiência alimentar vai representar uma revolução na moderna pecuária de corte. “São dois os resultados da característica: um está diretamente ligado ao caixa, já que a seleção para eficiência alimentar visa elevar o ganho financeiro por meio da redução de custos”, diz.
Encerradas as provas na Matinha, constatou-se que os animais testados consumiram, em média, 8,7 quilos de matéria seca para cada quilo de peso que ganharam. O bezerro mais eficiente, filho do touro Laredo da Mat, comeu 6,4 quilos ao dia de ração para converter em um quilo de peso. Na outra ponta, o machinho que apresentou menos eficiência consumiu 16,1 quilos de ração para cada quilo de peso ganho. Luciano explica que, para unificar as avaliações de eficiência alimentar em todo o mundo, existe uma metodologia denominada Consumo Alimentar Residual (CAR), que considera eficientes os animais que demandam menos energia que o esperado.
“Em se tratando de custos para se produzir uma arroba, a diferença é gritante”, ressalta Thiago Lopes, zootecnista da Matinha. Segundo ele, o animal mais eficiente teve custo de arroba de R$ 72,36 e um ganho de peso diário de 1,25 quilo. Já o bezerro menos eficiente registrou custo de R$ 183,60 a arroba produzida – prejuízo certo, portanto, se ele fosse para o abate, considerando-se o preço atual da arroba, ao redor de R$ 100. Seu ganho de peso diário foi de 0,54 quilo por dia.
Luciano observa que a adoção da seleção para a eficiência colabora também para a sustentabilidade, evidenciando que, no futuro, será possível o aumento da produção numa mesma área evitando-se a derrubada de árvores. “Quando o resultado for transferido para o pasto – e essa é a finalidade almejada –, poderemos colocar 120 ou 130 matrizes mais eficientes num espaço onde a lotação é de 100, e a mesma quantidade de capim será ingerida”, diz. O grande objetivo dessa seleção, adianta o pecuarista, é o gado comercial criado a pasto e de genética superior. Satisfeito, Luciano afirma que os resultados das provas revelaram ainda que a taxa de herdabilidade da eficiência alimentar é de até 40%. “Justifica, assim, o investimento na compra de gado selecionado para essa característica”, diz.
Ele avisa que os testes comprovaram que a eficiência alimentar não tem correlação com outras características produtivas, ou seja, um animal que apresenta ótima eficiência para converter comida em ganho de peso pode não produzir resultados relevantes quanto à precocidade e à qualidade da carcaça. “A característica da eficiência alimentar agrega e será o diferencial da Matinha”, diz Luciano.
Há um senão: os custos do GrowSafe são altos por causa dos tributos de importação, lamenta Luciano. O investimento total (equipamento, montagem do confinamento e rede de informática) foi de R$ 1,2 milhão, e os testes não seriam possíveis caso não tivesse firmado parceria com a central ABS-Pecplan, que fez aporte de metade do dinheiro. Um contrato foi elaborado dando à central de Uberaba, subsidiária da americana ABS Global, exclusividade na venda de genética de dez touros avaliados. A ABS tem experiência no ramo. A empresa realiza projetos para medir a eficiência alimentar de seus principais reprodutores há 14 anos nos EUA e diz considerar o GrowSafe a metodologia mais moderna e confiável.
A experiência prossegue. “No próximo teste serão avaliadas fêmeas com até 18 meses de idade e prenhas. Assim, a seleção será feita tanto na linhagem paterna quanto na materna, o que impulsionará os avanços genéticos”, afirma Luciano. Em agosto de 2012, durante a Expogenética em Uberaba, a Matinha já vai colocar na oferta sêmen e touros que os testes comprovarem ser de alta eficiência alimentar.
FONTE: GLOBO RURAL
A experiência prossegue. “No próximo teste serão avaliadas fêmeas com até 18 meses de idade e prenhas. Assim, a seleção será feita tanto na linhagem paterna quanto na materna, o que impulsionará os avanços genéticos”, afirma Luciano. Em agosto de 2012, durante a Expogenética em Uberaba, a Matinha já vai colocar na oferta sêmen e touros que os testes comprovarem ser de alta eficiência alimentar.
FONTE: GLOBO RURAL
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