Maurício Palma Nogueira, eng. agrônomo, diretor da Bigma Consultoriamauricio@bigma.com.br
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O avanço do nível de tecnologia na pecuária de corte é incontestável. Se produzíssemos hoje com a mesma tecnologia do início da década de 1970, a produção atual de carne custaria aos Brasileiros outros 280 milhões de hectares de pastagens, segundo estimativas da Bigma Consultoria.
Ou seja, ao invés dos cerca de 171 milhões de hectares ocupados atualmente, o rebanho brasileiro circularia por quase 455 milhões de hectares de “chão”, algo impensável para os dias de hoje. Este avanço de tecnologia possibilitou também que o preço da carne se reduzisse ao consumidor. Em valores reais (corrigidos pela inflação), os preços médios da carne bovina no varejo recuaram pela metade entre a década de 1970 e os dias de hoje. Os dados analisados pela Bigma Consultoria são do Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo.
Mesmo assim, podemos dizer que grande parte deste processo se concentrou no período pós plano Real, a partir de meados da década de 1990. Até então, o ambiente inflacionário e, principalmente, o auge da expansão rumo ás fronteiras agrícolas entre os anos 1950 e 1980 desestimulava o investimento em tecnificação. Mesmo que a pecuária estivesse em regiões já consolidadas, longe das fronteiras, ela competia com os animais oriundos de lá, principalmente bezerros e animais jovens.
Como prova, observamos que entre 1950 e 1990, o preço médio da arroba de um bezerro recém-desmamado valia 22% menos que o valor da arroba de um boi gordo. Na década de 1990 essa realidade começou a mudar e hoje é a arroba do bezerro que vale em torno de 20% e 25% acima do valor da arroba do boi gordo.
O deságio do valor da arroba do bezerro diante do valor da arroba do boi gordo evidencia que naquele período havia uma sobre oferta de bezerros, que superava o mercado da cadeia produtiva. Não era a pecuária que estava se expandindo; era o Brasil agrícola que crescia. A pecuária foi o produto que viabilizou o processo de ocupação das fronteiras.
Pois bem, com a redução da expansão agrícola e com a economia entrando nos eixos, acelerou-se o processo de tecnificação da pecuária. Aí brilharam a pesquisa brasileira, a criatividade das indústrias de insumos e alimentos e, principalmente, a coragem e o empreendedorismo do pecuarista.
O melhoramento genético, a inseminação artificial e os programas de cruzamento industrial vieram ganhando espaço e foco nos resultados, tanto nas raças individuais como nos cruzamentos.
A nutrição melhorou consideravelmente com a inovação de estratégias de suplementação a pasto, tanto no período seco como no chuvoso. Anualmente os frigoríficos vêm relatando uma redução na idade média de abate, o que também é relatado por produtores.
Mesmo com a idade do abate reduzindo, o peso médio da carcaça aumentou nestes anos todos. Nos anos 1990 a carcaça de um macho abatido pesava em torno de 16,5@, na média, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Hoje em dia, pela mesma fonte de dados, constata-se que a média dos machos abatidos está por volta das 18,5@ por carcaça.
Genética e nutrição possibilitam tal avanço.
No campo das pastagens, os grandes avanços estão na qualidade das sementes e das espécies forrageiras. De acordo com os dados coletados na expedição Rally da Pecuária 2011, entre 70% e 75% das pastagens brasileiras são variedades da Brachiária brizantha. Capins do gênero Panicumpovoam 8% a 12% das áreas de pastagens brasileiras, enquanto outras braquiárias representam de 4% a 8%.
O interessante no caso das pastagens é que apenas 1,8% do total encontrado no Rally da Pecuária era de capins nativos. Ou seja, áreas em que não houve formação do pasto e nem aporte tecnológico.
Diversas outras técnicas podem ser apontados como responsáveis por este avanço. O uso de insumos e defensivos vem aumentando anualmente, o manejo dos pastos vai se consolidando em praticamente todas as propriedades e a forma de lidar com os animais, ou o manejo racional como ficou conhecido, é pauta em praticamente todos os encontros de pecuaristas. A melhoria da gestão e o profissionalismo na relação entre produtores e funcionários também avança a passos largos no campo.
E diversas outras tecnologias mais recentes chegaram para impulsionar mais ainda o avanço deste processo extremamente importante. Destacamos aí as dietas mais adensadas (com maior proporção de concentrados) nos confinamentos, integração lavoura-pecuária-florestas, a tecnologia de inseminação artificial em tempo fixo, o uso de moléculas cada vez mais eficientes e “inteligentes” para o controle de insetos e invasoras, o uso de chips para o controle gerencial e diversas outras técnicas.
Por fim, apesar dos ganhos de produtividade e dos benefícios que os mesmos trouxeram para toda a sociedade, tal avanço ainda não foi suficiente para recuperar a rentabilidade do pecuarista. Na média geral, para que os produtores recuperem a mesma renda equivalente de anos atrás, teria que trabalhar com o dobro de produtividade nos dias de hoje.
E a tendência é que o mercado exija cada vez mais. É por esta razão que podemos dizer que pecuária ainda tem muito a avançar. O ritmo do aporte tecnológico dos próximos anos será maior do que o vivido até o momento.
Fonte: Artigo escrito para a edição especial Feicorte da Revista Dinheiro Rural
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