terça-feira, 12 de junho de 2012

Preços do boi navegando nos extremos!



Rogério Goulart, administrador de empresas, pecuarista e editor da Carta Pecuária
cartapecuaria@gmail.com
Reprodução permitida desde que citada a fonte
 
Semana passada dissemos que iríamos analisar essa entressafra com um pouco mais de profundidade.

Observe o gráfico da variação ano a ano da arroba do boi no final da página, um dos meus gráficos favoritos ultimamente.

Essa é a fotografia do boi desde o início do plano Real, caro leitor. Já coloquei esse gráfico antes. Coloco-o novamente pelo simples motivo que ele é importante demais para ser negligenciado. Essa é a quarta vez que a arroba se encontra em uma situação como a atual, abaixo de zero por cento de variação ano a ano em seus preços.

Deixe-me te fazer uma pergunta bem simples. Qual é o movimento mais fácil dos preços da arroba? Quero dizer, o que é mais fácil? A arroba cair, ou subir? Muitos diriam cair... e estariam errados.

O movimento mais fácil da arroba é subir. É o que ela faz com mais naturalidade ao longo dos anos, como mostrado ao lado. Esses dois gráficos estão na mesma escala, caro leitor.

Repare nos momentos de queda nos preços da variação ano a ano no gráfico aqui ao lado com os momentos de queda do boi no gráfico acima e você verá que a argumentação de estarmos passando por um momento único de pressão baixista é bastante forte. O argumento também deixa implícito que esse movimento de baixa uma hora chega ao fim, e esse é exatamente onde quero chegar e deixar como recadinho para você sobre a entressafra.

Agora, estou bem ciente de todas as condições supostamente de aumento de oferta para o boi no segundo semestre e as levo em consideração, tais como o preço do milho ao redor de ótimas 4 sacas/ arroba (gráficos de Goiás e São Paulo a seguir).


Também não é difícil entender o olhar com certa preocupação com a oferta de bois provenientes do Mato Grosso, hoje responsável por um a cada cinco animais abatidos no país, conforme mostrado nesse gráfico ao lado.

Realmente, desde 2008 o movimento de alta na participação mato-grossense foi reveladora do potencial produtivo do estado para os anos vindouros não tanto pela produtividade de lá, mas pelo tamanho do estado. A gente sempre perde noção do tanto que o Mato Grosso é grande. São Paulo e Mato Grosso do Sul são mais produtivos na pecuária, porém são estados significativamente menores em tamanho territorial.

Tendo a olhar para esses mesmos números, porém confesso que mesmo assim, meu lado técnico fala mais alto. Simplesmente não consigo ignorar a força e a grandeza que é a necessidade de compra de animais gordos pelos frigoríficos. Além disso, levo muito à sério
o gráfico de aumento anual do abate para atender a demanda. Esse gráfico mostra a necessidade anual de animais gordos A MAIS que os frigoríficos são obrigados a comprar somente para manter abastecido o mercado interno.

Ou seja, atualmente está girando entre 300 e 350 mil cabeças por ano essa necessidade, segundo os últimos levantamentos que fiz.

O que isso significa é que atualmente, independente de como estão os preços, o mercado interno necessita, todo ano de 300 mil cabeças de bois a mais que o ano passado. Se pegarmos desde 2008 para cá, os abates teriam que estar mais de 1,5 milhão a mais de animais abatidos.

Sabemos que isso não aconteceu. Oferta menor que a demanda, preços em alta. A oferta de carne ainda não equilibrou essa conta, a meu ver.

E isso sem contar o dólar. Semana passada comentamos sobre isso, mas vale a pena voltar ao assunto. Abaixo de 50 dólares a coisa volta a funcionar para a exportação. A moeda subindo, como parece que está sendo a realidade atual, e aparentemente uma alta que tende a ser mais estrutural que circunstancial levando em consideração a queda dos juros reais brasileiros e esses tais fatores de incerteza no exterior estão trazendo boas notícias no escoamento de carne para fora.

Não vemos essa tendência se alterando no curto-prazo, pelo contrário — com a entrada do
verão no hemisfério norte e a necessidade de recomposição de estoques nos levam a pensar em uma manutenção de bons escoamentos para fora enquanto o dólar for favorável.

E agora, o lado mais técnico do texto de hoje. Aqui mostro a variação dos preços da arroba do pior preço da safra para o melhor preço da entressafra de cada ano. Ou seja, em 2010, por exemplo, da safra para a entressafra a arroba subiu 63%.



Agora repare em 2011. A arroba subiu 14% da safra para a entressafra. Agora em 2012 a expectativa do mercado futuro é mais baixa ainda, alta de 10% do pior preço da safra desse ano (R$ 92,28)para o fechamento da bolsa dessa sexta feira.

Agora repare em uma coisa curiosa. Tem anos com verdes bem escuros aqui. Esses são 1999, 2002, 2007 e 2010. Esses foram os anos recordes de alta da arroba da safra para entressafra.

Agora repare no que aconteceu com os anos seguintes. Mais precisamente, nos dois anos seguintes. Notou? Os anos seguintes foram de entressafras relativamente mais fracas. Esse comportamento de ano bom seguido por dois anos ruins tem se mantido ao longo dos anos, e agora em 2012 a coisa não está sendo diferente.

Mas por que então, se está condizente, dizer que 2012 uma arroba ao redor de 100 reais para entressafra está barata?

Ora, por causa de:

1) como mostrei, o mercado interno está melhor e demanda muito boi, mais que o povo imagina,

2) as exportações vão enxugar mais que o esperado a oferta de animais,

3) os frigoríficos já se ajustaram a maior oferta de animais, e estão abatendo mais e

4) porque os custos de produção estão batendo na porta.

O gráfico dos custos está a seguir. Repare como a engorda em uma fazenda típica, por
mais que à primeira vista e superficialmente o povo fala que a engorda está boa, na realidade não está. Pelo contrário. Atualmente a engorda de 90% dos animais ainda é a pasto, e a conta não está fechando.



Nos confinamentos a coisa se parece. Segundo pude levantar, o boi de confinamento está atualmente com custos de produção ao redor de 95~100 reais por cabeça quando se leva também em consideração o valor de compra do animal ou o garrote estocado e erado na fazenda do ano passado para cá.

Então, caro leitor, vamos parar um pouco para respirar e absorver tudo o que foi mostrado. Não sou dono da verdade, é claro. Mostrei aqui somente números e dados da pecuária que não são meus. São dados em sua grande maioria públicos.

O que notamos, no final, olhando para tudo isso é que a pecuária está atualmente passando por um momento de extremos. Esses momentos assim são raros de acontecer.

É uma combinação de seca prolongada e piora muito forte nos pastos no início do ano junto com um início mais forte de oferta de fêmeas, essas provenientes de descartes de matrizes ou simplesmente o cidadão que está aproveitando o valor da novilha barata e engordando.

Isso fez uma força enorme para baixo nos preços e jogou para extremos históricos a variação ano a ano da arroba do boi. Por outro lado, muita compra de boi. Os frigoríficos abriram as porteiras e recebem de braços abertos essa quantidade a mais de animais.

Estão felizes. Estão conseguindo pegar essa sobre oferta e colocá-la no mercado interno
com margem positiva, veja você que beleza.

A cereja do bolo é a alta do dólar recente, trazendo de volta do limbo um mercado que estava praticamente morto que era a exportação.

Um maior abate diário traz consigo riscos. O maior dele é um descasamento de oferta. Sabe o pico da entressafra? Ele sempre ocorre por causa desse tal descasamento de oferta. São aquelas duas, três semanas — ninguém sabe direito predizer quando elas ocorrem — mas nessas semanas o boi some. Daí é pânico para preencher as escalas.

Em uma situação de maior abate, o risco do tal descasamento é maior ainda, elevando geometricamente o potencial de uma alta por causa disso.

E o mercado futuro nisso tudo? É exatamente nesse ponto do parágrafo anterior que o mercado futuro está deixando de levar seriamente em consideração, a meu ver.

Isso me fez lembrar de uma coisa que disse há vários anos atrás. Nunca subestime uma safra, caro leitor. Também nunca subestime uma entressafra. Ainda penso da mesma
forma.

Em suma, se nada disso é importante ou se nada disso importa para você, considere o seguinte. Em plena safra, ficar baixista e cantar a bola baixista para a entressafra é clichê demais para a gente deixar passar despercebido.

MOVIMENTAÇÃO DO MERCADO: Boi -- Indicador ESALQ/BVMF do boi, que mede a variação dos preços da arroba no Estado de São Paulo, fechou a semana com +0,22 a R$ 92,50 à vista. Cotações em R$ por arroba.

A média móvel de 5 dias fechou em R$ 92,56. O contrato de junho/12 fechou com –0,95 a R$ 92,99. O contrato de junho está 43 centavos acima do preço médio de liquidação do contrato.

O contrato que vence em julho/12 fechou com –1,56 a R$ 94,94; agosto/12 –1,40 a R$ 96,20; setembro/12 –1,62 a R$ 98,35.

Todos os vencimentos estão cotados à vista com o fechamento da sexta-feira e com a indicação semanal da variação de preços.
Bezerro -- Indicador ESALQ/BVMF de bezerro, que mede a variação dos preços no Estado do Mato Grosso do Sul, fechou a semana com +11,33 cotado a R$ 713,95 à vista. Cotações em R$ por bezerro.

A arroba do bezerro está estável e fechou ao redor de R$ 107,00. Todos os vencimentos estão cotados com o fechamento da sexta-feira e com a indicação da variação semanal.

Taxa de Reposição 1 -- Um boi gordo compra hoje 2,14 bezerros, queda de 0,02 na semana.

Dólar -- Dólar comercial fechou com –1,03% a R$ 2,025. Dólar futuro com vencimento no início de julho fechou com –0,65% a R$ 2,035; agosto fechou com –0,64% a R$ 2,046.

Juros -- A taxa de juros do governo (SELIC) está hoje em 8,50% ao ano.

Inflação – IGP-M de maio +1,02%. Acumulado no ano2 +2,49%. Acumulado nos últimos 12 meses3 (junho-11 a maio-12) +4,19%.

Assim como os contratos de boi e bezerro se encerram pelo preço dos seus respectivos indicadores, o dólar se encerra pelo preço do dólar do Banco Central nas datas acima indicadas.

Frigoríficos 4 -- A arroba nos frigoríficos foi cotada hoje em São Paulo ao redor de R$ 93,00; no Mato Grosso do Sul, Dourados a R$ 87,00 (Base –6,5%) e em Campo Grande ao redor de R$ 87,00 (Base –6,5%).

A arroba em Goiânia foi cotada ao redor de R$ 84,00 (Base –9,7%). Em Cuiabá está em R$ 84,00 (Base –9,7%).

No sul do Tocantins a arroba foi cotada em R$ 84,00 (Base –9,7%). No Triângulo Mineiro ao redor de R$ 87,00 (Base –6,5%).

1 Considerando os valores nominais dos indicadores da ESALQ/BVMF.
2 e 3 Somatória com Juros Simples.
4 Fonte completa dos preços da arroba nos frigoríficos à vista e livre do Funrural: Informativo Boi na Linha, da Scot Consultoria.


CONCLUSÃO: Mercado fechou a semana em leve alta, rompendo a sequência de oito semanas consecutivas dos preços da arroba em queda. As escalas ainda continuam longas.

O bezerro fechou em alta.

Até mais,

Rogério Goulart

FONTE: BIGMA CONSULTORIA

Nenhum comentário: