quarta-feira, 19 de setembro de 2012

US$ 4 bilhões pelo ralo


Agro continua sofrendo com a deficiente infraestrutura logística; porto é o maior gargalo

O agro brasileiro sofre um prejuízo anual de aproximadamente US$ 4 bilhões devido à deficiente infraestrutura logística. No total, o País, que investe apenas 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) na área, perde cerca de US$ 80 bi. Diante deste crônico cenário, dirigentes do setor, produtores, consultores, traders e executivos da agroindústria discutiram nessa terça-feira (18), em evento na capital paulista, desafios e soluções relacionadas ao transporte, armazenagem e escoamento da produção agropecuária.

O principal diagnóstico apresentado foi que enquanto o agro se expandiu e continua avançando no Centro-Oeste, especialmente no norte do Mato Grosso, Goiás, sul do Pará, e em novas fronteiras, como, por exemplo, o Mapitoba (Maranhão, Piauí, Tocantins e oeste da Bahia), a infraestrutura logística nestas regiões patina, e muito. “O grande celeiro de grãos hoje fica nestas regiões, mas a maior parcela da produção ainda é escoada pelo Sul”, disse Rodrigo Arnús Koelle, gerente nacional de logística da Cargill, um dos participantes do seminário “Caminhos da Safra”, promovido pela revista “Globo Rural”.
Segundo Luiz Antônio Fayet, consultor de logística da CNA, a produção do “Arco Norte” que foi escoada pela região Sul saltou de 32 milhões de toneladas de grãos em 2009 para 45 milhões de toneladas no ano passado. Citando dados da Anec, Fayet pontuou que os custos logísticos no Brasil são quatro vezes mais caros do que os praticados na Argentina e Estados Unidos, dois dos nossos principais concorrentes.

Luiz Carlos Corrêa Carvalho (Caio), presidente da Abag, acentuou a relevância do tema ao ressaltar que “a coisa é tão séria, que está fazendo com que outros países [sem citar nomes], que até bem pouco tempo não eram considerados concorrentes, passem a nos ameaçar, em razão, dos problemas logísticos que temos”. A expectativa, afirmou o dirigente, é que o pacote de investimentos em infraestrutura logística, anunciado recentemente pelo governo federal, saia do papel. “Mas aprendi a ser São Tomé nestes casos.”

Obras

Segundo relatos de Edeon Vaz Pereira, diretor executivo do Movimento Pró-Logística do Mato Grosso (MT), algumas [importantes] obras estão sendo tocadas no Estado, a fim de mudar o eixo do escoamento da produção, destinada à exportação, dos terminais portuários do Sul (Santos e Paranaguá) para os portos do Norte do País (Itaqui no Maranhão, Santarém e Miritituba, ambos no Pará, por exemplo).

Entre elas, destacam-se obras nas BRs 163 (Cuiabá-Santarém), 158 (que corta todo o MT), 242 (que ligará ambas as BRs), a Ferrovia de Integração Centro-Oeste e a hidrovia Teles-Pires. “Estas obras estão caminhando”, disse, destacando também os arranjos que estão sendo feitos para melhorar a integração entre os diversos modais. “O Estado do Mato Grosso que tem hoje a pior logística do País será outro em quatro, cinco anos”, salientou.

“Deveremos começar a ter melhorias no escoamento da safra 2013/14.” No entanto, Edeon ressaltou que problemas relacionados à elaboração de projetos, marcos regulatórios (que fazem o frete ferroviário ficar mais caro do que o rodoviário), licenças ambientais e trechos de rodovias que precisam ser refeitos, acarretam em atrasos e até interrupções das obras.

“Decisões relativas a licenças ambientais são pautadas por ideologia em alguns casos”, sublinhou Caio. Na opinião de Edeon, outro grave problema, que não está merecendo a atenção devida, é a armazenagem. “Nossa capacidade de armazenamento é muito baixa, de apenas 60% da safra.”

Portos 
Mas para Fayet, de nada adiantam investimentos em estradas, ferrovias e hidrovias se não for resolvido, segundo ele, o grande gargalo logístico do País. “Há um apagão dos portos, e isso não está sendo atacado pelo governo”, disse, acrescentando que “de um jeito ou de outro transportamos as cargas até os terminais, mas sem portos não dá”. Koelle da Cargill endossou ao dizer que “se você trava o porto, trava toda a cadeia produtiva para trás”.

Fayet apresentou números que demonstram a ineficiência da infraestrutura dos terminais portuários. De acordo com o consultor da CNA, dois dos principais, senão os principais portos do País, Santos e Paranaguá tinham somados, recentemente, uma fila de 120 navios aguardando para atracar. O prejuízo, ressaltou, com o demurrage (multa diária de demora) para o importador e exportador por estes navios estarem parados beirava os US$ 5 milhões por dia.

Na avaliação de Fayet, o Brasil precisa também solucionar impasses na legislação que atravancam o transporte de cabotagem (pelo litoral ou por vias fluviais dentro do País). Segundo ele, o paradoxo de custos logísticos do País cria situações como valores de frete idênticos de Paranaguá para Recife e para Xangai (China). Para o consultor da CNA, uma saída para os portos são as parcerias público-privadas.

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