quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Abate de fêmeas atual ainda não influencia o preço do boi gordo


Por Rogério Goulart, editor da Carta Pecuária.
Para explorar  oferta de gado, podemos observar as as escalas médias de abate no estado de São Paulo (Gráfico 01). Repare que saímos de dois dias para quatro dias e agora para seis dias de bois comprados quando comparamos o mesmo período de cada ano. Isso é uma maior oferta de gado para a praça paulista, que gera o indicador Esalq/BM&FBovespa, no qual os contratos da bolsa têm como guia.
Essa oferta também é identificada no acompanhamento dos dados do SIF, ilustrado no Gráfico 02. Tivemos um segundo semestre de 2012 com abates em alta em relação à 2011, e agora no início de 2013 o abate também está em alta leve.
No Gráfico 03, os dados do IBGE também indicam que o abate brasileiro está subindo, fêmeas até mais que os machos. Até aqui não é novidade para ninguém. A novidade é esse abate no geral maior não ter produzido ainda uma variação anual de abate de fêmeas superior a 10% de um ano inteiro  para o ano inteiro imediatamente anterior.
Repare no Gráfico 03 e você verá que somente acima de 10% de variação anual nos abates das fêmeas é que realmente essa categoria passa a influenciar negativamente o preço da arroba do boi gordo, caro leitor. Nós não estamos vendo os abates de fêmeas acima de 10% desde 2006.
Deixe-me explicar isso de forma mais clara. O abate de fêmea está subindo, porém não tanto assim para influenciar os preços dos machos. Isso deve mudar nos próximos trimestres. É um acompanhamento em aberto, pois é o ciclo pecuário em ação. Há muita informação desencontrada sobre os efeitos do abate de fêmeas no mercado de curto prazo.
Os efeitos para o curto prazo são praticamente nulos, como mostrado no gráfico acima. O posicionamento do empresário, por outro lado, em como aproveitar beneficamente o excesso de fêmeas para sua fazenda, para seu plantel de cria ou para seu frigorífico no decorrer dos anos é o que conta.
Vemos também esse negócio de oferta de fêmeas para abate olhando no desconto da arroba da fêmea em relação ao macho. Se a oferta dessa categoria estiver muito acima do normal, o desconto é grande, e estamos falando aqui de descontos acima de 10%.
O que vemos no gráfico 04 são descontos ainda bons, caminhando para romper 10% de deságio nos preços lentamente. Ainda não chegamos lá, assim como o abate de fêmeas ainda não mexeu amplamente com o mercado.
Por fim, a atualização da participação estadual no abate brasileiro confirma o que já temos visto nos últimos trimestres. O estado de Mato Grosso é hoje responsável por 1 a cada 5 animais abatidos no Brasil. Em resumo, na oferta, a palavra-chave é “aos poucos”. O abate de fêmeas aos poucos está aumentando, assim como o abate de machos. O desconto da arroba da vaca aos poucos está cedendo, mas daí a dizer que está fora de contexto é esticar demais o argumento.
Se o mercado consumidor dar um salto ou se o dólar der uma mexida ou se as exportações vierem mais fortes, a oferta, dentro desse quadro atual, quero dizer, se tivermos qualquer motivo para aumento da demanda essa oferta do jeito que está ficará aquém da necessidade, a meu ver. Não está bolinho não. Se a demanda aumentar, faltarão animais para atendê-la.
*Trecho adaptado da Carta Pecuária Trimestral (Edição 23 – 26/fev/13)


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