quinta-feira, 7 de março de 2013

Valorização da carne será obra de todos os atores


Crédito: Robispierre Giuliani
por Anna Isabel Caputti Pereira Suñé
Coordenadora da Câmara Setorial da Carne

O Rio Grande do Sul tem uma história peculiar na criação de gado, que se confunde com a história do Brasil, trajetória que forjou um homem, seus hábitos e costumes e que fez do churrasco um “cidadão do mundo”. Temos diferenciais de ambiente, de sistemas de produção, de raça. Por estas e outras razões que a nossa carne está entre as melhores do mundo. Mas, sabemos também, que até hoje somente algumas iniciativas isoladas agregaram valor ao produto diferenciado e que até agora não conseguimos ser competitivos de forma global.
Existem várias razões para isso. Talvez a resposta esteja na dificuldade que temos de atuar em modelos de participação coletiva, o que exige um comportamento óbvio de desapego de interesses próprios em prol dos interesses mútuos, focado nos pontos de convergência e não na defesa de argumentos individuais, o que demanda paciência e determinação, pois os processos neste modelo são naturalmente mais lentos.
As políticas públicas construídas com a participação da sociedade são exemplos de sucesso e êxito no desenvolvimento de países de estrutura organizada e evoluídos. É lógico que programas alicerçados em conceitos reais, oriundos das vivências e experiências genuínas das bases, do conhecimento técnico com enfoque no diálogo dos setores envolvidos, além do fundamental alinhamento das diferenças e conflitos intrínsecos a qualquer cadeia produtiva, tendem a ser duradouros. Responsabilidades são compartilhadas e cria-se o entendimento de que, para atingirmos o tão almejado desenvolvimento, necessitamos trabalhar para isso, convergirmos forças e desempenharmos as atividades cada um no seu papel em torno de um objetivo que é de todos, que é público.
Esta diretriz orientou a discussão em torno do desenvolvimento da pecuária de corte no Estado, a partir do fórum de diálogo criado com a retomada da Câmara Setorial da Carne. Em quase dois anos, percorremos trajetória consistente, embasada na definição das metas, busca de recursos, articulação política com as instituições que nos chancelam enquanto Estado e na busca de modelos exitosos no mundo para práticas que nos conduzam a um desempenho superior.
O diálogo iniciado e o tremendo esforço de colaboradores de grande renome nacional e internacional, em torno da mesa posta pela Secretaria da Agricultura, garantiram a construção de sólidos projetos para a carne gaúcha. O Programa de Valorização da Carne Gaúcha tem um pilar central que é a sanidade, e neste sentido caminhamos para a identificação individual do rebanho gaúcho. Estamos reforçando a base de dados do Sistema de Defesa Agropecuária e iniciamos o processo de descentralização através do Produtor Online, que prevê o acesso ao sistema pelo produtor, em uma lógica de inclusão digital rural. Com cautela e firmeza harmonizamos estes conceitos junto à Comissão Europeia, onde nos foi apresentada a “nova” política de segurança alimentar, a partir da modernização do serviço civil que contempla a descentralização baseada nos princípios de transparência, profissionalismo e integridade, bem como na clareza da definição das responsabilidades políticas. Não há como dissociar o desenvolvimento do setor produtivo, das garantias sanitárias oferecidas, da capacidade ágil de resposta, inocuidade dos alimentos e o foco no consumidor.
Simultaneamente ao cumprimento das premissas sanitárias, buscamos a qualificação da produção, focada no aumento da natalidade e redução da idade do abate em cima de pressupostos relacionados ao melhor aproveitamento dos ecossistemas gaúchos e também da qualificação da informação que diz respeito a toda cadeia produtiva. Avançamos na proposta da criação do Instituto Gaúcho da Carne, de formatação privada como o melhor arranjo institucional para execução do projeto de assistência técnica, matriz de informações e promoção comercial. E confirmamos este excelente modelo executivo quando fomos ao INAC (Instituto da Carne do Uruguai) e MLA (Instituto da Carne da Austrália) que elevam seu produto ao mais alto patamar, a partir de uma visão de futuro e participação crítica e criativa.o
Agora, discutimos detalhes finais da composição do Fundo que dará sustentação financeira ao Instituto, oxigênio para as iniciativas propostas. Imediatamente, somos desafiados enquanto cadeia produtiva a continuar neste rumo, não somente no campo das ideias, mas na execução compartilhada. A mesa foi posta, mas os movimentos serão animados pelos atores que fazem parte desta história. Quem sabe um dia alcançaremos a postura dos australianos que tratam a carne como “bem público global” independente de fronteiras, em um exemplo de maturidade e desprendimento. Da larga experiência em modelos construídos pela sociedade, nos apresentaram com total transparência suas iniciativas e mesmo diante do maior exportador do mundo, pediram convergência na promoção da carne bovina e no desenvolvimento da pecuária, pois os maiores concorrentes que juntos temos são as outras cadeias produtivas. Prerrogativas de um país que sabe agregar valor, de excelência sanitária e que se consolida como líder mundial no mercado da carne

Fonte: Folha do Sul

Nenhum comentário: