Grandes frigoríficos reconhecem o aumento significativo durante a Copa do Mundo
A seleção brasileira pode até se despedir precocemente da Copa do Mundo amanhã, mas frigoríficos, supermercados e churrascarias já têm motivos para comemorar. Quando o juiz autorizar o início da partida contra o Chile, em confronto válido pelas oitavas-de-final, muitos brasileiros – e também estrangeiros – acompanharão a disputa com apreensão, mas também com muita cerveja e carne à mesa.
Ainda que não seja um movimento capaz de alterar a tendência estrutural de consumo de carne bovina no Brasil e provocar uma disparada nos preços, a Copa do Mundo estimulou de maneira significativa a demanda por carne bovina, reconhecem grandes frigoríficos consultados pelo Valor.
O saldo do torneio realizado pela Fifa também é positivo para as redes varejistas e churrascarias que trabalham com sistema de rodízio. Mas há também aqueles que se queixam, especialmente pelo menor movimento nos restaurantes do país durante os frequentes feriados.
“Houve uma melhora muito significativa nas vendas de carne bovina nas cidades-sede”, afirma o gerente-executivo de inteligência de mercado da Minerva Foods – terceira maior produtora de carne bovina do Brasil -, Leonardo Alencar.
De acordo com Alencar, as vendas de carne bovina a partir dos centros de distribuição que a Minerva tem em São Paulo e Belo Horizonte, cidades-sede da Copa do Mundo, cresceram “bastante” a ponto de “corrigir” a sazonalidade das vendas de carne bovina em junho, mais baixa.
“Historicamente, o consumo interno de carne bovina começa a melhorar em julho. Neste ano, corrigiu o período de consumo positivo para junho”, diz Alencar. Segundo ele, o atual período de Copa do Mundo fez com a empresa tivesse mais “quatro Dia das Mães” sob a ótica da demanda por carne bovina. Tradicionalmente, o Dia das Mães é o segundo principal de maior consumo de carne bovina do Brasil, atrás das festas de fim de ano, afirma Alencar. Ele afirma, ainda, não ter como “mensurar” o volume vendido no período.
Para a Marfrig (São Paulo/SP), segundo maior frigorífico brasileiro e patrocinadora da Copa do Mundo, o torneio também tem efeitos positivos, ainda que de maneira localizada. “Houve um aumento grande na demanda de carnes para o segmento de food service [alimentação fora do lar], principalmente das churrascarias”, afirma Rodrigo Vassimon, diretor comercial da divisão Marfrig Beef.
No varejo, diz ele, também houve uma evolução nas vendas de cortes de carne bovina para churrasco – picanha, contrafilé, maminha, entre outros. A avaliação é corroborada pela rede varejista Walmart. Segundo a companhia, as vendas dos cortes para churrasco da companhia cresceram 20% em junho, ante o mesmo período de 2013. Em véspera de jogos do Brasil, o efeito é ainda mais notável, e as vendas crescem 50%, de acordo com o Walmart. Amanhã, esse efeito deve ficar ainda mais claro. Será o primeiro jogo da seleção brasileira em um fim de semana.
Na rede de churrascarias Fogo de Chão, o entusiasmo é quase que incontido. “A Copa está sendo muito benéfica para o Fogo de Chão”, diz o presidente de operações da rede no Brasil, Jandir Dalberto, que também salienta o alto consumo de bebida alcóolica. A rede tem nove lojas no país, todas em cidades-sede – cinco em São Paulo, e uma nas cidades do Rio de Janeiro, em Brasília, Salvador e Belo Horizonte.
O presidente do Fogo de Chão diz que as vendas aumentaram, em média, 40% nas lojas da rede em São Paulo e mais de 60% nas outras lojas. “No dia anterior e no dia posterior de jogos, o aumento chega a dar 70%”, ressalta ele, que acrescenta ter se antecipado a forte demanda. Segundo Dalberto, a empresa firmou, em maio, um contrato de fornecimento de 350 toneladas de carne bovina para os meses de junho e junho. Normalmente, a empresa compraria 320 toneladas de carne.
O consumo peculiar de alguns estrangeiros também “impressionou” o Fogo de Chão. Na já célebre partida em que a Alemanha goleou o seleção portuguesa do melhor do mundo Cristiano Ronaldo, em Salvador, “o consumo de carne de porco foi coisa fora do normal”, diz Dalberto. Ele também destaca a predileção dos colombianos pela carne de frango. No último fim de semana, os jogadores da seleção da Colômbia comemoraram a conquista da vaga nas oitavas-de-final em um restaurante da rede em São Paulo.
De certa forma, o entusiasmo do Fogo de Chão, que atua no sistema de rodízio, contrasta com as avaliações de empresários ligados a restaurantes com serviço à la carte. De acordo com o presidente da Associação Nacional de Restaurantes, Cristiano Melles, muitos jogos ocorrem exatamente na hora do almoço, o que reduz a demanda.
“Tem incremento nos bares e o churrasco em casa deve ter aumentado, mas o movimento é menor nos restaurantes”, diz. A mesma avaliação é compartilhada por Belarmino Iglesias, presidente do conselho de administração da rede de restaurantes Rubayat. “O que notamos é o pico de consumo está concentrado, mas não houve aumento de demanda por causa da quantidade de feriados”, diz ele.
Entre os analistas do setor de carnes, também há alguma cautela, ainda que o preço médio da carne bovina tenha aumentado 2% em junho, segundo levantamento do Cepea (Piracicaba/SP). De acordo com o analista César Castro Alves, da consultoria MB Agro, o preço não subiu além do que era esperado.
Ele pondera que não é possível dizer que a Copa foi responsável pelo pequeno aumento do preço da carne bovina, uma vez que as exportações brasileiras, que representam cerca de 25% de produção nacional de carne bovina, seguem aquecidas. Já José Vicente Ferraz, da Informa FNP, diz que ainda que haja aumento nas vendas nesta época, é preciso observar que o efeito no volume total consumido no país é pequeno.
Mas analistas também reconhecem que essa demanda provocada pela Copa do Mundo tem pontos favoráveis, uma vez que a oferta de gado bovino é elevada, um fator de pressão sobre as cotações. No entanto, o que se viu recentemente foi um aumento, ainda que moderado, do preço da carne bovina.
Fonte: Valor Econômico, adaptado pela equipe feed&food.
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