O Paraná pode ser considerado oficialmente área livre de febre aftosa sem vacinação. O reconhecimento foi feito pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, durante seminário da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), em Curitiba. O anúncio foi do secretário nacional de Defesa Agropecuária, Inácio Kroetz. Com o status o estado deve suspender, ainda este ano as campanhas de vacinação contra a doença. O Presidente da Federação, Ágide Meneguetti, afirmou que este é um dia histórico para a pecuária. “Começamos agora um processo para manter o Estado livre de aftosa sem vacinação. Isso significa a abertura de novas fronteiras no mercado internacional, mas significa também maior responsabilidade”, afirma.
A ampliação dos mercados internacionais consumidores da carne paranaense também foi discutida por Antonio Jorge Camadeli, representante da JBS Carne Bovina. Camadeli também criticou a política adotada pelo Itamaraty. “O Brasil está presente em apenas 60% dos mercados potenciais. Isso é um pouco por timidez diplomática, um próprio viés do Itamaraty que não luta mais pelos pecuaristas. Agora este status de área livre de aftosa que o Paraná está conseguindo é uma condição importante que vai seguramente garantir o acesso a estes mercados ainda fechados para o Estado”, explica.
Até o momento, o único estado que conseguiu aprovação, inclusive internacional, foi Santa Catarina. Durante o evento, o estado foi usado para exemplificar as vantagens que podem ser obtidas com a conquista. “Antes, Santa Catarina vendia para 23 países, hoje são 34. Mas lá, eles não tem tradição exportadora de carne como o Paraná. Apesar disso, o preço médio do corte aumentou. Imagine aqui, que temos toda a estrutura como isso pode ser ainda maior”, exemplifica Camadeli. Outra vantagem que o representante da JBS elencou é que com a ampliação dos mercados, é resolvida uma equação de desperdícios. Segundo ele, aqui no país são consumidos três cortes traseiros para cada dianteiro. Com isso, sobra acarretando em perdas. “A ampliação dos mercados pode solucionar esse problema. Muitos países que ainda estão fechados para a carne paranaense consomem justamente estes cortes, além de que remunera mais. É a conquista de um nicho importante de mercado”, completa.
Mercado Suíno
Elias Idequi, diretor da Frimesa falou sobre a situação do mercado do suíno. O Paraná participa com apenas 1,5% das vendais globais da carne. Idequi mostrou durante o evento que o potencial do estado pode chegar a 14,5% desse mercado. “Ainda podemos crescer muito mais. Entre as principais barreiras, a primeira é a Sanitária. Dentro da questão sanitária, a que mais preocupa é a febre aftosa, daí a importância deste status”, relata. O diretor ainda brincou lembrando que a carne suína ainda sofre grandes preconceitos injustificados. “Isso que faço agora é um desabafo do suíno. A febre aftosa que prejudica nossas vendas vem do boi. A gripe suína, não tem nada de suína foi só um apelido que inventaram. A própria mídia suja a imagem dizendo que faz mal a saúde. As economias quebradas são chamadas de PIG’s [porcos]. Acreditem, ainda sim, é a mais produzida e consumida no mundo. Nos ajudem a atingir esse status de livre de aftosa. Com isso inauguraremos nova fase para a cadeia. O importante são as atitudes de cada agente para elevar a economia”, finaliza.
O papel dos agentes da cadeia foi lembrado pelo presidente da Faep durante a abertura do seminário. “Responsabilidade não é apenas do Governo, tanto federal, estadual como municipal. Ele deve manter e aprimorar um sistema de defesa sanitária eficiente e que tenha credibilidade internacional para que os produtos possam alcançar status de alimentos seguros em qualquer parte do mundo. Porém a responsabilidade também é do setor privado, sem cuja participação ativa os procedimentos de manutenção da sanidade acabam sendo ineficientes e podendo chegar a desastres”, explica Meneguetti.
Conselhos de Sanidade Agropecuária
Segundo ele, duas medidas aprendidas com o mercado mundial foram decisivas para que o Paraná fosse reconhecido como livre de aftosa e, agora, possa pleitear o status de livre sem vacinação. “A criação de um fundo de defesa agropecuária. Este fundo deu a garantia ao produtor de que, em caso de surto de aftosa, os proprietários de animais sacrificados seriam indenizados. A ocorrência do surto de 2005 mostrou como o Fundo de Defesa é importante para que as decisões sejam tomadas com confiança pelo mercado. A mais importante foi a criação dos Conselhos Municipais e Intermunicipais de Sanidade Agropecuária – os CSA’s, reunindo a iniciativa privada ao Governo nas ações de conscientização e defesa”, diz.
A ampliação dos conselhos também foi lembrada por Silmar Bürer, diretor da Secretaria de Estado da Agricultura, como uma das medidas adotadas para o controle da aftosa sem vacinação. “O MAPA faz várias exigências e todas foram tomadas. Ausência de focos e circulação viral por dois anos. Um sistema de vigilância adequado. A melhoria do serviço veterinário oficial e a ampliação dos conselhos sanitários”, elenca Bürer. Recentemente foi empossada a diretoria do Conselho de Sanidade Agropecuária de Campo Mourão. A presidência ficou com Jaciane Beal Klank e o diretor executivo é Getúlio Ferrari Júnior. Assim como a cidade, todos os municípios da região estão formando os conselhos.
Apesar das medidas de segurança não foi descartada a possibilidade de algum foco. “Não existe risco zero, nem nunca vai existir. Agora o que vai fazer a diferença, o que sempre faz a diferença é o pronto atendimento. Nós temos um plano de ação preparado para o surgimento de algum problema. Inclusive com um fundo de 28 milhões para indenizações e 8 milhões para o repasse a pecuaristas. A notificação é imediata, estamos preparados.
A medida terá impacto a partir do segundo semestre, quando o estado substituirá as campanhas de vacinação contra aftosa com um eficiente serviço de vigilância. Também haverá restrições para o trânsito e importações de animais oriundos de outros estados que também são áreas livres de febre aftosa, mas que ainda tenha vacinação.
Ocorrência
O último registro da doença no estado aconteceu em 2005, depois de confirmados casos em animais de fazendas do Mato Grosso do Sul, vizinhas ao Paraguai e separadas do Paraná pelo Rio Paraná. Meneguetti lembrou que este interesse é mais do que um simples interesse econômico. “Tem interesse social pelos milhares de empregos que são comprometidos sempre que algo de ruim acontece. Lembre-se do que aconteceu conosco há alguns anos. As portas do mercado se fecharam. Os preços de bois e suínos despencaram.
Os municípios que dependiam substancialmente da renda da pecuária, tiveram problemas. Não apenas os pecuaristas, suinocultores, leiteiros tiveram prejuízos. Os prejuízos alcançaram as indústrias, o comércio, os trabalhadores, a própria arrecadação dos tributos. Não foi apenas o setor que perdeu. Todos perdemos”, afirma o presidente da Faep. Segundo ele agora, há uma oportunidade para que todos ganhem. Obter o status de área livre de febre aftosa sem vacinação significa um salto na posição no mercado. O secretário de Agricultura do Estado do Paraná, Valter Bianchini comentou que o MAPA conhece os procedimentos adotados pelo estado e confia no sucesso da empreitada. “Acreditamos no sucesso da decisão e vamos aumentar as exportações, com toda a certeza. A vacinação será substituída por um sistema de vigilância e controle de trânsito de animais”, completa.
Estratégia
Há um ano, a secretaria mudou a estratégia da vacinação, reduzindo as doses de duas para uma em animais com mais de 24 meses de idade. A vacinação ainda acontecerá no mês de maio. O próximo passo é buscar o reconhecimento da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).
FONTE: TRIBUNA DO INTERIOR / Por Ana Carla Poliseli
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