O mercado de reposição está firme ou porque houve uma diminuição da produção, por causa da redução do rebanho de matrizes ou porque a procura aumentou demais. Essa retração do rebanho de fêmeas aconteceu em função do abate indiscriminado de fêmeas para fazer caixa há três, quatro anos.
A Scot Consultoria realizou recentemente um estudo dos efeitos do abate de fêmeas na evolução do rebanho brasileiro. O resultado foi que, para manter o tamanho do rebanho estável, o abate de fêmeas não pode ter participação maior que 42%. Participação maior implica em retração do rebanho e menor em recomposição do rebanho.
Analisando o comportamento dos abates de bovinos nos últimos anos, é possível supor que o rebanho brasileiro começou a se recuperar (ou pelo menos começou a se estabilizar) em 2008. Nesse ano a participação de fêmeas no abate caiu pela segunda vez consecutiva (Figura 1).
Com isso, esperava-se que oferta de bezerros aumentasse. No entanto, os preços firmes da desmama em todo o país indicam que se a produção cresceu a partir de 2008, a demanda também cresceu, mantendo o mercado firme.
Veja na figura 2 a relação entre o preço do bezerro e a participação das fêmeas nos abates (média anual).
Na figura 2, foi utilizada a média anual do abate de fêmeas com o intuito de minimizar o impacto do descarte natural de matrizes que ocorre geralmente no primeiro trimestre de cada ano.
Observe que quando a participação de fêmeas no abate está alta os preços do bezerro estão baixos. E, através do gráfico é possível perceber que os preços dos bezerros melhoraram somente depois de três anos de abate exacerbado de fêmeas, quando o mercado sentiu de fato a falta de animais para repor.
É possível supor que a oferta de bezerros aumente antes que as demais categorias de animais para reposição e que talvez o preço do bezerro ceda primeiro.
Analisamos o mercado pecuário no Pará, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Bahia, regiões de cria e onde teoricamente a oferta de bezerros é maior.
Nas demais regiões brasileiras também existe oferta de bezerros, mas em menor proporção.
Na figura 3 estão dispostos os dados da participação de fêmeas no abate de bovinos nestes estados. O quadro vermelho no nível superior da figura define os períodos em que os abates de fêmeas ultrapassaram 42%, quando o rebanho se retraiu. O quadro azul demarca os períodos em que o rebanho tenderia à estabilidade ou ao crescimento.
É possível supor que há maior disponibilidade de bezerros na Bahia, onde a participação de fêmeas no abate não ultrapassou 37% nos últimos anos. É importante destacar que esse estudo considerou a oferta global, sem considerar a qualidade dos animais, a facilidade nas compras, entre outros fatores.
Seguindo o mesmo raciocínio, o maior impacto negativo na produção de bezerros ocorreu no Mato Grosso do Sul. Neste estado, a participação das fêmeas no abate ficou acima de 42% por seis anos (entre 2003 e 2008).
Depois do Mato Grosso do Sul, outro grande impacto negativo foi sentido no Tocantins. De 2005 a 2008 os abates de fêmeas ficaram acima do limite, afetando fortemente a oferta de bezerros.
Já no Pará e no Mato Grosso, foram três anos de abate intenso de vacas, diminuindo a oferta de bezerros provavelmente de maneira menos significativa do que nas regiões citadas anteriormente.
Os preços dos bezerros servem de parâmetro para mensurar o impacto do abate de matrizes. No entanto, com o mercado pouco ofertado, os compradores aumentaram o raio de negócios e mesmo em regiões onde a oferta estava um pouco maior, os preços subiram com o aumento da procura. Observe na tabela 1 as variações nos preços dos bezerros de janeiro de 2006 a setembro de 2008.
Exceto pela Bahia, onde o aumento dos preços foi significativamente menor, nos outros estados as variações foram extraordinárias. Os compradores ampliaram o raio de atuação e mesmo nos estados onde o impacto do abate de fêmeas foi menos intenso, os preços subiram acompanhando o aumento da demanda.
Ainda comparando somente a oferta, sem considerar as alterações na demanda, é possível esperar que esta aumente primeiramente na Bahia e no Mato Grosso.
Na Bahia, a participação de fêmeas no abate não foi exagerada e, teoricamente, não houve redução da oferta de bezerros. Na Bahia o preço subiu em função da demanda.
No Mato Grosso, desde 2007 o abate de fêmeas está aquém dos 42%. Extrapolando o raciocínio: em 2007 as fêmeas foram mantidas em reprodução. Estas fêmeas produziram bezerros em 2008 e novas vacas foram incorporadas ao rebanho para reprodução, produzindo mais bezerros em 2009 e o mesmo ocorreu em 2009. Portanto, é de se esperar maior oferta de bezerros em 2010 e nos anos seguintes.
As situações mais graves em termos de oferta de bezerros são observadas no Mato Grosso do Sul, Pará e no Tocantins. Somente em 2009 o abate de fêmeas caiu a ponto de ampliar a oferta de bezerros nestes estados. Portanto, temos apenas um ano de retomada da produção de bezerros, o que deve manter os preços firmes nestas regiões por pelo menos dois anos. Veja na figura 4 a variação nos preços dos bezerros de janeiro de 2009 a abril de 2010.
É preciso considerar que a oferta e a demanda não estão restritas a uma região específica. E o comportamento do mercado em um estado repercute nas outras regiões.
Estruturar ações para identificar regiões com oferta maior de bezerros nos próximos anos é uma medida interessante. Decidir o que fazer rapidamente também, pois o mercado está cada vez mais capilarizado e as oportunidades não duram muito.
FONTE: SCOT CONSULTORIA
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