Entenda como funciona a ferramenta eletrônica criada pela Bolsa Brasileira de Mercadorias e como ela pode melhorar o relacionamento entre pecuaristas e frigoríficos
Uma nova ferramenta eletrônica criada pela Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM) - braço da BM&FBovespa - promete melhorar a tumultuada relação entre pecuaristas e frigoríficos em todo o Brasil. Lançado há cerca de um mês, o ''Leilão Eletrônico de Compra e Venda de Carne Bovina'' visa atenuar as falhas naturais do processo de comercialização de bovinos antes do abate.
Entretanto, a desconfiança dos produtores em participar do ambiente da Bolsa de Valores ainda gera dúvidas se o sistema vai ou não se consolidar no País. A FOLHA consultou alguns especialistas de corretoras da Bolsa para esclarecer como funciona esta nova ferramenta e se ela realmente pode beneficiar tanto quem vende como quem compra os animais.
Gustavo Molina é sócio-gerente da Tor Investimentos, corretora responsável em realizar a primeira negociação de um lote de animais vivos no novo ambiente da BBM. O empresário explica como funciona o processo. ''Podem participar pecuaristas e frigoríficos interessados em vender bois prontos para abate, com peso entre 15 e 23 arrobas. Para isso, eles devem entrar em contato com corretoras cadastrados. Depois, a oferta do produtor (vendedor) é colocada no sistema de leilão da Bolsa''.
O interessante da ferramenta é a sua forma de liquidação. O frigorífico que der o maior lance tem até as 17 horas do mesmo dia para fechar a data de embarque dos animais, com um prazo que não pode ultrapassar dez dias. Para retirar os animais da fazenda é preciso fazer um pré-depósito ''Ele deve depositar 90% do valor estipulado na conta de liquidação da BBM. Daí, o pecuarista é avisado que a negociação foi efetuada e o frigorífico tem três dias úteis para retirar os animais'', relata Molina. Os outros 10% são considerados no ajuste de distorção do lote, que pode estar mais pesado ou leve do que o estabelecido pelo pecuarista.
Caso alguma das partes não cumpra o acordo estabelecido pela Bolsa Brasileira de Mercadorias, uma Câmara de Arbitragem intervém no negócio: ''Se alguém não cumprir com o determinado, a BBM aplicará uma multa de 10% do valor da negociação'', retrata Molina.
Para o diretor de agropecuária da FNP Consultoria, José Vicente Ferraz, este mecanismo de mercado criado pela BM&F é altamente positivo para o setor. ''A ferramenta eletrônica traz algumas respostas aos problemas de comercialização tradicionais que envolvem pecuaristas e frigoríficos, como fraudes de peso nos lotes e inadimplência. Com isso, é possível melhorar o relacionamento de quem participa dos negócios neste segmento'', comenta o especialista.
Porém, o diretor ressalta que o leilão eletrônico de gado vivo só terá sucesso com a adesão dos pecuaristas, e para isso é preciso passar informação a eles. ''O produtor ainda tem um grande temor em participar da Bolsa de Valores. Isso acontece graças ao desconhecimento de como ela funciona. O que o pecuarista não percebe é que no mercado tradicional ele corre riscos imensos, e com esta ferramenta, ele acaba transferindo todo o risco para a BBM''
Fonte: Folha de Londrina
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