quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Boi sobe de escada e desce de elevador

A frase do título é antiga e muito conhecida de todos que operam ou trabalham no mercado do boi gordo. Historicamente o ritmo da alta é bem mais lento e comedido do que a força da queda. É só lembrar 2008, quando o boi subiu de maneira ininterrupta de janeiro a julho, com força ainda maior na BM&F, onde ultrapassou R$102,00/@, mas perdeu R$10,00/@ em pouco mais de uma semana.
Interessante que este ano pode-se dizer que o boi subiu de elevador, mas hoje resolveu fazer bungee jump na BM&F. De janeiro a novembro o indicador Esalq subiu quase R$40,00/@, principalmente pela redução na oferta de gado terminado, mas também pela melhora nas exportações e consumo interno firme. O ritmo acelerado de alta observado para o boi gordo foi acompanhado de perto pela carne bovina. No mesmo período a carne acumulou alta de 49,4%, enquanto o boi subiu 52,4%.
Até outubro a variação era ainda mais próxima, com alta de 33,9% e 32,9%, respectivamente, para carne e boi, mas no começo de novembro houve um descolamento. A diferença média entre a @ da carne (traseiro + dianteiro + ponta de agulha) e o boi gordo ficou em 6,1% entre janeiro e outubro, mas está ao redor de 8,4% agora em novembro. É um sinal amarelo, de cuidado. Talvez o receio de que o varejo não consiga mais absorver as altas na carne esteja se tornando realidade, sobretudo porque estamos próximos da 2ª quinzena do mês, quando o consumo é tradicionalmente mais fraco.
Entretanto, esse movimento parece ser pontual, por isso o bungee jump e não um tobogã, por exemplo. A oferta de gado para abate segue restrita, com alguns dias de maior volume de negócios, mas com escalas ainda curtas e ociosidade elevada. Do lado da demanda o cenário é positivo à frente, em especial para dezembro, quando além do pagamento do salário e 13º, ainda têm inúmeras comemorações e festividades de final de ano que aquecem as vendas.
O efeito do La Niña ainda está presente no mercado também. Apesar da melhora na pluviosidade, o volume e a distribuição foram erráticos e a perspectiva é de chegada da safra de bois de pasto apenas em 2011. Soma-se a isso o abate de animais mais leves, resultado da pressão de compra dos frigoríficos e pecuaristas aproveitando a melhora na relação de troca para antecipar a venda dos bois gordos, o que pode afetar a oferta esperada de janeiro em diante.
Um ponto de cautela é o aumento de volatilidade no mercado, ou seja, o nível de estresse atual. Historicamente a volatilidade do boi gira em torno de 15%, mas está na faixa de 20% atualmente. Com isso a compra de put (seguro de venda) para 2011 para garantir os preços atuais ficou mais cara, mas ainda assim, interessante. Outra oportunidade é a trava do preço de compra no milho para 2011 também, uma vez que o cenário de médio prazo é altista para o grão e o spread (diferença) entre boi e milho está próximo à máxima histórica.

FONTE: www.agroblog.com.br / autor LEONARDO ALENCAR

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