O efeito-substituição da carne bovina é um coadjuvante no processo
O intenso movimento altista que levou o preço nomimal histórico da arroba do boi no mercado paulista para R$ 115,00 no final da primeira quinzena de novembro perdeu fôlego e o mês fechou em R$ 105,00. O recuo tem várias causas. A mais importante é que a alta da carne pesou no bolso do consumidor, especialmente aquele que faz parte da nova classe média emergente, a mesma que dá sustentação à forte demanda interna. Com a subida forte no preço, esse consumidor trocou a carne bovina pela de frango, cuja cotação, por causa do efeito substituição, rompeu a barreira dos R$ 2,00 pela primeira vez em 2010. Como resultado, sobrou carne bovina, especialmente os cortes de dianteiro, cuja cotação caiu, no atacado, quase 17%, de R$ 5,30 o kg para R$ 4.40 em 30 dias. Na venda solteira, a queda do dianteiro foi ainda maior, quase 25%, tendo atingido R$ 4,00 o kg. "Sobrou corte de dianteiro", diz o engenheiro agrônomo José Vicente Ferraz, consultor da AgraFNP. Os cortes de traseiro, que foram menos afetados pelo efeito substituição, sofreram queda menor, de 5% em novembro, ou de R$ 8,70 para R$ 8,30, segundo a Scot Consultoria.
Além do efeito substituição, a perda de impulso na cotação da arroba tem origem no próprio movimento altista. Temerosos de que o preço tivesse atingido o teto quando chegou a R$ 115,00 a prazo na praça de São Paulo, muitos pecuaristas aproveitaram para liquidar, vendendo tudo o que os frigoríficos estavam dispostos a - ou precisavam - comprar -, de gado pronto e quase pronto a animais de descarte. Os confinadores também não seguraram o gado no cocho.
Com o alongamento das escalas e o crescimento do estoque, por causa da queda no consumo, os frigoríficos voltaram a fazer pressão baixista. A principal manobra foi retirar-se do mercado. Agumas empresas permaneceram sem ordens de compra por vários dias. E deu certo: a alta não se sustentou no patamar de R$ 115,00 por muito tempo e a partir do início da segunda quinzena de novembro começou a recuar dia-a-dia, fechando novembro, no físico a R$ 105,00 a prazo e a R$ 104,00 à vista, segundo a Scot.
O Indicador Esalq - que é utilizado na liquidação de contratos a futuro na BM&F/Bovespa - fechou a R$ 107,98 (média de cinco últimas cotações do mês), praticamente no msmo patamar do final de outubro. Apesar do recuo, poucos acreditam em que até o fim de 2010 o preço recue para abaixo de R$ 100,00, embora, a futuro, os contratos negociados no final de novembro para a liquidação em dezembro tenham se situado abaixo desse valor, fechando a R$ 97,95.
E 2011? O mercado acredita na sustentação do ciclo de alta. Motivos não faltam. Primeiro, houve antecipação de abate em novembro. Para poder contar com animais, os frigoríficos não fizeram grandes exigências na compra, aceitando gado sem peso e sem acabamento de carcaça adequado. Esses bovinos só estariam prontos para o abate ao longo do primeiro semestre de 2011. Ou seja, os frigoríficos já não poderão contar com esse gado nos seis primeiros meses do próximo ano.
Há outros sinais de que os efeitos da retenção de matrizes, inicidada na estação de monta de 2009/2010 estão longe de aparecer. Dado o aumento da oferta de bezerros e depois de bois gordos, eles irão manifestar-se somente a partir de 2012. É quando os bezerros frutos da retenção de matrizes da última estação começarão a chegar aos frigoríficos, pelo menos os mais precoces.
Mas os efeitos do elevado abate de matrizes em 2006, 2007 e 2008 vão além. A queda na oferta de animais para reposição fez com que os invernistas, além de engordar bois magros erados (acima de dois anos), recorressem a garrotes de sobreano (de um a dois anos) e bezerros desmamados, para lotar os pastos da fazenda em 2009 e 2010. Ou seja, juntaram três geração de bezerros (2007, 2008 e 2009) para produzir duas gerações de bois gordos (2009 e 2010). Hoje, o invernista não tem outra alternativa: ou compra bezerros desmamados e animal de sobreano, ou fica sem gado no pasto. Boi magro é um artigo raro. Virou carne em 2010. Se prenuncia o prolongamento da escassez de bois gordos e consequentemente a sutentação do preço, o consumidor tem uma vantagem: a média de idade de abate deve recuar para a faixa abaixo de 30 meses.
Fonte: Revista DBO
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