O início de 2012 é "desafiador" no cenário externo para a indústria de alimentos Marfrig, com reflexo inclusive para os preços, afirmaram nesta segunda-feira executivos da companhia que é a segunda maior exportadora de carne bovina, suína e de aves do Brasil.
"Existe uma redução nas atividades de exportação, principalmente nos meses de janeiro e de fevereiro, com reflexo também nos preços, que se encontravam mais baixos no começo do ano", disse o diretor de Relações com Investidores, Ricardo Florence. No entanto, ele destacou que a perspectiva "é de recuperação gradual ao longo do ano" no mercado externo.
Executivos da Brasil Foods, concorrente da Marfrig em carnes e processados, também mencionaram na semana passada a expectativa de um primeiro trimestre difícil, em meio à crise na Europa e com estoques relativamente elevados em países importadores. Apesar de dificuldades na Europa e Oriente Médio, o Marfrig observa um crescimento na Ásia, com impulso da China.
"A gente tem crescido bastante com a demanda para a Ásia, com a nossa plataforma dando suporte para esse crescimento, crescemos bastante na Ásia e diminuímos Europa", disse o presidente do Marfrig, Marcos Molina.
Na área de bovinos, o Marfrig quer crescer no Chile, com espaço deixado pelas exportações do Paraguai, onde houve registro de foco de febre aftosa, a mesma doença que fez o Brasil perder o mercado chileno no passado. "O Chile é o mercado do momento para nós", disse James Cruden, presidente-executivo da Marfrig Beef.
O mercado interno, por outro lado, continuará forte. "Mercado interno a gente acredita em uma tendência de crescimento, especialmente em pratos prontos, crescimento acelerado", disse o presidente-executivo da Seara Alimentos, divisão de aves, suínos e processados do grupo, David Alan Palfenier.
As declarações dos executivos foram feitas em teleconferências para comentar os resultados de 2011, divulgados na véspera. As ações da Marfrig registravam alta no pregão desta segunda-feira, apesar de a companhia ter informado que teve prejuízo líquido de R$ 138,6 milhões no quarto trimestre de 2011, ante lucro no mesmo período de 2010.
Desinvestimento
Florence afirmou que a estratégia de desinvestimento de unidades que não pertençam ao núcleo do negócio da empresa (a produção de alimentos e proteína animal) deverá prosseguir este ano. Com isso, a empresa busca reduzir o seu endividamento e quitar dívidas, como está previsto para ocorrer neste primeiro trimestre, no qual a empresa tem vencimentos de mais de R$ 1 bilhão.
Questionado, o executivo disse que o pagamento das dívidas não terá impacto nos investimentos em 2012, até porque a empresa utilizará os US$ 400 milhões obtidos com a venda de ativos de logística comprados da Keystone para pagar os débitos.
"Além disso, contamos com a renovação normal das linhas de financiamento, para continuar com esse processo e jogando no longo prazo. Faz sentido para nós manter algo entre 15% e 20% do endividamento no curto prazo", disse.
A empresa, que realizou várias aquisições de porte nos últimos anos, terminou o 4º trimestre de 2011 com uma dívida líquida de R$ 7,78 bilhões, queda de R$ 84 milhões ante o terceiro trimestre. A companhia, castigada pelo mercado em alguns momentos pela dívida considerada elevada, disse nesta segunda-feira que está buscando um "perfil conservador de endividamento" e com "foco na redução de custos".
A empresa não divulgou a previsão de investimento para 2012, mas parte dos recursos a serem investidos virão de vendas de ativos, disse o diretor. Ao ser perguntado se o desinvestimento poderia ser maior que o investimento em 2012, Florence não foi específico.
"(Este é) Um bom ponto, mas certamente os investimentos deste ano terão o grande reforço com o caixa que provém dos desinvestimentos que estamos fazendo, certamente contribuirão para ajudar na geração de caixa da empresa."
A Marfrig e a JSL anunciaram em meados do mês que não chegaram a um acordo sobre a transferência da gestão das operações logísticas da empresa de alimentos para a transportadora.
Apesar do fim das negociações, as duas empresa continuam conversando. "O acordo como era previsto inicialmente, ambas as empresas já confirmaram que ele não existirá, o que pode acontecer são outros negócios, e os formatos vão ser estudados", disse o executivo.
BRF
A companhia afirmou que aguarda um pronunciamento do órgão de defesa da concorrência do Brasil (Cade) sobre a troca de ativos realizada com a Brasil Foods, e que espera finalizar o negócio até primeiro de junho.
"A absorção das plantas se daria de forma gradativa, ao longo dos meses subsequentes do terceiro trimestre", disse Florence. "A integração das plantas vai se dar em junho, julho e agosto, finaliza em agosto", completou Molina.
Pelo acordo, o Marfrig receberá da BRF centros de distribuição, unidades produtoras, além de várias marcas pertencentes à BRF. "Sem dúvida vai ser um desafio importante, mas nos meses anteriores já vínhamos nos preparando... e se está entrando todas as plantas e os centros de distribuição, isso ajuda a diluir os custos fixos... Estamos preparados para esta integração", comentou Molina.
FONTE: REUTERS
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