Uma contradição impera na pecuária do Paraná. O estado reduziu as exportações diretas de carne bovina a praticamente zero nos últimos seis meses. O fechamento do último frigorífico exportador – o JBS, de Maringá (Noroeste) –, em setembro de 2011, foi atribuído à falta de carne com padrão e volume constante. Em meio às discussões que tentam reanimar o setor e atrair novas indústrias, a pecuária do Norte e do Noroeste coloca essa avaliação em xeque. Se há algum problema com a qualidade do gado de corte paranaense, isso não ocorre nos principais polos pecuaristas, afirmam os produtores.
As diretrizes do programa de revitalização da pecuária anunciado pela Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab) devem ser apresentadas durante a ExpoLondrina. O governo do estado mostra-se preocupado com a falta de penetração da carne paranaense no mercado internacional. Ainda não foi divulgado, também, o valor a ser investido no projeto. A eficiência da produção pecuária, por sua vez, terá debate especial dia 12.
Qualidade é uma questão de sobrevivência, segundo Alexandre Turquino, pecuarista de Bela Vista do Paraíso (Norte) que vende mais de 1 mil cabeças de gado por ano. “Com a terra cara que nós temos [um hectare passa de R$ 20 mil], ou você realmente investe na pecuária ou vira agricultor”, diz.
Para abastecer o mercado europeu, por exemplo, é necessário mais do que isso. Os plantéis precisam estar registrados no Sistema de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos (Sisbov), que rastreia o gado. O índice de rastreabilidade do Paraná é dos mais baixos do país: apenas 245 mil das 9,5 milhões de cabeças estão cadastradas no programa, 2,6% do total, conforme o governo estadual.
O chefe de Rastreabilidade e Certificação da Seab, Antonio Minoro Tachibana, afirma que esses números não podem ser tomados como índice da qualidade do gado de corte paranaense. O fato de os frigoríficos não pagarem bônus pelos animais rastreados desestimula o cadastramento no Sisbov, aponta. Os produtores reivindicam adicionais de 3% e 10%.
O veterinário Fábio Mezzadri, do Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná, afirma que o gado paranaense, em aspectos sanitários, de manejo e qualidade genética, é exemplar. A produção é direcionada ao mercado interno, que não exige rastreabilidade.
O rebanho paranaense sofreu queda de 8,5% entre 2004 e 2010, com ligeira oscilação positiva (0,9%) em 2011. Na competição com a produção de grãos e cana, a pecuária derrapa, mesmo numa época de preços elevados. Ná há queda maior na criação de bois de corte – que correspondem a mais da metade do rebanho estadual – devido aos projetos de integração lavoura-pecuária.
Otimista, o veterinário do Deral afirma que a tendência de queda do rebanho bovino paranaense tende a acabar, já que o preço médio da arroba do boi gordo no estado teve significativo aumento de 18% de 2010 para 2011 (de R$ 81,12 para R$ 95,57) e segue em patamares remuneradores.
Segundo Turquino, é mais difícil produzir gado de qualidade do que simplesmente cadastrar os animais. O padrão alcançado no Norte do Paraná exige rigorosa seleção genética durante décadas. O setor segue aproveitando o potencial dos reprodutores de elite e o clima favorável às pastagens, considera.
O diretor Agroindustrial da Sociedade Rural do Paraná, Luigi Carrer Filho, afirma que a idade dos animais abatidos prova que o setor se especializou. O índice teria passado de 4,5 para apenas 2 anos, ou 25 meses. “Isso é resultado de aprimoramento genético. Estamos na primeira linha há muito tempo”, diz.
Fonte: Gazeta do Povo/Agrolink |
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