terça-feira, 30 de outubro de 2012

Produção de silagens: o que podemos aprender com os argentinos?





Nos últimos tempos tivemos algumas oportunidades de visitar fazendas zootécnicas na Argentina e verificamos que, embora os países sejam vizinhos, a produção de silagens acaba sendo bastante distinta. No Brasil nós estocamos as forragens principalmente em silos horizontais (trincheira e superfície), conforme reportado por Bernardes (2012), sendo que na Argentina os silos tubulares horizontais (silo bolsa) são os mais utilizados. No nosso país, a minoria terceiriza os serviços de ensilagem (Bernardes, 2012) e o inverso ocorre por lá.
O cenário argentino se diferencia do brasileiro basicamente por dois motivos, os quais estão interligados:
1) Na Argentina há grande disponibilidade de maquinários, inclusive os de última geração, os quais possuem custo bem menos elevado que no Brasil. Por exemplo: somente 10% das fazendas brasileiras colhem forragem com autopropelidas.
2) Os terceirizadores, pelo fato de possuírem bons equipamentos, são bem treinados (capacitados) e oferecem serviços de alta qualidade aos pecuaristas.
Em 2009, nós escrevemos o artigo intitulado ‘Silo Bag: uma interessante alternativa no armazenamento da silagem’ e comentamos sobre os aspectos positivos e negativos dessa modalidade de estocagem, apontando o alto custo dos maquinários e a lentidão no abastecimento e no desabastecimento do silo como as principais desvantagens. Contudo, os argentinos não enfrentam essas barreiras, pois as embutidoras possuem preço acessível e confeccionam bolsas (Figura 1) com diâmetro de 9-10 pés (2,74-3,05 m), o que praticamente não existe no Brasil. Com bolsas de maior diâmetro é possível fazer a remoção da silagem de forma mecânica, utilizando os ‘mixers’ adaptados ao silo bag. No nosso país as bolsas possuem 1,8 m, o que permite somente o desabastecimento de forma manual ou com uso de pás carregadeiras, equipamento não recomendável para este tipo de tarefa.
Figura 1. Silo bolsa de 9 pés sendo confeccionado por prestadores de serviço em fazenda leiteira na Argentina.
Outro fato que nos chama a atenção é o grau de treinamento do grupo que opera os serviços e a qualidade com que estes são prestados às fazendas. No último Congresso sobre Conservação de Forragens e Nutrição (VI Congreso de Conservación de Forrajes y Nutrición), realizado em Rosario, dezenas de operadores estavam presentes, os quais interagiam de diversas formas com o público (pesquisadores; empresas). Embora aqui no Brasil a terceirização tenha aumentado em quantidade e qualidade (mais em quantidade do que em qualidade) é muito comum ouvirmos relatos de produtores, por exemplo, que muitos operadores não acionam o dispositivo de rompimento de grãos (craker) das colhedoras autopropelidas com o objetivo da colheita se tornar mais rápida. Isso é algo inadmissível porque os grãos das silagens de milho e sorgo devem ser quebrados para que o amido seja mais bem aproveitado pelo animal. De fato, no levantamento realizado junto a 272 produtores de leite de todo Brasil, muitos apontaram a carência de serviços terceirizados qualificados como uma das barreiras para se produzir silagens.
Dessa forma, gostaríamos de destacar que as máquinas no nosso país necessitam ter preços mais acessíveis e o pagamento delas precisa ser mais facilitado. O Brasil é um país que cresce na agropecuária, como destacam com frequência os meios de comunicação, contudo o acesso aos equipamentos ainda é um entrave. Além deste fato, os serviços terceirizados precisam aumentar em número para atender os milhões de fazendas zootécnicas que possuímos, porém estes precisam também crescer em qualidade e, a forma mais fácil de encontrar o caminho é capacitando a equipe prestadora.
Referências
Bernardes, T.F. Levantamento das práticas de produção e uso de silagens em fazendas leiteiras no Brasil. 2012. Acesso em: http://www.tfbernardes.com/ebook.html.

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