por Fernando Furtado Velloso
Escrevo esta coluna de Buenos Aires, pois estou participando da 27° Escuela de Jurados Angus, durante toda esta semana. Ao chegar aqui, me deparei com um setor pecuário em crise, crise de identidade. A primeira classe, com o Sr. Luis Maria Firpo, abordou a Importância da Pecuária de Corte na Argentina, e aqui já iniciamos recebendo informações da triste situação deste setor no país: redução do rebanho bovino para 48 milhões (eram mais de 55 milhões de cabeças há cinco anos atrás), abate anual de aproximadamente 10 milhões de animais, sendo 45% de fêmeas (indicando liquidação dos rebanhos de cria) e menos de 30% de novilhos (indicando desintensificação dos sistemas) e aumento de abate de animais leves (contribuindo para menor produção de carne).
No campo, a produtividade é baixa e alguns indicadores nos comprovam isso: taxa marcação de 60% (equivalente a % Desmame), somente 50% dos rebanhos com Estação de Monta definida, 15% dos rebanhos usando Inseminação Artificial e, por incrível que pareça, apenas 30% dos produtores realizando Diagnóstico de Gestação. Do lado do mercado da carne, a Cota Hilton de 58 mil toneladas não é atendida pelo país nos últimos quatro anos. São números arredondados, mas de uma fonte segura, pois o professor da classe é produtor e profissional experiente na atividade. Em 2012, a Argentina deixou o grupo dos 10 maiores exportadores mundiais de carne, perdendo para Brasil, Paraguai e Uruguai. Este tema já abordei em minha última coluna.
A crise de identidade que comento é porque esta situação gera um conflito aos produtores de carne e de genética no país.
- Como um país que sempre foi referência em carne de qualidade perde espaço anualmente por questões internas?
- Como um país que foi considerado um dos celeiros do mundo abandona esta posição?
- Como os cabanheiros, sempre orgulhosos dos avanços em genética e de seus campeões, se deparam com a redução dos rebanhos e menor necessidade de reprodutores?
Estes são os dilemas e as contradições que estamos vivenciando neste treinamento. De um lado discutimos como produzir mais e melhor carne com as tecnologias de genética. De outro, o país reduz ano a ano a sua participação no mercado de carnes e a sua produção.
Se é que se pode tirar uma lição desta triste situação é o estrago que um governo ou uma política distorcida podem gerar em um setor tradicional, forte e consolidado de um país, a ganaderia Argentina. Se pretendemos um Rio Grande forte e diferenciado no mercado de carnes não será somente com ações dentro da porteira.
Se é que se pode tirar uma lição desta triste situação é o estrago que um governo ou uma política distorcida podem gerar em um setor tradicional, forte e consolidado de um país, a ganaderia Argentina. Se pretendemos um Rio Grande forte e diferenciado no mercado de carnes não será somente com ações dentro da porteira.
FONTE: Folha do Sul
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