sexta-feira, 7 de junho de 2013

Paulo Real, de Pelotas, RS: temos de reforçar a criação de um selo regional que identifique a carne gaúcha


No dia 5 de abril foi realizado o Beef Summit Sul, em Porto Alegre – RS. O evento foi organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). O Beef Summit Sul reuniu nomes de sucesso do agronegócio para discutir e debater os rumos da pecuária de corte no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

No dia do evento, o BeefPoint homenageou as pessoas que fazem a diferença na pecuária de corte no Sul do Brasil através de um prêmio. Houve vários finalistas, em 19 categorias diferentes.

Os nomes foram indicados pelo público; em uma primeira etapa, através de um formulário divulgado pelo BeefPoint. Na segunda etapa, o público escolheu através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor essas pessoas, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.

Confira abaixo, a entrevista com Paulo Real, um dos indicados ao Prêmio BeefPoint Edição Sul, na categoria Profissional – indústria frigorífica.



Paulo Real mora em Pelotas – RS. É médico veterinário pela UFPEL (Universidade Federal de Pelotas). É pós-graduado pela FGV-RJ e mestrando pelo DCTA (Departamento Ciência e Tecnologia Agroindustrial) na área de carnes da UFPEL. É pecuarista em Santa Vitória do Palmar – RS. Profissional com ampla vivência em toda a cadeia produtiva, tem experiência há mais de 20 anos em todas as etapas do processo industrial e comercial da carne in natura e produtos termo processados e seus derivados.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do sul do Brasil hoje?

Paulo Real: Ter consolidado o reconhecimento internacional como estado produtor de carne de qualidade superior. Melhorar ainda mais os índices de produção. Obter a padronização tão necessária, adequando oferta linear de matéria prima com qualidade, para que a indústria consiga produzir de acordo com a exigência das demandas requeridas.

BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro no sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Paulo Real: Temos muita gente boa. A lista seria grande. Produtores competentes, obstinados, orgulhosos e satisfeitos com o que fazem, com enorme dedicação e vocação. São esses produtores que fazem a diferença em termos de eficiência, que devem servir de exemplo e inspiração a outros tantos que continuam produzindo ainda da forma tradicional de anos atrás.

BeefPoint: Como podemos vender a carne do sul do Brasil de forma diferente e especial, em outras regiões do Brasil e no exterior?

Paulo Real: Buscando a padronização das carcaças, com a qualidade necessária. Animais com o padrão genético que já dispomos, originarão carcaças com acabamento ideal, peso, conformação, AOL e marmoreio, que por sua vez originarão cortes de qualidade superior. Temos de reforçar a criação de um “selo regional”, que identifique a “Carne Gaúcha”.

Campanhas constantes de marketing para que tenhamos, nos mais diversos mercados, o reconhecimento de que hoje a nossa carne tem padrão de qualidade para atender os clientes mais exigentes, se equivalendo às tão afamadas carnes uruguaias e argentinas.

Como não podemos ser os maiores, temos de ser os melhores naquilo que nos propusermos a fazer. Temos plenas condições para isso. A começar pela matéria prima, que todo mundo quer. Possuímos indústria e pessoal competentes, para originarmos produtos de qualidade superior e atender a qualquer nicho de exigência e valor agregado, consequentemente.

Temos apenas de “vender” isso melhor. Faz-se necessário que os clientes saibam disso, e que a partir da consolidação desse reconhecimento se disponibilizem a pagar por esse diferencial.

BeefPoint: Qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?

Paulo Real: Não se trata de inovação, mas uma importante contribuição. Uma “premissa” foi a melhoria e padronização da genética nos últimos anos. A partir daí podemos implementar técnicas e melhorar as produções e os índices, alicerçados nas tecnologias aplicadas (irrigação-pastagens-intensivos-creep-proteinados etc).

Quando falo de padronização genética, me refiro às raças britânicas e suas cruzas. Anos atrás, quando eu ainda comprava boi para frigoríficos, me lembro bem o que se via a cada lote, uma variação impressionante. Imaginem como poder programar produções e agendar embarques com tamanha variedade de matéria prima? Era muito complicado.

Felizmente mudou, melhorou e vem melhorando muito. Temos de ajustar agora as capacidades industriais e as ofertas de matéria prima.

BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar sua competitividade no sul do Brasil?

Paulo Real: Consolidar a carne gaúcha com selo-marca regional via Instituto Gaúcho da Carne. Ter claro o que o mercado quer, com ações concretas e constantes. Divulgar o que aqui se faz e o que ainda pode ser feito. É a fábula do “ovo da galinha” que vale porque ela canta. Fazer e dizer o que se está fazendo. É preciso que saibam e mais do que isso, reconheçam e valorizem.

BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua atividade em 2012?

Paulo Real: Busquei a melhoria da padronização nas operações dentro das unidades industriais onde atuei. Não só nas operações, mas também na identificação dos mercados e direcionamento das linhas de produtos de valor agregado. Buscamos transparência e confiabilidade na relação com fornecedores e clientes, sem isso não se vai a lugar algum.

BeefPoint: O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?

Paulo Real: A consolidação e reconhecimento através das padronizações estabelecidas nas operações. Tínhamos de dar tranquilidade e certeza ao produtor de que, independentemente da unidade fabril, as operações seriam muito semelhantes. Na outra ponta, entendendo o cliente e identificando o que exatamente precisa. E não só atende-lo bem, mas surpreendê-lo.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013? E porquê?

Paulo Real: Dar continuidade. Além da padronização das operações, ter claro a identificação das necessidades de cada cliente. Produzir o que e como o cliente quer.

BeefPoint: Qual sua mensagem para os pecuaristas?

Paulo Real: Que continuem aplicando as tecnologias de que dispomos, mas sem esquecer do “manejo e sanidade”. Todos os dias, nesses anos todos de indústria, tenho visto muitas perdas com cisticercose, tuberculose, prenhezes, contusões (sejam por manejo, vacinações e aplicações mal feitas ou por não respeitarem os períodos de carência).

Por conta dessas lesões e resíduos e demais problemas citados, perdemos somas volumosas a cada dia, toda a cadeia perde. Temos de avançar, melhorar, mas fazer o básico bem feito.

BeefPoint: Qual sua mensagem para a indústria frigorífica e varejo?

Paulo Real: Que consolidem ainda mais a relação com fornecedores. Que se abram ainda mais as portas, para que junto aos produtores se identifique ações a serem fomentadas na busca da MP ideal e que ninguém fique com alguma dúvida do que se busca. Que se tenha a contra partida justa de bonificações, para que toda a cadeia, interdependente, ganhe e se satisfaça com isso.

Que esse boi de qualidade diferenciada se torne cortes de carne e agregue valor sendo processado aqui no Rio Grande do Sul. Como temos o boi que pode dar origem a carne que todo mundo quer, temos de ter condições de processa-lo e valorizá-lo a partir daqui.

No varejo, que tenhamos serviço e produto de qualidade diferenciada, que o mercado atual tanto exige e está disposto a pagar por isso. Assim, conseguiremos ocupar o espaço e ter o destaque merecido que todos almejamos.

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