quinta-feira, 28 de abril de 2011

Em nome da produção brasileira!

Prezado senhor, muito bom dia!

Recebi ontem uma mensagem por você enviada referindo-se à bancada ruralista como pessoas oportunistas e atrasadas. Além disso, se referia aos fazendeiros como responsáveis por crimes ambientais, violadores constitucionais e ladrões de terras que poderiam, se desapropriadas, servir fins de reforma agrária. Puxa vida, que coisa desagradável! Como filha de produtores rurais que sempre levaram a vida honestamente através da atividade agrícola e pecuária, me senti pessoalmente ofendida.

Obviamente o assunto não pode ser tratado de forma superficial, portanto, chamar as pessoas responsáveis pela produção brasileira de alimentos de ATRASADAS e OPORTUNISTAS é uma grande falta de bom senso. Em primeiro lugar, porque baixa o nível da discussão. Em segundo, porque não traz dados científicos como argumento. Por esses dois simples motivos, talvez a mensagem nem mesmo merecesse uma resposta, como esta que me prontifico a dar. Mas cá estou, talvez perdendo o meu tempo para tentar defender o nosso país de indivíduos que agreguem esse tipo de pensamento à sociedade. Bem, vamos às informações.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, o Brasil possui 61% de matas nativas preservadas. É a segunda maior floresta do mundo. Sabia disso? Sei que você vai dizer que isso não é desculpa para avançar com o desmatamento, mas não é isso o que quero dizer. Continue lendo e entenderá.

Segunda informação: hoje, o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do planeta. Antigamente importávamos arroz, leite, carne, feijão, etc. e pagávamos caro por isso. As coisas mudaram graças ao crescimento e à eficiência do produtor rural em aumentar sua produtividade e nosso país transformou-se em um dos maiores exportadores de alimentos. O agronegócio é responsável pelo superávit da balança comercial brasileira e por ¼ do nosso produto interno bruto.

Isso quer dizer que a população pode comprar mais, que a pobreza diminuiu, que os salários subiram, que a fome está sendo extinta, que o desemprego está caindo e que estamos nos desenvolvendo graças à produção de alimentos de qualidade, baratos, além de termos ganhado respeito internacionalmente, já que estamos no ranking top 3 das principais commodities agrícolas exportadas: milho, soja, café, carnes, algodão, etanol, trigo, arroz, feijão, etc. Aproximadamente 40% da mão de obra empregada vem DIRETAMENTE do campo, sem falar dos empregos indiretos.

A produtividade brasileira média por área cresceu 2,5 vezes nos últimos 40 anos, muito acima da média mundial. No caso do milho, especificamente, enquanto o mundo cresceu 17% em produtividade, o Brasil cresceu 73%, de acordo com o Departamento Norte-Americano de Agricultura (USDA). Mais uma vez, isso mostra a eficiência do produtor brasileiro na produção de alimentos. Mas, espere. Não consumimos apenas alimentos!

Todos nós comemos, nos vestimos, andamos de carro, lemos livros e o jornal, consumimos energia e tudo isso vem do campo, de uma maneira ou de outra. Tudo vem do agricultor, que coloca o suor na terra para produzir o que nos mantém vivos. Tente imaginar a sua vida sem os agricultores. Ou você acha que os alimentos nascem nos supermercados?

De acordo com a FAO (Departamento da Organização das Nações Unidas para questões relacionadas à Agricultura e Alimentação), até 2050 a população mundial crescerá de 7 bilhões para 9 bilhões de habitantes, ou 30%, o que pode ser traduzido pela chegada de novos consumidores de alimentos ao mercado. Além do aumento populacional, a evolução econômica dos países em desenvolvimento fará com que a demanda por alimentos de qualidade também aumente. A prova natural disso é o aumento do consumo per capita de carnes nos últimos anos em países em desenvolvimento de 9,02 kg/hab/ano em 2000 para 9,21 kg/hab/ano em 2010. O Brasil tem papel fundamental nisso, pois será responsável por quase metade dessa demanda. Imagine só, apenas 1 país responsável por 40% do que o mundo come. Puxa vida! E tudo isso sem destruir a natureza, apenas produzindo mais em uma mesma área, que é a que temos hoje disponível.

Ocorre que hoje o atual código florestal coloca 9 entre 10 produtores na ilegalidade, ou seja, 90% da produção de alimentos é produzida ilegalmente, de acordo com esse mesmo código. Se isso for levado ao pé da letra, o país terá que brecar o ritmo atual de desenvolvimento tecnológico agrícola, já que os produtores serão penalizados por isso. E menor investimento = produção em queda = alimentos mais caros para todos. Todo esse cenário que pintei aí em cima se inverterá: menos emprego, menos riqueza, mais fome, alimentos mais caros, etc.

A inflação já incomoda? Imagine se diminuirmos a produção!

A nova proposta para a atualização do código prevê a manutenção das áreas de florestas atuais e também das áreas de produção sem que isso comprometa o volume de alimentos produzidos hoje.

Então, ao invés de deixarmos os produtores cada vez mais sem recursos, deveríamos estimulá-los a produzir de uma maneira cada vez melhor. Eles não são inimigos, são os salvadores do mundo pois produzem VIDA. Aliás, ao invés de chamá-los de oportunistas, experimente agradecê-los.

Eu apoio a qualidade da produção nacional, já que pessoalmente tenho visto os esforços e sofrimentos do produtor brasileiro para se adequar às novas exigências políticas e ambientais. Acredito que nossa missão hoje seja essa: fazer a coisa certa, produzir mais na mesma área e viver de acordo com o que o meio ambiente nos permite fazer. Sem agredi-lo, sem devastá-lo. De maneira sustentável.

Enfim, provavelmente você não lerá tudo isso com a atenção que o assunto merece. Eu apenas não gostaria mais de receber e-mails que ofendam os responsáveis pela positivação da balança comercial, pela riqueza que tem entrado no nosso país e pelo combate à fome mundial em meu e-mail pessoal.

Obrigada.

FONTE: www.agroblog.com.br / autor Lygia Pimentel

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