Hoje temos uma situação particular no mercado do boi gordo: uma estabilidade fora do que temos visto no último semestre.
Faz exatamente um mês que o indicador Cepea/ESALQ à vista praticamente não mexe. No dia 25/3 era cotado em R$104,52/@; hoje está em R$104,58/@, tendo passado pela máxima de R$104,94 e mínima de R$103,91. Emocionante, não? É, acho que não.
Ocorre que temos uma situação que anda fugindo à “regra” de que o boi gordo deve cair no primeiro semestre e subir no segundo. E aqui vale um parênteses, pois escutei há algumas semanas a afirmação de que a sazonalidade do boi gordo estava sumindo. Isso ocorre de fato?
De acordo com o gráfico do comportamento dos preços do boi gordo nos primeiros e segundos semestres dos últimos dez anos, fica claro que a média de preços no segundo semestre é, na grande maioria das vezes, mais alta do que no primeiro semestre. Portanto, a sazonalidade ainda existe.
O erro incorre em esperar NECESSARIAMENTE queda no primeiro semestre. Desde 2001, os preços do segundo semestre caíram apenas em 2005, quando tivemos o surto de febre aftosa no Mato Grosso do Sul (bata na madeira trêz vezes,) e em 2009, quando colhíamos os reflexos da crise mundial que enxugou o crédito da praça e fez paralizar mais de 50 plantas frigoríficas. Acredito que esses sejam motivos bons o suficiente para justificar a “ausência” de efeito sazonal sobre as cotações.
Enfim, voltemos ao texto. Em anos de preços em ascensão, ou seja, na fase de alta do ciclo pecuário, os preços podem subir no primeiro semestre, mas tendem subir ainda mais no segundo. Isso mostra que a sazonalidade ainda vigora. E em anos de preços descendentes? Mesmo assim os preços no primeiro semestre costumam ser menores do que no segundo, ou seja, a sazonalidade ainda predomina.
Parênteses feito, continuemos a falar sobre o mercado hoje.
Já faz um mês que os preços praticamente não mudam em São Paulo, como dito acima, e o que levou a isso foi a combinação de uma sistêmica falta de animais terminados, que deixa as escalas dos frigoríficos curtíssimas em plena safra, e um consumo já impactado pelos altos preços, porém, ainda capaz de absorver a pequena oferta de carne que existe hoje no mercado.
Parece-me que se a situação continuar assim nos próximos meses (e um detalhe interessante: o final da safra já bate à nossa porta), a sazonalidade poderá voltar a vigorar, como vimos que historicamente acontece. A não ser que a oferta de animais confinados aumente o suficiente para cobrir a queda de 20% ocorrida no ano passado. É o que veremos nos próximos meses.
Bem, nesta semana, recebi em meu e-mail pessoal uma mensagem chamando os produtores e a bancada ruralista de oportunistas e atrasados. A resposta à mensagem já foi dada, mas gostaria de reproduir aqui um recado dado pelo pessoal da Associação dos Profissionais da Pecuária Sustentável (APPS). Para bom entendedor, meia palavra basta, não é mesmo?
Aí vai: “Você que terá o privilégio de se deliciar com chocolate nesta páscoa, lembre-se primeiro foi preciso produzir o cacau, o açúcar e o leite no campo”.
FONTE: AGROBLOG.COM.BR / AUTOR LYGIA PIMENTEL
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