quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Aonde a vaca vai...


Na semana passada recebi uma pergunta de uma simpática leitora sobre os rumos que a vaca gorda estava tomando. Afinal de contas, diz o ditado que aonde a vaca vai, o boi vai atrás.

A vaca gorda em São Paulo trabalha dentro da normalidade, isto é, média de 8% de desvalorização em relação ao boi gordo. Este patamar é considerado aceitável tomando como base seu comportamento em fases de alta do ciclo pecuário. Em fases de baixa, essa diferença se abre. Observe o gráfico abaixo. Ele representa a evolução do diferencial vaca/boi em Barretos ao longo dos anos. Nele também estão ilustradas as fases de alta, que foram traduzidas pelo fundo azul e as fases de baixa, pelo fundo vermelho.

A partir do momento que verificarmos diferença entre vaca gorda e boi gordo da ordem de 12% ou mais, poderemos nos preocupar que os preços do boi gordo acompanharão a fraqueza da fêmea. O estreitamento atual também reflete escassez de fêmeas neste momento.

Entre janeiro e março de 2011, o abate de fêmeas aumentou 12% em relação ao mesmo período de 2010. Já o abate de machos recuou 6%. Ocorre que o movimento foi ocasionado pelas más condições das pastagens que favorecem a repetição de cio e, consequentemente, o descarte dessas fêmeas. Não podemos considerar ainda uma fase de baixa com base no descarte de fêmeas, principalmente devido ao preço do bezerro, que teima em não ceder.

Entretanto, dado o notado movimento de retenção que verificamos há algum tempo (com início em 2005), o pecuarista já deve ficar atento. Em algum momento os bezerros dessas fêmeas deverão começar a aparecer. Sugiro um período de alguns trimestres para que isso ocorra.

Por enquanto, coloco a culpa do comportamento dos preços em 2011 sobre as exportações que geraram um excedente de oferta internamente. O consumidor brasileiro tem feito a sua parte e hoje come mais carne, mas o baixo valor do dólar frente ao real torna a nossa carne menos competitiva aos clientes internacionais e o volume exportado caiu. Quem absorve isso é o brasileiro, mas como ele já tinha esticado o volume de carne do início do ano passado para cá, acho difícil forçar ainda mais esse movimento. Trabalhamos intensamente para manter os preços.

Junte a isso um aumento do volume de animais confinados em relação a 2010 e dá pra entender um pouco porque os preços não decolaram neste ano.

Também destaco outra situação: o cenário macroeconômico está extremamente complicado, o que já ajuda a tirar o crédito da praça (imprescindível para o capital de giro da indústria frigorífica) e a aumentar o racionamento de custos e desembolsos para provisionamento, à espera do período de vacas magras.

Abraços e até a semana que vem!

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