Vamos colocar novamente a lente de aumento sobre este mercado.
A semana foi marcada por lateralidade. As escalas insistem em permanecer curtas, principalmente em praças mais ao norte do país, mas o boi em São Paulo ainda não decolou.
Pelo lado da oferta, a entressafra está aí, com disponibilidade de animais apertada e abates reduzidos. Alguns diferenciais de base já começaram a fechar.
Como tenho escrito, a demanda interna amortece bem o choque da maior oferta de carne gerada pela redução das exportações, mas fica difícil “estilingar” para cima, como ocorreu no ano passado. Os gastos do brasileiro com carne estão esticados e o excedente do produto não ajuda. Isso deixa a o mercado lateralizado.
Nesta semana fiquei sabendo até mesmo de algumas paralisações no setor frigorífico, o que seria uma última medida lançada as indústrias para reduzir os prejuízos causados por altos custos (fixos e variáveis) para produzir uma mercadoria que não é precificada à altura.
Nada bom para os pecuaristas que esperam ver preços nos mesmos patamares que em 2010 ainda neste próximo outubrão.
A medida adotada não aumenta a oferta de carne, mas mostra um ajuste produtivo “artificial” e necessário, já que o processamento está com margens negativas. Ruim pra todo mundo!
De toda forma, o começo do mês está aí e poderá ajudar a carne a melhorar, pelo menos no que diz respeito ao fator sazonal, e aí, quem sabe, o povo se anime a pagar mais pela arroba.
A próxima semana será importante para avaliarmos essa possibilidade.
EXPORTAÇÕES
Vamos ao ponto central desta análise.
Como comentei na semana passada, as exportações não têm ajudado o mercado interno a manter os preços da carne em patamares mais elevados. O nosso consumidor certamente tem feito a lição de casa e aguenta muito bem o impacto da oferta de carne, mas nossos clientes internacionais perderam o apetite.
Mas afinal de contas, o que acontece com as exportações brasileiras? Estão indo bem pois faturamos mais em dólares ou temos sofrido com o cenário atual que faz o volume embarcado diminuir?
A resposta está no câmbio.
Resultado de um cenário macroeconômico ruim, e de um câmbio desfavorável, que deixa nossa carne mais cara aos clientes internacionais, o volume embarcado tem decrescido ao longo dos meses. Além disso, a produção de carne bovina brasileira está menor em 2011.
De acordo com estimativa da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a produção brasileira de carne bovina deverá cair 2,81% em 2011.
Se a queda for confirmada, o volume produzido de carne bovina pelo Brasil fechará o ano em 9,1 mil toneladas de equivalentes carcaça.
Devido a tais complicações, nos primeiros semestre deste ano o volume exportado foi de 67 mil toneladas, 20% menor do que no mesmo período de 2010, quando embarcamos 84 mil toneladas. Observe o gráfico 1.
Nele é possível observar que quando o preço da arroba brasileira se aproxima do valor da arroba dos Estados Unidos, por exemplo, perdemos competitividade e nosso volume total embarcado diminui, pois nos tornamos mais caros frente aos concorrentes.
Gráfico 1.
Evolução do valor das arrobas brasileira e americana em dólares e volume de carne bovina embarcado.
O preço médio da tonelada de carne exportada, no entanto, aumentou. O faturamento com esses embarques foi de US$ 335 milhões no primeiro semestre de 2011, aumento de 4% em relação aos US$ 321 milhões recebidos no mesmo período do ano passado.
Mas aqui sofremos com um grave problema: a depreciação do dólar frente ao real, o que faz com que mais dólares sejam necessários para comprar um mesmo volume de carne.
Transformando o faturamento em reais, temos um resultado de R$ 543 milhões no primeiro semestre de 2011 contra R$ 576 milhões no mesmo período de 2010. Observe a tabela 1:
Tabela 1.
Volume embarcado, faturamento em dólares, faturamento em R$ e câmbio nos primeiros semestres de 2010 e 2011.
Para ilustrar o perigo que essa situação representa para as indústrias exportadoras de carne, façamos uma simulação rápida e simples:
Faz de conta que o frigorífico XXX exportou 10 toneladas de carne no ano passado a determinado cliente por um preço médio de US$ 3.800,81/ton.
A operação equivalia a R$ 6.8125,70, na época, com o dólar em R$ 1,7923.
Essa foi a média do preço para o primeiro semestre de 2010. O faturamento total do pedido teria sido de R$ 68.125,66.
Suponha que o volume dos embarques tenha caído 20% e hoje ele esteja exportando 8 toneladas para este mesmo cliente por US$ 4.985,92, ou R$ 8.086,96 com um dólar em R$ 1,6219. Essa foi a média do primeiro semestre de 2011.
Multiplicando este valor pelas 8 toneladas que ele vende atualmente, visto que o volume caiu 20%, o resultado financeiro em reais será de R$ 64.695,67.
O cenário, portanto, prejudicou o resultado de quem comercializa a carne, mesmo ganhando mais pela tonelada em dólares. Em reais, na economia brasileira onde incidem os custos, o faturamento caiu.
No balanço, se o volume exportado não tivesse caído, o resultado seria melhor, mesmo com o dólar depreciado. E se o dólar tivesse caído, mas o volume tivesse se mantido, também teríamos compensado a depreciação do câmbio positivamente.
A combinação desses dois indicadores, entretanto, prejudica o resultado final. Obviamente a conta é mais complexa do que isso, mas dá pra ter uma ideia do estrago feito pelo volume e câmbio em queda concomitantemente. Observe o gráfico 2.
Gráfico 2.
Evolução do faturamento em dólares e em reais nos primeiros semestres de 2010 e 2011
Na figura fica bastante claro que enquanto o faturamento em dólares aumentou, a receita em reais caiu devido à diminuição dos embarques combinada a um câmbio desfavorável.
O problema, como diz um amigo, é que “não existe almoço grátis”, e com a necessidade dos clientes internacionais de desembolsar mais dólares para comprar a mesma quantidade de carne em 2011, o nosso produto torna-se menos competitivo e perdemos em volume exportado.
E o nosso faturamento em reais também acaba sendo prejudicado.
É necessário que a conta seja feita usando o câmbio porque, afinal de contas, o pecuarista não recebe em dólares pela arroba produzida. Nem o frigorífico paga com a moeda do Tio Sam.
A questão vai mais além, já que menor volume produzido e comercializado implica também em diluição menor de custos, ou seja, produção menor e custos fixos iguais, o que deixa o custo maior por tonelada de carne produzida.
É claro que o nosso mercado interno continua forte e absorvemos boa parte do excedente, mas a questão é que o nosso primeiro lugar no ranking de exportadores foi tomado pelos motivos descritos acima, e esse, na minha humilde opinião de observadora, não é o cenário ideal para o Brasil, que possui potencial de gigante produtor de carne bovina.
Certo. Mas o que podemos fazer para melhorar a competitividade e voltar a exportar em maior volume para compensar a queda do câmbio?
Por enquanto, nada. A culpa não é nossa, é do cenário macroeconômico complicado levando a uma oferta maior de dólares aqui dentro, no Brasil, e a um apetite menor por parte dos clientes internacionais.
O caso é que devemos ter em mente a real situação para trabalharmos lucidamente nas análises. Em nada adianta olhar para o faturamento em dólares e achar que estamos ganhando mais quando o câmbio tira boa parte da nossa receita, o que não ajuda o frigorífico a melhorar as margens para aumentar o pagamento pela arroba ao pecuarista.
Portanto, olho vivo!
FONTE: www.agroblog.com.br/ autor Lygia Pimentel
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