Rogério Goulart, administrador de empresas, pecuarista e editor da Carta Pecuáriacartapecuaria@gmail.com Reprodução permitida desde que citada a fonte |
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Interessante o comportamento do atacado e da arroba. De maio para cá temos firmeza no atacado.
Veja: em maio o curto-prazo era pior que hoje — a valorização relativa da carcaça induzia-nos a valores mais baixos pro boi — algo como 89 reais.
De lá para cá, a coisa mudou. A coisa hoje nos induz a pensar exatamente o contrário — um atacado sinalizando valores dois reais acima do que o mercado físico está trabalhando.
Algo ao redor de 95 reais. Essa diferença entre os 93 de hoje e o potencial, é claro, está sendo absorvida como margem positiva por quem compra.
Qual a razão da arroba não estar subindo, se o atacado já está sinalizando alta? Dê tempo ao tempo, caro leitor. As coisas funcionam, mas não no momento que precisamos que elas funcionem. A inércia da baixa — e da oferta de boi — ainda estão dominando as negociações.
Você vê isso com clareza ao olhar o cenário mais amplo. Considerando que o fundo do poço está ocorrendo com uma arroba entre 93~95 reais, então o mercado pecuário de boi gordo está estável praticamente desde março, com uma rápida testada nos 97 reais em abril — o momento da mais recente alta no atacado, anterior a este.
Nosso trabalho como comercializadores de gado é sentirmos os extremos dos movimentos dos preços e nos posicionar de acordo. Por exemplo, estamos passando por um extremo de baixa nas cotações, como comentamos na edição passada.
Esse tipo de situação favoreceu quem segurou o boi e deixou para vender agora. Mas, mesmo assim, vamos supor que você está insatisfeito. Você queria ter vendido melhor. Queria ter vendido mais caro que os valores atuais.
Acredita também que estamos passando pelo extremo da safra, mas a boiada gorda não pode esperar, senão começa a perder peso pela seca ou pelo frio.
O que fazer? Existe alternativa para vender o gado e mesmo assim absorver parte de uma possível alta, vai, em julho? Sim, e envolve a bolsa, caro leitor. Você poderia vender normalmente os animais para o frigorífico de sua confiança e “comprar bolsa” — que é o mesmo que dizer que você ainda estaria com os animais no pasto.
Você poderia adquirir uma opção de compra, também uma operação feita via bolsa. Uma opção para o final de julho com uma arroba ao redor de 98 reais vai te custar algo ao redor de 30 centavos. Você passa a ganhar se o mercado vier acima de 98 reais.
Não sei se é a melhor alternativa, mas pelo menos é uma alternativa para quem está angustiado. Você poderia comprar a call de julho e vender uma put de outubro e, juntos, a operação sai praticamente sem custo... Enfim, não estou sugerindo nada de específico aqui e, de qualquer forma, você tem que falar com o seu corretor. Ele poderá te sugerir as melhores negociações baseadas no seu perfil de risco.
Tenha em mente o seguinte — a bolsa é uma ferramenta que acrescenta ao que você já faz no mercado físico. Sem safadeza e sem segundas intenções.
Seguindo em frente, observe a fotografia atual das escalas de abate nas praças pecuárias Brasil afora e seus respectivos descontos nos preços em relação à São Paulo. Note o Mato Grosso com o maior desconto hoje, coerente, por exemplo, com Cuiabá com a maior escala de bois comprados nessa sexta feira.
Goiás é outro caso interessante. As escalas em Goiânia não estão tão altas assim, ao redor de 7 dias, mas o desconto acima de 10% chama a atenção.
É o inverso de Dourados, por exemplo, onde as escalas estão até mais alongadas, mas o diferencial de base é significativamente menor.
Porém, independente da situação dessa sexta-feira, as bases tem melhorado desde o final do ano passado.
Veja os gráficos ao lado. As bases tem melhorado frente a safra do ano passado... mais ainda — voltando até a praticar as mesmas condições de 2010. A única praça que ainda está atrasada é Goiás.
Veja que em 2010 os descontos frente à SP eram menores que são hoje. Uma coisa chama a atenção, entretanto, é olhar os diferenciais de base de Goiás e de Rondônia. Como estão diferentes!
Enquanto em GO as bases estão, em média, caindo, as bases de RO estão subindo forte. Algum leitor poderia me explicar a razão desse comportamento tão dispare nos últimos anos?
Em relação ao mercado físico atual, as escalas de abate, como vimos acima estão longas. Abaixo temos o gráfico das escalas de abate de São Paulo. Notem como desde dezembro do ano passado a oferta de boi veio subindo gradativamente até atingir o pico agora em meados de maio (losango vermelho).
Estamos ainda em tendência de alta, evidenciada por essa linha vermelha, mas as escalas diárias estão prestes a romper essa tendência. Se a coisa vier abaixo de cinco dias, caro leitor, aí a gente terá alguma informação nova sobre a oferta de gado. Até lá, paciência e esperar.
Tecnicamente o mercado perdeu o ímpeto da queda. Vejo isso nos vários indicadores que acompanho. O carro chefe deles é o SBG—Sistema de Negociação de Boi Gordo, sistema que desenvolvi para comercialização de gado, disponível para assinantes (porém fechado para novas assinaturas) que estava em baixa até recentemente.
Agora está neutro. Essa mudança de humor é um sinal importante. Isso do SBG, o encurtamento das escalas, a melhora nas bases de várias praças pecuárias e a virada no atacado que comentamos no início coloca mais uma pista do que tenho visto e sentido dessa coisa do mercado ter perdido o ímpeto da queda. Ah, sim, além disso essa é a segunda semana que a arroba fecha em alta.
O mercado é engraçado e tem personalidade própria. Depois dele ficar vários meses “sem emoção” e com aquele olhar blasé, parece que tá querendo mudar o humor para “com emoção”e injetar sangue nos olhos, se você entende o que quero dizer.
Vamos aguardar para ver.
MOVIMENTAÇÃO DO MERCADO: Boi -- Indicador ESALQ/BVMF do boi, que mede a variação dos preços da arroba no Estado de São Paulo, fechou a semana com +0,13 a R$ 92,63 à vista.
Cotações em R$ por arroba.
A média móvel de 5 dias fechou em R$ 92,79. O contrato de junho/12 fechou com –0,02 a R$ 92,97. O contrato de junho está 0,18 centavos acima do preço médio de liquidação do contrato.
O contrato que vence em julho/12 fechou com –0,29 a R$ 94,65; agosto/12 –0,50 a R$ 95,70; setembro/12 –0,55 a R$ 97,80.
Todos os vencimentos estão cotados à vista com o fechamento da sexta-feira e com a indicação semanal da variação de preços.
Bezerro -- Indicador ESALQ/BVMF de bezerro, que mede a variação dos preços no Estado do Mato Grosso do Sul, fechou a semana com –3,15 cotado a R$ 710,80 à vista. Cotações em R$ por bezerro.
A arroba do bezerro subiu três reais e fechou ao redor de R$ 110,00. Todos os vencimentos estão cotados com o fechamento da sexta-feira e com a indicação da variação semanal.
Taxa de Reposição1 -- Um boi gordo compra hoje 2,15 bezerros, alta de 0,01 na semana.
Dólar -- Dólar comercial fechou com +0,79% a R$ 2,041. Dólar futuro com vencimento no início de julho fechou com +0,53% a R$ 2,046; agosto fechou com +0,56% a R$ 2,057.
Juros -- A taxa de juros do governo (SELIC) está hoje em 8,50% ao ano.
Inflação – IGP-M de maio +1,02%. Acumulado no ano2 +2,49%. Acumulado nos últimos 12 meses3 (junho-11 a maio-12) +4,19%.
Assim como os contratos de boi e bezerro se encerram pelo preço dos seus respectivos indicadores, o dólar se encerra pelo preço do dólar do Banco Central nas datas acima indicadas.
Frigoríficos 4 -- A arroba nos frigoríficos foi cotada hoje em São Paulo ao redor de R$ 93,00; no Mato Grosso do Sul, Dourados a R$ 87,00 (Base –6,5%) e em Campo Grande ao redor de R$ 87,50 (Base –5,9%). A arroba em Goiânia foi cotada ao redor de R$ 83,50 (Base –10,2%). Em Cuiabá está em R$ 84,00 (Base –9,7%).
No sul do Tocantins a arroba foi cotada em R$ 84,00 (Base –9,7%). No Triângulo Mineiro ao redor de R$ 87,00 (Base –6,5%).
1 Considerando os valores nominais dos indicadores da ESALQ/BVMF. 2 e 3 Somatória com Juros Simples. 4 Fonte completa dos preços da arroba nos frigoríficos à vista e livre do Funrural: Informativo Boi na Linha, da Scot Consultoria.
CONCLUSÃO: Segunda semana seguida de alta para a arroba. OK, uma alta pequena, mas é uma mudança e tanto depois de oito semanas seguidas de baixa. Vários indicadores deixando de lado a posição baixista, o que nos leva a mudar de uma posição mais defensiva para, no mínimo, uma posição neutra.
O bezerro continua com uma arroba sendo negociada bem acima do boi ao redor de 110 reais.
Até mais,
Rogério Goulart
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