segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Argentinos recuperam o posto de maiores carnívoros do mundo


BUENOS AIRES - Os argentinos recuperaram o título de maiores carnívoros do planeta ao ostentar um consumo per capita de 63,1 quilos de carne bovina. O anúncio sobre o ressurgimento do costume de ingerir opíparos volumes de sanguinolentos baby-beefs, tomando como referência os dados do mês de julho, foi realizado pela consultoria Abeceb, que indicou que há um ano e meio o consumo estava em "apenas" 52,8 quilos. Esse havia sido o volume mais baixo desde 1914 (nesse ano, quando a medição começou a ser realizada pela Junta Nacional de Carnes, a marca de consumo por habitante foi de 56,1 quilos).
O Uruguai - país rival da Argentina em tangos, futebol e carne - sempre havia ocupado o segundo posto no ranking mundial de consumo de carne bovina. Mas, entre 2009 e 2011 conquistou a pole position. No entanto, neste ano, segundo dados do Instituto Nacional de Carnes (Inac) do Uruguai, com a marca de 60 quilos em julho os uruguaios voltaram, pelo menos temporariamente, ao segundo lugar do ranking mundial.
A Abeceb afirma que a recuperação do consumo deve-se à conjunção de fatores, entre os quais o aumento do estoque e à queda das exportações, drasticamente limitadas pelo governo da presidente Cristina Kirchner, que redirecionaram a carne ao mercado interno. Este redirecionamento, nos últimos meses, criou um clima de estabilização dos preços de alguns cortes de carne e até de redução dos custos de outros. Além disso, o aumento do consumo foi propiciado pelo maior abate de gado.
Ao longo deste ano, o consumo de carne de frango, que vinha crescendo, ficou estabilizado.
O mesmo fenômeno ocorreu com a carne suína, produto cujo consumo foi estimulado pela própria presidente Cristina Kirchner, que em julho de 2010 declarou pela TV que esse quitute era "afrodisíaco". Na ocasião - seu marido e ex-presidente Nestor Kirchner ainda estava vivo (ele morreu três meses depois) - Cristina destacou que a ingestão de carne suína havia propiciado um animado fim de semana na companhia de seu cônjuge.
Durante décadas a carne bovina foi elemento sine qua non da mesa dos argentinos, além de ser um símbolo do país no exterior.
O recorde de consumo ocorreu em 1958, ano no qual a ingestão de carne por cada argentino em média foi de 98 quilos. Nas décadas posteriores o consumo caiu por motivos econômicos, por uma ampliação do menu cotidiano dos argentinos, além de maiores cuidados com o colesterol.
No entanto, apesar da recuperação do primeiro lugar no pódio de consumo de carne para os argentinos, a Abeceb considera que será "difícil" voltar ao nível de 70 quilos per capital alcançados em 2007 e 2008.
Galãs açougueiros
Durante décadas as crianças nas escolas primárias do Brasil escreviam a redação "Minhas férias". Na mesma época, os alunos argentinos redigiam "La Vaca" (A Vaca), uma espécie de canto de louvor à essa heroina quadrúpede que propiciava à Argentina riquezas e prestígio mundial por seus baby beefs.
A carne também está na cultura televisiva. Diversas telenovelas argentinas tiveram galãs que protagonizavam viris personagens açougueiros que seduziam as clientes com seu avental manchado de sangue.
Em 2002 o churrasco foi o centro do talk show "Um aplauso para o churrasqueiro", onde o apresentador, Roberto Petinatto, interrogava seus entrevistados enquanto estes devoravam suculentos nacos de carne. O formato foi relançado na semana passada com a apresentadora Flavia Palmiero, que em "Políticos na churrasqueira" entrevista políticos que devem acender o fogo e preparar a carne enquanto são sabatinados.
Frases
"A carne bovina é a única 'droga' que qualquer governo argentino jamais se atreveria a proibir"
(o escritor e ensaísta Alan Pauls)
"Neste país, os vegetarianos são uma raridade"
(Carlos Príncipe, do Mercado del Progreso, no bairro de Caballito, é a terceira geração de açougueiros, já que seus avós foram açougueiros do conde de Romanones, ministro do rei Alfonso XIII da Espanha)
"Os argentinos são carnívoros por excelência"
(declaração oficial Instituto de Estímulo e Divulgação da Carne Bovina)

FONTE: ESTADÃO

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