terça-feira, 2 de outubro de 2012

Índia: conheça mais este crescente mercado de produção e exportação de carne


Produção
O rebanho bovino da Índia continua crescendo em resposta à forte demanda por produtos lácteos. Os investimentos no setor privado levaram a melhorias na prática de manejo leiteiro, incluindo serviços de extensão, cuidados veterinários e melhoramento genético. Recentemente, a falta de chuvas em regiões da Índia (Karnataka, Gujarat, Maharashtra e Rajasthan) levou os produtores a focarem na produção de leite quando a produção agrícola caiu.
Dessa forma, o crescimento do rebanho deverá continuar no curto prazo, com o estoque no ano de 2013 devendo ser mais de 1% maior que em 2012, de 327 milhões de cabeças. O estoque no ano de 2012 para bovinos (Bos indicus/taurus) e bubalinos (Bubalus bubalis) foi estimado em 323,74 milhões de cabeças, e o estoque de 2011 foi revisado para cima, para 320,80 milhões de cabeças.
A produção de carne de búfalo na Índia está crescendo significantemente. Apesar de não haver estatísticas oficiais de produção, fontes da indústria e dados de exportação indicam que a forte demanda por exportação está desencadeando a expansão de oferta de carne de búfalo na Índia. Como resultado, novos frigoríficos estão surgindo, fornecendo aos produtores um novo mercado para novilhas bubalinas não produtivas, touros e bezerros. A produção de carne de búfalo em 2013 deverá aumentar para um recorde de 4,16 milhões de toneladas (com base em equivalente peso carcaça), 14% a mais que em 2012.
A produção de carne de búfalo em 2012 foi estimada em 3,64 milhões de toneladas (12% a mais que em 2011) e a produção de 2011 foi revisada levemente para cima, em 3,24 milhões de toneladas. Fontes da indústria e do Governo indicaram que a oferta de gado continuará robusta na próxima década, mas cairá à medida que tecnologia para aumentar a produtividade leiteira seja adotada e os produtores ineficientes de leite saiam do mercado.
As leis federais e estaduais da Índia proíbem o abate de bovinos por questões religiosas. O abate de búfalos é permitido somente para touros e novilhas não produtivas. Devido à lucratividade da produção de carne na Índia, os produtores agora têm um incentivo para recuperar e vender os bezerros de búfalos que antes eram inutilizados. Considerando essa opção, alguns produtores estão engordando bezerros para abate, apesar de a prática ainda ser incomum e os rendimentos nos abates indianos continuarem baixos.
Política de produção
O Governo da Índia lançou o Esquema de Recuperação e Criação de Bezerros Machos de Búfalos (The Salvaging and Rearing of Male Buffalo Calves Scheme – SRMBC) e o Esquema de Utilização de Animais Caídos (The Utilization of Fallen Animals Scheme – UFA) pelo 11o Plano de Cinco Anos (2007-2012). Os projetos são financiados pelo Banco Nacional para Agricultura e Desenvolvimento Rural e estão sendo lançados em uma tentativa de obter uma taxa de crescimento de 10% para o setor de carnes no período do 11o Plano de Cinco Anos.
O SRMBC promove a criação de bezerros de búfalos para a produção de carne e desenvolve ligações com abatedouros orientados à exportação. Os estados de AndhraPradesh, Bihar, Chhattisgarh,Jharkhand, Kerala, MadhyaPradesh, Maharashtra, Orissa, Rajasthan, UttarPradesh, Punjab e WestBengal são vistos como prioridades. O componente de recuperação do programa deverá gerar uma quantidade substancial de peles e outros subprodutos, bem como fornecer emprego nos setores de alimentação, animal, carnes, couros e vários serviços de insumos.
O UFA foi desenvolvido para resolver as altas taxas de mortalidade no setor pecuário indiano. O Instituto de Pesquisa Central de Couro reportou uma mortalidade anual de 24 milhões de grandes animais e 17 milhões de pequenos ruminantes na Índia. Para resolver isso, o UFA propõe estabelecer centros de utilização de carcaça visando prevenir poluição ambiental, controle de disseminação de doenças, fornecer emprego à população rural pobre e produzir melhores peles de qualidade através da recuperação feita a tempo.
Além do SRMBC e do UFA, o Governo da Índia iniciou um importante programa com foco no melhoramento genético chamado Projeto Nacional de Criação de Bovinos e Búfalos (The National Project on Cattle and Buffalo Breeding – NPCBB) em outubro de 2000. Devido ao projeto, o Governo da Índia decidiu continuar esse programa através do 11o Plano de Cinco Anos. Fontes do Governo indicam que o projeto ajudou a aumentar o número de animais cruzados e de animais em lactação na última década.
O principal pilar da estratégia de desenvolvimento pecuário do Governo da Índia tem sido a distribuição pública subsidiada de serviços veterinários. Para melhorar a qualidade desses serviços, o Departamento de Pecuária, Setor Leiteiro e Pesca (DAHD) do Ministério da Agricultura está implementando o programa de Controle de Doenças e Saúde Pecuária em toda a nação, que visa melhorar o diagnóstico de uma série de doenças.
Os vários componentes do programa são: (a) Assistência aos estados para controle de doenças; (b) Desenvolvimento de Eficiência Profissional; (c) Projeto Nacional de Erradicação da Peste Bovina ; (d) Programa de Controle da Febre Aftosa; (e) Programa Nacional de Controle da Peste dos Pequenos Ruminantes; (f) Sistema Nacional de Registro de Doenças Animais; (g) Estabelecimento e fortalecimento de hospitais/dispensários veterinários; e (h) Programa Nacional de Controle da Brucelose.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento de Lácteos (NDDB), em parceria com o Governo da Índia e o Banco Mundial, desenvolveu o Plano Nacional Lácteo (NDP) visando aumentar a produtividade dos animais leiteiros e fornecer aos produtores rurais de leite maior acesso ao setor organizado de processamento de leite. A primeira fase do plano, NDP 1, teve um desembolso financeiro de US$ 416 milhões e será realizada entre 2012 e 2017.
O Governo da Índia lançou a Missão Nacional para Suplementos de Proteína no ano fiscal indiano de 2011-12, com uma alocação de mais de US$ 65 milhões. Essa missão fará atividades para promover a produção de proteína animal através do desenvolvimento pecuário, produção leiteira, produção de suínos, criação de caprinos e pesca em locais selecionados do país.
Consumo
O consumo per capita de carne de búfalo na Índia é estimado em aproximadamente 2 quilos por ano. O aumento no consumo local é marginal, refletindo o crescimento populacional e a preferência da Índia por fontes vegetarianas e lácteas de proteínas. Para os indianos não vegetarianos, carne de frango, peixe e carneiro são as preferidas. À medida que a renda cresce, o aumento do consumo de carne provavelmente ocorrerá principalmente no segmento de frango. Entretanto, como dito anteriormente, esse aumento será ofuscado pela preferência geral por lácteos e pelo vegetarianismo. O aumento nos restaurantes de serviço rápido (fast-food) também é um direcionador para o consumo de carnes. Entretanto, esses tipos de restaurantes focam principalmente nos produtos de frango. Por essas razões, o consumo de carne de búfalo na Índia em 2013 deverá ser de 2 milhões de toneladas (com base em equivalente peso carcaça), com o consumo em 2012 estimado em 1,98 milhão de toneladas e em 2011, a previsão de consumo permaneceu sem mudanças, em 1,95 milhão de toneladas. Nota-se que, apesar de um aumento no consumo geral, o consumo per capita pode não aumentar devido ao crescimento da população da Índia.
Processamento
Os abates e processamentos de carnes na Índia atualmente são regulamentados pela Autoridade de Padrões e Segurança Alimentar da Índia (FSSAI) através da Regulamentação e Leis de Padrões e Segurança Alimentar de 2011 (FSSR). Em 5 de agosto de 2011, o FSSR substituiu a Lei de Carnes e Produtos de Carnes de 1973. O FSSR contém padrões e regulamentações para carnes e produtos de carnes e requer registro e licença de processadores de carne e outros operadores de alimentos na cadeia de valor da carne. O FSSR também reforça a manutenção sanitária e os controles em todos os estágios da produção (incluindo peixe e frango). Esses padrões se aplicam à carne doméstica e importada e aos produtos de carne igualmente. Para mais detalhes, visite o site do FSSAI.
Existem 33 estabelecimentos integrados de abate/processamento e 58 estabelecimentos de processamento de carne servindo o mercado de exportação da Índia. De acordo com o Governo do pais, existem 3 novas unidades de abate orientadas à exportação criadas em 2011. Fontes da indústria indicam que 12 novos estabelecimentos de abate e processamento orientados à exportação serão construídos até o final de 2012. Além disso, existem aproximadamente 4.000 abatedouros municipais na Índia que servem o mercado doméstico.
Embora a capacidade de abate continue aumentando na Índia, uma mudança na regulamentação em 2011 resultou na redução do número de plantas processadoras de carne registradas de 74 para 58. A mudança na regulamentação estipulou que “a exportação de carnes e produtos de carne será permitida, sujeita ao fornecimento pelo exportador de uma declaração, anexada com cópias de Certificados de Registros de Plantas registrados pela Autoridade de Desenvolvimento de Produtos Alimentícios Processados e Agrícolas de Exportação (APEDA) válidos à alfandega na hora da exportação que os itens acima (carnes e produtos de carne) foram obtidos de um abatedouro integrado registrado pelo APEDA ou de uma planta processadora de carne registrada pelo APEDA que fornece matéria-prima exclusivamente para abatedouros integrados registrados pelo APEDA”. É importante notar que, embora os exportadores permaneçam otimistas, eles não esperam que abatedouros novos ou existentes produzam em sua capacidade total, principalmente devido às ineficiências operacionais e limitações de demanda.
Ss cadeias de fornecimento para carne de búfalo doméstica e exportada são separadas. Somente estabelecimentos 100% orientados à exportação, registrados com a APEDA, são permitidos produzir e processar carne para exportação. A carne processada orientada à exportação é transportada em contêineres refrigerados de unidades de processamento para estocagem refrigerada próximos aos locais dos portos, de onde o produto é enviado. Os abatedouros municipais vendem somente ao mercado doméstico. A maioria do mercado doméstico de carnes tipicamente não se beneficia de estocagem refrigerada e é consumida localmente, onde é produzida.
O crescimento na produção de carne de búfalo está sendo liderado pelo mercado de exportação, embora a demanda doméstica esteja acompanhando a taxa de crescimento populacional. Mais expansões no mercado doméstico parecem improváveis, porque o varejo de carnes na Índia não tem instalações de cadeias refrigeradas e os consumidores indianos preferem proteínas não bovinas, como frango, caprinos, produtos lácteos e vegetais.
O Ministério das Indústrias de Processamento de Alimentos (MOFPI) lançou um amplo programa, o Modernização dos Abatedouros Existentes, dentro do 11o Plano de Cinco anos. O programa deverá continuar no 12o Plano de Cinco Anos (de 2012 a 2017). O MOFPI está também administrando outro esquema para atualização tecnológica, estabelecimento e modernização das plantas de processamento. Para mais detalhes, veja aqui.
Comércio
A Índia é um exportador líquido de carne de búfalo (carne de búfalo desossada e congelada). Nos últimos dois anos, as exportações cresceram para níveis recordes, tornando a Índia o quarto país no mundo a exportar mais de 1 milhão de toneladas de carne bovina anualmente. O crescimento nas exportações da Índia são resultado de seu baixo custo de produção (com relação aos competidores internacionais). Os custos de produção são baixos devido ao crescimento do rebanho pela forte demanda por lácteos e novos incentivos dos estabelecimentos de abates para recuperação de animais anteriormente subutilizados.
Como resultado, as exportações de carne de búfalo de 2013 deverão ser de 2,15 milhões de toneladas (com base em equivalente peso carcaça), cerca de 30% a mais que as 1,66 milhão de toneladas exportadas em 2012. As exportações de carne de búfalo em 2011 também foram revisadas para cima, para um recorde de 1,29 milhão de toneladas, baseado nos dados comerciais. O crescimento das exportações com relação ao ano anterior para 2011 foi de 41%, enquanto o crescimento em 2012 foi de 28%. Considerando seu enorme crescimento nas exportações, a Índia provavelmente se tornará o maior exportador mundial de carne bovina (de búfalo) até 2013, se não antes. A importação de carne bovina de todas as fontes é restrita e essas importações deverão ser nulas.
Como um competidor baseado no preço, a Índia viu aumentos em suas exportações nos últimos dois anos ao Oriente Médio, África e países do sudeste da Ásia. A maioria do crescimento das exportações em 2011 foi para o Oriente Médio e países do norte da África, apesar de volumes significantes terem sido vendidos à Ásia, com o Vietnã sendo o maior destino de exportação da Índia. Fontes da indústria disseram que uma tendência similar é esperada em 2012.
Embora as empresas de carne de búfalo da Índia sejam orientadas pelo baixo custo de produção, existem vários outros fatores influenciando o comércio. Por exemplo, toda a carne de búfalo indiana é produzida de acordo com padrões halal. O produto se caracteriza como uma carne magra, com características mistas positivas. Fontes da indústria colocam um peso significante no status de doenças da Índia, que inclui o “risco desprezível” pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) para encefalopatia espongiforme bovina (EEB) e o reconhecimento pela OIE de “livre” de peste bovina e de Pleuropneumonia Bovina Contagiosa (CBP). Embora esse status de doença tenha ajudado a abrir novos mercados (como Argélia em 2010), o status de febre aftosa da Índia representa problemas para o acesso de novos mercados em alguns países. Os exportadores da Índia estão operando programas voluntários de vacinação para combater a febre aftosa e o Governo da Índia lançou um programa de US$ 800 milhões para lidar com a doença. Embora esses programas sejam passos positivos, a febre aftosa continua um empecilho significante para a expansão do acesso a mercados.
Tabela 1: Balanço de gados da Índia
Tabela 2: Carne bovina e de vitelo da Índia
Fonte: USDA.

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