terça-feira, 2 de outubro de 2012

Ração cara e redução de oferta sinalizam alta do preço do boi


Disparada dos insumos limita confinamento. Mercado futuro indica valorização de cerca de 5% já em novembro. Cenário remete a 2010, quando houve recorde

O boi gordo tende a chegar ao final de 2012 nas mesmas condições de dois anos antes: com baixo uso de confinamentos, oferta restrita e supervalorização da arroba (em novembro de 2010, cotava-se os quinze quilos da carne bovina a inéditos R$ 114).
Na atual conjuntura, a commodity está custando cerca de R$ 96,05 com base em São Paulo, ante R$ 89 no começo de agosto. A tendência de altaestá ligada à escalada de preços da soja e do milho, que limita a terminação de animais em confinamento.
Para o presidente da Associação de Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, a carne bovina pode ficar 5% mais cara até o fim do ano. “Acho muito difícil e arriscado que confinem boi nesse momento”, ele diz.
No início deste ano, os pecuaristas mato-grossenses estimavam alta de 14% no uso de confinamento, de modo que com ele terminariam 929,9 mil animais.
Porém, agora, mais vale vender o milho do que utilizá-lo como ração. Vacari acredita que o nível de confinamento de 2011 se repetirá neste ano: aproximadamente 730 mil cabeças.
Normalmente feito em duas etapas, com a primeira em maio e a segunda em julho, o confinamento é adotado como forma de compensar o desgaste do pasto e ofertar boi gordo para abate durante o período de estiagem.
O pecuarista José Renato Gonçalves, de Londrina (PR), confirma que o salto de preços de grãos, depois das quebras de safra de soja no Brasil e milho nos Estados Unidos, pode limitar a quantidade de animais confinados.
Se essa redução se confirmar, especialmente no segundo turno do confinamento, os produtores deixarão o animal no pasto, evitando os altos custos da ração. Dessa forma, parte da oferta de animais será postergada, já que o gado leva mais tempo para ser terminado na pecuária extensiva.
“Todo mundo está inferindo que vai haver oferta maior, mas não estamos vendo isso”, disse Gonçalves. “Muitos que fariam um segundo giro de confinamento podem desistir com a alta dos grãos. E o preço pode subir ainda mais”, acrescentou.
A fazenda de Gonçalves tem 3,6 mil hectares e cinco mil cabeças de bois. O pecuarista reforça que o Paraná tem registrado preços próximos de R$ 99 (a prazo, com 30 dias de carência).
O confinamento responde por cerca de 10% do total de abates, estimado em quase 40 milhões de cabeças neste ano, no Brasil .
Em relatório recente, o Rabobank destacou que a oferta dos confinamentos pode ficar aquém do esperado inicialmente, refletindo o aumento do farelo de soja e do milho e os preços futuros relativamente baixos do gado.
O administrador da Fazenda Klabin, Ossimar Belentani, cujo foco está na oferta de carne de altaqualidade, também tem observado a alta dos preços no estado. Sua fazenda, que fica em Luiziana, no noroeste do Paraná, atende a redes específicas que buscam carnes especiais nos mercados paranaense e paulista.
“Este mercado remunera melhor conforme a qualidade. Vimos uma melhora desde o final de agosto”, contou ele. Segundo Belentani, no final de agosto a arroba negociada no mercado à vista saiu a R$ 94, mas na semana passada superou R$ 98.
Baixa oferta
O diretor da consultoria Bigma,   Maurício Palma Nogueira, lembra que, por causa de baixaoferta, os preços da arroba atingiram níveis recordes em novembro de 2010, superando R$ 114 no indicador Esalq/BM&FBovespa.
 “Muito semelhante ao que se viu em 2010, não estamos vendo, neste ano, uma entrada de boi [gordo para o abate], como se esperava”, afirma o especialista em bovinocultura.
“Não digo que os preços atuais vão atingir os níveis recordes daquele ano, mas devem se manter na alta recente”, acrescenta.
Nogueira lembra que, naquele ano, os preços da carne reagiram e os frigoríficos mantiveram o ritmo de abates. E diz que a alta da arroba neste ano dependerá também das reações do varejo.
Exportações
O diretor da Bigma ressalta ainda que a forte demanda interna e a recuperação das exportações de carne bovina também podem impulsionar os preços da arroba bovina.
“Nós já vimos uma retomada das exportações brasileiras de carne bovina neste começo de semestre”, observou. E acrescentou que internamente o baixo nível de desemprego e a melhora da renda contribuem com o setor.
Em agosto, a exportação de carne bovina do Brasil registrou o melhor desempenho do ano, crescendo 37,5%, com embarques de 90,6 mil toneladas.

Autor: Bruno Cirillo / Agências
 

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