Colunista: Fernando F. Velloso
A carne gaúcha tem diferenciais importantes, mas infelizmente exploramos pouco esta possível vantagem competitiva em relação ao resto do país. A nossa história, tradição, a figura do gaúcho, do pampa e a relação destes fatores com a pecuária somente ocorrem no nosso estado. O produto especificamente é distinto também, pois somente aqui podemos explorar na plenitude as raças europeias (especialmente as britânicas, Angus e Hereford) e assim oferecer carne com atributos valorizados pelo consumidor: maciez, sabor e suculência.
De lambuja com se diz, podemos explorar as nossas similaridades com o Uruguai e Argentina e assim colher parte dos fortes investimentos em marketing da carne feitos por estes países. Ambos os países têm gado e campos similares aos do RS, mas ostentam renome e posição de produtores de carne de qualidade que nós ainda não conseguimos galgar. O trabalho feito por eles está disponível como benchmark para o RS e basta aproveitar as experiências exitosas. Já temos um bom caminho trilhado para nós.
Como produtores gaúchos de carne, competimos por espaço no mercado internacional, mas também competimos com os demais estados brasileiros e em situação de desvantagem, pois o Centro Oeste e o Norte nos ganham em volume de rebanho (escala de produção), já faz bom tempo. Desta forma, competir com produto similar não é alternativa para o RS.
Os programas de carne de qualidade no RS (Certificação Angus e Hereford) contribuíram muito com a melhoria e padronização do rebanho gaúcho. Hoje nosso gado voltou a ter um tipo mais definido e com raças que favorecem a produção de carne de qualidade. Ponto para nós.
Em função do perfil e qualidade de nosso rebanho exportamos gado vivo para o exterior (de navio) e para outros estados (especialmente SP e PR). Os grandes frigoríficos (principalmente JBS) buscam novilhos no RS para terminação em SP e produção de suas linhas de carne Premium. Toda esta demanda é positiva, pois gera liquidez e valor ao nosso produto, mas deve nos inspirar preocupação, pois gera pouco (ou nenhum) desenvolvimento ao nosso setor de carne.
O resto o Brasil não ficou inerte vendo este processo e os programas de cruzamento cresceram fantasticamente (vide expectativa de venda de aproximadamente 3 milhões de doses de sêmen de Angus em 2012) e também a disseminação das carnes ˝com marca˝ do abate deste gado cruzado muito jovem e bem terminado em confinamentos. Ponto para eles que estão produzindo carne de excelente qualidade e com volume.
Estes temas e outros tantos são discutidos na Câmara Setorial da Carne Bovina (RS) desde a sua reinstalação em 2011. Participo deste grupo e venho defendendo desde o princípio a criação de um Instituto Gaúcho da Carne para virarmos este jogo. Este instituto realizaria um trabalho similar ao de tantos institutos de sucesso de outros países: INAC (Uruguai), AML (Austrália), Beef Board (EUA), etc. Infelizmente estamos identificando muitas resistências até mesmo em discutir o tema, mas este é assunto para minha próxima coluna. Somos pioneiros na pecuária brasileira e creio que não nos agrada a posição de ator coadjuvante.
FONTE: FOLHA DO SUL
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