quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Variações e safras de preços firmes

O que ocorre no momento é muito bom, amigos. Temos visto até agora uma safra de preços firmes, fora da normalidade. Quando falamos em custo de produção, estamos perdendo, mas ajuda um pouco ouvir que a arroba está firme, que as escalas têm dificuldades de andar e que o consumo está acima da média para o período.
Gráfico 1.
Variação da arroba do boi gordo em SP e dos custos de produção com a pecuária de alta tecnologia.
Fonte: Cepea/Bigma Consultoria/AgriFatto
Na onda do consumo em crescimento, dólar firme e custos sustentados, estamos nós, pecuaristas, na corda bamba. Digo na corda bamba, pois os custos de produção foram parar nas alturas no ano passado e, especialmente, neste início de ano. Grãos, dólar (encarecendo produtos importados), combustíveis, salários, entre outros tantos itens que compõem o custo de nossa arroba não deram espaço para respirarmos.
O gráfico não deixa dúvidas. Em amarelo ele representa a variação do valor da arroba nos últimos 24 meses. Em cinza ele representa os custos de produção com a pecuária de alta tecnologia. Portanto, não podemos reclamar de preços em alta, pelo menos nesta safra, onde encontramos firmeza, mas da margem, sim. Ela tem nos castigado nos últimos tempos, sem falar da inflação.
Por isso seria loucura dizer que trabalhamos em um mercado com preços bons e favoráveis ao pecuarista. É o reflexo do ciclo pecuário, que traz maior oferta de animais de maneira sistemática.
Na outra ponta da oferta, está o consumo.
Estudo do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) revela que o comprometimento de renda no Brasil para pagar dívidas cresceu rapidamente nos últimos anos e está no nível mais elevado da história.
Com esse aumento, a parcela mensal dos salários das pessoas físicas e da receita das empresas destinada ao pagamento de empréstimos já é comparável à de países como a Itália.
Segundo o BIS, 19,9% da renda no Brasil vai para as dívidas, nos Estados Unidos, essa fatia é de 19,8%. Para o BIS, o elevado nível de endividamento no Brasil e outras economias emergentes pode ser um problema.
Do patamar de 10,8% registrado no fim de 2005, a escalada foi expressiva ao longo dos anos seguintes: 12% no fim de 2006, 14% em 2007, 16% em 2008, 17,5% em 2010 e quase 20% no dado mais recente, confirmando um salto no último ano.
Isso representa um entrave ao estilingamento da demanda, como ocorreu em 2010, mas ela ainda poderá se manter sustentada devido às medidas governamentais para manter a economia aquecida, tais como redução dos juros e intervenções sobre o Dólar. Novamente, algo que nos faz pensar em inflação.
Em breve falaremos mais sobre o comportamento do Dólar.
Mas aqui temos um parêntesis que pode ser positivo para 2013: o péssimo resultado atual do confinamento traz pessimismo entre os pecuaristas, principalmente quando levamos em conta uma expectativa de custos sustentados pelos baixos estoques mundiais de grãos, pela inflação e pelo aumento dos salários. A questão é pensar nos efeitos disso mais adiante.
                Se trouxer pessimismo e a Bolsa não conseguir aliviar, teremos menos confinadores que apostam na atividade e, consequentemente, menos oferta na entressafra. E é aí que poderemos nos surpreender!
Gráfico 2.
Crescimento do confinamento (a.a.) e valorização do boi na entressafra.

Fonte: Cepea/Assocon/Bigma Consultoria/Agroconsult/AgriFatto

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