O Projeto Raças é uma série de artigos do BeefPoint, cada um dedicado a uma raça, que visa reunir opiniões e conhecimento de profissionais que trabalham diretamente com cada uma dessas raças. Elaboramos uma série de entrevistas com esses especialistas. O resultado dessas entrevistas para a raça Angus está compilado aqui, com a opinião desses especialistas sobre a raça.
Essa série de artigos não representa um endosso especial do BeefPoint em nenhuma das raças que vamos apresentar nesse projeto, mas a opinião e comentários de quem trabalha com cada uma dessas raças. Estamos em contato com as principais raças de corte do Brasil e iremos publicar aqui uma por uma, nas próximas semanas.
Conheça mais a raça Angus
Histórico da raça
A origem deste animal é britânica, especificamente da região da Escócia, sendo assim o Angus é chamado de taurino britânico.
A raça Angus foi introduzida nacionalmente pelos pastos da região de Bagé, por isso ela é considerada um dos mais importantes centros da criação de Angus do Brasil.
O primeiro registro genealógico da raça no país foi realizado em 1906, pelo criador Leonardo Collares Sobrinho, com o touro Menelik, vindo do Uruguai. Desde a primeira inscrição Angus até hoje, os desafios se multiplicam para a raça, que tem sabor e maciez em sua carne mundialmente reconhecidos e que está em pleno processo de expansão.
Desde 1920, o domínio do bovino Angus já era percebido nos campos rio-grandenses, pela enorme adaptabilidade que a raça britânica apresentou ao clima dos pampas. Na época, aconteceram algumas exposições agropecuárias, reunindo cerca de 600 reprodutores da raça, dando início à presença do animal pelos pastos brasileiros.
Associação Brasileira de Angus – ABA
A Associação Brasileira de Angus completa 50 anos de atuação em 2013. Hoje, meio século após a sua fundação e após muito trabalho, empenho e apostas pioneiras, a raça Angus apresenta bons números para o mercado brasileiro. Atualmente, o Aberdeen Angus é a raça mais comercializada entre as britânicas no Brasil e a de Bos taurus que lidera a venda de sêmen.
O principal projeto da associação é sem dúvidas o Programa Carne Angus Certificada, criado com objetivo de integrar a cadeia da carne e valorizar a qualidade da carne de animais Angus e Cruza Angus, que este ano completa 10 anos de funcionamento. Desde sua criação o programa apresenta números impressionantes. Com aproximadamente 20 mil abates em seu início, o programa deve fechar em 2013 com quase 300 mil carcaças certificadas.
O programa de certificação conta com parcerias como o McDonald’s, Zaffari, restaurantes, boutiques de carnes e na indústria frigorífica, com a qual mantém acordo com nove frigoríficos (Marfrig, Frigorífico Silva, VPJ, Cotripal, Aliança, Verdi, Frigol, Frigorífico da Gruta e JBS), presentes em sete dos principais estados produtores de carne (RS, SC, PR, SP, MS, MT e GO) com 20 plantas frigoríficas.
No programa, todo o processo industrial (do abate e tipificação das carcaças à embalagem do produto final), é acompanhado permanentemente pelos técnicos do Programa Carne Angus Certificada e auditado pela certificadora Ausmeat, da Austrália, o que confere reconhecimento e credibilidade internacional com a outorga do selo de certificação Ausqual. Sendo que mais informações podem ser obtidas no endereço eletrônico www.carneangus.org.br.
O trabalho da Associação Brasileira de Angus consiste na ampliação dos horizontes de mercado para a carne Angus Brasileira, seja no mercado doméstico, e em nível internacional e na integração da cadeia produtiva. O intuito é trabalhar para criar oportunidades que se revertam em lucros para os criadores e usuários da genética Angus para produção de carne de qualidade.
O ano de 2013 foi muito rico em termos de novas parcerias firmadas dentro do âmbito do Programa Carne Angus Certificada. A de maior destaque, sem dúvida foi a realizada com o JBS, para o abate inicial de 5 mil animais Angus certificados por mês nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Vale frisar também a entrada do Frigorífico Verdi no rol dos frigoríficos parceiros. O acordo é de grande importância pois inclui o Estado de Santa Catarina no mercado da carne Angus certificada, a Cotripal de Panambi, atendendo produtores do norte do RS, e por fim, a parceria com o Frigol, de São Paulo, outro frigorífico importante. Somente essas três parcerias permitem projetar um crescimento de 30% no programa nos próximos anos.
Além disso, segundo Juliana Brunelli, gerente administrativa e financeira e Fábio Schuler Medeiros, gerente do Programa Carne Angus Certificada, a Associação tem trabalhado fortemente com ações de fomento junto aos seus criadores, entre as ações que desencadeiam esteve o subsídio à avaliação de carcaças por meio de ultrassonografia de 3.000 reprodutores – safra 2011 avaliados pelo Promebo (Programa de Melhoramento de Bovinos de Corte). Também destacam a parceria com a Embrapa Pecuária Sul, para a realização da prova a campo, que avalia os melhores animais Angus para a produção de animais de carne a pasto.
Do ponto de vista de relacionamento com o associado esta tem desenvolvido uma série de ações, como o uso mais amplo das redes sociais. Houve também uma reformulação do website, como intuito de facilitar o acesso do criador a informações relevantes e lançamento do Angus APP, um aplicativo para iPad e dispositivos Android, que nos insere dentro das tendências de migração dos serviços e informações para as plataformas móveis.
Para 2013-2014, o principal plano é manter a raça no curso de crescimento e valorização. Para isso, a Associação irá intensificar seus projetos de fomento ao uso da genética Angus, além de ações de marketing, como a parceria que mantem com a grife La Victoria para utensílios e vestimentas com a marca Angus, além de ampliar a visibilidade nacional e internacional da Carne Angus Certificada, que agrega valor aos demais elos da cadeia.
E quais são as vantagens que o produtor tem em se associar?
Contar com todo o suporte técnico especializado oferecido pela Associação para garantir a boa produção do gado Angus, além de poder expôr sua melhor genética nos eventos chancelados pela Associação, concorrendo nos rankings anuais de exposições para animais de argola e rústicos. Também, mesmo que de maneira indireta, ao se associar à Angus Brasil, o criador estará fomentando o maior programa de carne de qualidade do Brasil, o Programa Carne Angus Certificada, que trabalha com parcerias com grandes frigoríficos, que, por sua vez, aumentam o prêmio pago por carcaça da raça, ou seja, promovendo ganhos para toda a cadeia produtiva.
Valdomiro Poliseli Junior, criador da raça, acredita muito em entidades, cooperativismo e integrações, sendo que com base nestas há a união de ideias e ações que otimizam um setor.
Estágio atual da raça
- Número total do rebanho puro: 534.440 animais
- Número de animais registrados em 2012: 25.881 animais puros registrados (PO /PC)
- Número de criadores associados: 430 associados
Características zootécnicas da raça
O Aberdeen Angus se destaca entre as raças taurinas por reunir um razoável número de características positivas que lhe asseguram um bom resultado econômico como gado de corte. O conjunto de suas características a tornam uma raça completa.
- Fertilidade e Longevidade
Na busca de uma pecuária mais eficiente, quando planejamos um cruzamento, devemos ter em conta não só a utilização de novilhos pesados e precoces, mas também de fêmeas de reposição que tenham alto índice de habilidade materna, períodos entre partos curtos e alta resposta reprodutiva quanto à repetição de crias. Através de sua fertilidade, o gado Angus proporciona aos seus criadores um maior rendimento, tanto pelo número de bezerros nascidos, quanto pela quantidade de quilos obtidos por hectare. A longevidade, associada à fertilidade, representa, ao final, mais crias produzidas.
- Precocidade
A boa precocidade do Angus reflete-se no abate de novilhos jovens, que, além de uma necessidade mercadológica, é fator fundamental de uma pecuária de retorno mais rápido.
- Rusticidade
A rusticidade é facilmente identificada pelo grande número de animais (machos e fêmeas) espalhadas pelas várias regiões climaticamente diferentes do país, mantendo suas qualidades inalteradas. O Angus tem resistência a enfermidades, grande adaptação às condições ambientais dos territórios onde é criado, seja com temperaturas extremas, altas ou baixas, solo seco ou alagadiço, campos altos ou abrigados, pastagens ricas ou pobres. Mesmo em situações adversas, as fêmeas Angus produzem bezerros e os amamentam adequadamente, nem que para isso tenha que sacrificar parte de sua “gordura marmorizada”.
- Facilidade de Parto
Gerando um terneiro de porte médio, não muito pesado ao nascer, o ventre Angus tem reduzido desgaste na parição, o que abrevia a sua recuperação pós-parto, favorecendo a repetição de cria e diminuindo o intervalo entre partos.
- Qualidade de Carne
Este é um dos melhores atributos da raça Angus. A ótima qualidade de sua carne é evidenciada através da opinião de autoridades do setor, e confirmada nos mais diferentes concursos realizados nos principais mercados produtores. O Angus produz um animal com alta qualidade de carne, apropriada não só para o mercado interno, como também para o mercado externo. O Angus apresenta de 3 a 6 mm de gordura (exigências europeias) e sua carne é marmorizada (gordura entremeada na carne), o que lhe confere a já famosa maciez e sabor.
Tem uma uniforme distribuição da gordura no tecido muscular. A importância dessa distribuição é exaltada quando da sua preparação: a gordura se derrete parcialmente pela ação do calor e impregna a parte magra, melhorando apreciavelmente seu valor, tornando-a tenra e apetecível.
Em resumo, os pontos fortes da Angus são muitos e podemos elencar alguns como facilidade de parto, habilidade materna, fertilidade, precocidade sexual, eficiência alimentar, facilidade de acabamento, maciez e sabor da carne. É uma raça extremamente produtiva a campo e que produz uma carne excelente, com bons índices de marmoreio e capa de gordura espessa e uniforme.
Sobre os pontos a serem melhorados está a seleção de animais cada vez mais resistentes ao carrapato, um dos limitantes da expansão das raças europeias em ambientes subtropicais e tropicais, como é o caso do Aberdeen Angus, e a adaptação ao clima do Brasil Central através da seleção de animais com pêlo curto e liso. Este trabalho já está ocorrendo através da seleção de animais geneticamente superiores para estas características e através da orientação aos criadores sobre correto manejo sanitário e de seleção.
Para Valdomiro Poliseli, o Angus vem ano a ano conquistando os grandes países de produção de carne. Seu principal diferencial é a capacidade de transmitir qualidade real da carne, baseado em 2 parâmetros: o primeiro é que a raça tem mais de 300 anos de seleção pelos ingleses para precocidade e outro está relacionado a maciez e gordura entremeada nas fibras que a raça produz e transfere a seus descendentes, inclusive no cruzamento com Zebu que não possui nem maciez, nem marmoreio. Neste aspecto, o Angus vem para completar o processo produtivo nacional, pois alia qualidade e desempenho sobre o Nelores, que é extremamente rústico e de baixo custo de produção. Os pontos a serem melhorados na raça pura no Brasil estão relacionados, basicamente, em adaptabilidade. A maioria do rebanho nacional.
Quais os principais cruzamentos que podem ser realizados com base nesta raça?
O cruzamento com Aberdeen Angus agrega ao rebanho base as características produtivas positivas da raça, como facilidade de parto, habilidade materna, fertilidade, precocidade sexual, eficiência alimentar, facilidade de acabamento, maciez e sabor da carne.
A cruza com os zebuínos, altamente resistentes a condições adversas de clima e qualidade de pastagens, reúne essas características às da Aberdeen Angus e resulta em bezerros com equilíbrio das qualidades de ambas. Os animais cruzados ganham com “custo zero” os benefícios da heterose, fenômeno genético que expressa a superioridade de indivíduos cruzados em relação à média dos desempenhos de seus pais, de raça pura.
Por exemplo, são esperados no cruzamento Angus x Zebu ganhos de 10% a 15% no peso de desmame, consequentes da heterose. O uso de Aberdeen Angus em cruzamentos também é vantajoso quando o objetivo é explorar a heterose materna e a precocidade sexual das fêmeas F1 (animais oriundos do primeiro cruzamento Angus x Zebu).
O mercado da pecuária tem tomado novos rumos no Brasil, e com o uso de técnica e orientação, inclusive com franca participação no processo dos grandes grupos frigoríficos, e alavancados pela excelência dos resultados do uso da IATF.
Índice Asbia 2012 – Evolução raça Angus – 3 anos
Veja abaixo os recados dos profissionais entrevistados
Juliana Brunelli e Fábio Schuler Medeiros: “Com uma porcentagem de marmoreio que atende aos mercados mais exigentes, conferindo sabor e maciez, além de uma capa de gordura espessa e uniforme. Por trás disso tudo, a Associação Brasileira de Angus garante trabalhar para te propiciar as melhores condições para o desenvolvimento de sua produção, com uma equipe especializada e dedicada, além de grandes programas de fomento e certificação. Seja bem vindo à Angus, a raça completa”.
Valdomiro Poliseli Junior: ”Continuem firmes no propósito de emplacar o Angus. Depois do Estados Unidos, o Brasil é o país mais importante para a raça. Temos próximo de 60 milhões de fêmeas comerciais em reprodução, sendo a grande maioria zebuínos que precisam de choque de sangue (heterose) para produzir carne de valor agregado. “
Veja abaixo algumas fotos de animais da raça Angus
Agradecimentos
- Associação Brasileira de Angus (ABA)
- Juliana Brunelli – Gerente Administrativa e Financeira da ABA
- Fábio Schuler Medeiros – Gerente do Programa Carne Angus Certificada
- Valdomiro Poliseli Junior – Produtor indicado pela Associação Brasileira de Angus
fonte: BeefPoint / Projeto Raças
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