sexta-feira, 8 de abril de 2011

O real valor do boi gordo

Lygia Pimentel é médica veterinária e especialista em commodities pela XP Investimentos
lygia.pimentel@xpi.com.br
Reprodução permitida desde que citada a fonte

Recorri ao meu amigo Maurício Palma Nogueira, da Bigma Consultoria para coletar os dados e conseguir a série histórica. Com o índice dos custos nas mãos, estava resolvido o problema. Ele tem base na composição dos custos com a pecuária de alta tecnologia e com o confinamento (sem considerar a compra do boi magro) separadamente. Observe o gráfico:

Gráfico 1.
Evolução da arroba do boi gordo em Barretos – SP: valores nominais, corrigidos pelo IGP-DI, pelos custos da pecuária de alta tecnologia e pelos custos com o confinamento.

Fonte: Bigma Consultoria/FGV/Conab/IEA/Cepea/XP Agro.

Ah, grande novidade! O valor nominal ao longo do tempo sobe enquanto os valores corrigidos caem.

Ok, ok, isso não é novidade, mas o interessante é observar que há “graus” de queda que dependem do indexador. O IGP-DI, por exemplo, tende a refletir preços mais baixos porque não leva em consideração os ativos realmente incluídos na atividade pecuária.

A queda mais expressiva concentra-se no preço corrigido pelos custos com o confinamento devido à forte reação dos insumos utilizados, como o milho, por exemplo.

E já que a pecuária de corte brasileira tem sua grande base concentrada na criação a pasto, o referencial deveria seguir o comportamento dos preços da linha vermelha, que foram diferentes daqueles representados pela linha verde (IGP-DI). Entretanto, o assunto é de interesse dos invernistas também.

Mas interessante mesmo é observar a evolução dos preços de acordo com os diferentes indexadores. Quando analisamos a variação de preços desde o início da série (1994), enxergamos grande divergência. Ocorre o seguinte:

Tabela 1.
Variação dos preços de acordo com diferentes indexadores.
Fonte: Bigma Consultoria/FGV/Conab/IEA/Cepea/XP Agro.

O assunto é controverso, mas a análise faz sentido, não faz?
O mais correto é escolher o indexador de acordo com a sua realidade de produção para não fugir do real valor do seu boi.

Mas... se as margens do produtor tendem a se estreitar ao longo do tempo (e esta é uma certeza que temos em relação ao mercado no longo-prazo), o que pode incentivá-lo a continuar na atividade?

Além de tentar compensar com maios produção em uma mesma área, feito que temos conseguido ao longo dos anos, os preços também devem subir para acompanhar esse deságio já que a demanda só cresceu, correto?

É o que nos diz o CRB, o índice que mede o desempenho das commodities lá fora. Uma vez coloquei-o no twitter, mas ainda não tinha comentado sobre ele em meus textos. Observe:

Gráfico 2.
Evolução do CRB (1967 = 100)
Fonte: Commodity Research Bureau

As linhas vermelhas nos mostram que as commodities alcançaram um terceiro patamar de preços e, pelo que nos indica o gráfico, elas costumam se acomodar nesses patamares até que chegue o momento de alcançarem novos níveis novamente.

Quer dizer que o boi vai subir eternamente? Nominalmente, sim, como praticamente todos os produtos agrícolas que conhecemos fazem e o motivo é que com uma população crescente e margens decrescentes, só resta ao produto valorizar para que possa compensar o fato de ele continuar existindo.

FONTE: BIGMA CONSULTORIA

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