terça-feira, 12 de julho de 2011

Hedge: Garanta os custos, deixe apenas o lucro no risco

Rogério Goulart, administrador de empresas e editor da Carta Pecuária
cartapecuaria@gmail.com
Reprodução permitida desde que citada a fonte
Deixe-me começar essa edição te falando uma coisa sobre os mercados futuros e de opções.

Atualmente temos abertos 14.666 contratos futuros de boi gordo. Cada contrato vale aproximadamente 20 cabeças, então em aberto temos algo como 300 mil cabeças estocadas na bolsa. Por dia são negociados algo entre três mil contratos por dia, em média. Isso significa uma negociação de algo como 60.000 cabeças por dia.

Considerando que o abate brasileiro gira ao redor de 150.000 cabeças por dia, então a bolsa negocia o equivalente a 40% do abate diário brasileiro.

O mercado de opções sobre futuros de boi gordo possui em aberto, hoje, 23.020 contratos. Repare que ele de uns tempos para cá está bem maior que o próprio mercado futuro. As opções negociam algo ao redor de 500 contratos por dia, em média.

Aonde são negociados os contratos futuros e opções? Na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros, mais conhecida como “BM&FBovespa”. A turma de mercado chama de somente “Bolsa” ou “BM&F” quando se refere aos mercados futuros ou “Bovespa” para os mercados de ações.

A Bolsa fica em São Paulo, bem no centro da cidade na Praça Antônio Prado. É um local muito bonito da cidade, para quem não conhece. Para quem for para São Paulo e tiver uma manhã livre, sugiro ir até lá e conhecer o local. Sentir o ar paulistano do corre-corre dos negócios. Depois desça a Av. São João até a esquina com o Vale do Anhangabaú e almoce no Guanabara. Peça um “inventado”. Você vai adorar.

Porque estou dizendo essas coisas? A bolsa não são só números, mas também pessoas fazendo negócios, caro leitor. Atualmente o destaque está sendo o mercado de opções. As empresas estão utilizando esse mercado. A DOW Agrosciences tem o programa BeefTrade que atrela os produtos que eles vendem ao mercado pecuário. Isso é uma mão-na-roda para o produtor. Além disso, os produtores estão fazendo a
sua proteção de custos de produção, de verdade mesmo, sem as preocupações do mercado futuro.

Para quem ainda evita olhar a bolsa como uma ferramenta, assim como a cerca elétrica, a balança individual de pesagem de gado, o sal proteinado ou o confinamento são ferramentas, sugiro encarar os mercados futuros tal como são, uma ferramenta importante para ajudar no dia-a-dia o pecuarista colocar mais dinheiro no bolso, no longo-prazo. Simples assim. Funciona? Por nossa experiência desses quase vinte anos negociando em bolsa para nossas fazendas, funciona sim.
Fale com o seu corretor e peça a ele te mostrar o que tem sendo negociado em opções.

Coloque suas ofertas na tela para o mercado ver. Fique atento, pois tem corretor que nem acompanha opções e diz que “ah, isso daí não sai negócio.” Isso, hoje em dia, não é mais verdade e esse corretor é preguiçoso. Mude de corretor.

Numa análise gráfica, é interessante o longo-prazo do relacionamento entre frango e boi. Quando a gente sobrepõe o frango na escala do boi, de tempos em tempos o frango escorrega e encosta no boi. Quando isso ocorre, o que é raro, sempre tem uma surpresa logo depois — o boi sobe.
Isso ocorrerá novamente esse ano? Não sei, caro leitor.

Com relação à produção de pintos de corte no Brasil, os dados até fevereiro mostram uma redução da colocação de pintos, o que é positivo, pois reduz oferta futura. Esses são os frangos que entrariam em engorda logo depois.

Quem solta essa estatística de propósito não solta ela atualizada para não gerar especulação no mercado. Então para tomada de decisão no curto-prazo ela não ajuda.
Temos que esperar essa informação ser mais atualizada para tirarmos conclusões melhores.

Seguindo em frente, temos a relação entre a arroba do boi e a carne bovina. Assim como no frango ou até mais que ele, a relação entre a carne bovina e a arroba são como dois irmãos, brigam, mas não vivem separados.

Onde um vai, o outro vai atrás.

Recentemente houve uma sensível recuperação nos preços da carcaça casada e do traseiro. A arroba ainda não se moveu da mesma forma. Como disse essa semana,
desde o piso por esses dias, o frango já subiu 5%, a carcaça, 4% e a arroba apenas 2%.

Qual a razão da morosidade da arroba? É que o mercado tem que sinalizar mais alta no atacado, principalmente, e para o frango, em um segundo momento, para a coisa engatar uma segunda marcha. A gente chegará lá? Acredito que sim.

Então, essa é uma semana de espera, a meu ver. O mercado futuro tentou antecipar esse movimento do frango e do atacado descrito acima, porém andou demais, rápido demais. O pessoal se animou antes da hora.

Já há muita conversa para se aproveitar os preços atuais dos contratos de entressafra para travar operações de confinamento, por exemplo. Principalmente, usando contratos futuros como forma de travar essas operações de confinamento. Quem tem dinheiro para bancar ajustes negativos na bolsa se o mercado subir, e bota dinheiro nisso, tudo bem.

Mas... e em relação ao timming? Do jeito que enxergo as coisas e também por esse início de movimento, ainda tímido, de alta, mostrados aqui nos gráficos do frango e da carne nos dizem que é um bom momento de ter cautela. Esperar.

Além disso, a história me ensinou a não menosprezar o poder da entressafra do boi. Assim como não menosprezar a safra, tal qual essa que acabamos de passar. O boi, mesmo em condições altistas, cai na safra, como caiu esse ano, ano passado e nos anos anteriores.

Da mesma forma, mesmo em condições baixistas, tal qual o mercado vê 2011 ainda, a arroba poderia perfeitamente subir na entressafra. Subir muito? Não sei. Lembre-se que 104 reais era o preço da arroba em abril desse ano, caro leitor. Não perca isso de sua perspectiva de preços.

Agora, usando os contratos de opções, especialmente as opções de venda, aí sim, aí é uma excelente ideia. Não para travar o lucro do confinamento. Não, não. Travar os CUSTOS DE PRODUÇÃO. Essa é a ideia.

Quanto sua arroba irá custar, incluindo o boi magro, nessa entressafra, no confinamento? 80, 90, 100 reais?

Para qualquer um desses preços dá para fazer negócio, e sugiro aproveitar isso.
Faça um seguro de 80, 90 100 reais na bolsa.

Deixe o lucro para a “Divina Providência” e para o que eventualmente irá ocorrer na entressafra... mas use sua competência em proteger seus interesses através de segurar os seus custos de produção.

No longo-prazo, não perder dinheiro com boi em nenhuma ocasião, seja confinamento ou não é um feito que poucas pessoas podem dizer que fizeram.

Fonte: Carta Pecuária

Nota da Bigma Consultoria: O texto de Rogério Goulart, da Carta Pecuária, publicado nesse espaço, foi resumido e os gráficos suprimidos. Acesse a análise completa e com os gráficos no site da Carta Pecuária

Todos os dados apresentados no texto são reforçados com gráficos pelo autor na versão completa.
FONTE: CARTA PECUÁRIA - BIGMA CONSULTORIA

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