Ele iniciou sua palestra apresentando um gráfico que mostra a evolução dos preços de algumas commodities agrícolas, chamando a atenção para a forte valorização que ocorreu nos últimos anos.
O palestrante comentou que um dos motivos para o aumento dos preços em 2010 foi a desvalorização do Dólar, essa variação cambial estimulou os especuladores a iniciar um intenso movimento de compra de commodities.
Mendonça de Barros também citou a importância da China e da Índia para a economia mundial. O crescimento destes países impulsionou a economia de outros países, principalmente produtores de petróleo. Isso gera aumento da renda da população e altera a dinâmica de consumo de todos os países.
"No Brasil temos acompanhado uma grande incorporação de pessoas na classe média. O consumo de frango saiu de 39 quilos per capita e chegou a 43 quilos. Isso é muito crescimento para apenas um ano". Segundo ele, este aumento na demanda por alimento está mudando a economia do mundo emergente e já se estima que 50% da renda global esteja nos emergentes.
Outro fator que tem influenciado o cenário da economia mundial e principalmente do setor de carnes é a produção de etanol de milho, "pois quase 15% do milho produzido no mundo não está mais sendo usado como ração (alimento), mas queimado em motores", frisou. Alexandre Mendonça de Barros lembrou que no Brasil o programa de biodiesel (produzido a partir da soja) também criou uma demanda que não existia que acaba influenciando na alta das commodities. Assim além do aumento da população e do consumo mundial, nos últimos anos tivemos o aparecimento de novos usos para os grãos que acabaram por fazer a demanda crescer mais do que o volume produzido e exercendo pressões altistas no mercado de commodities agrícolas.
O palestrante afirmou que a maior parte da proteína animal produzida no mundo hoje é carne de frango e suína e o grosso dessa produção vem dos grãos. "Então este mercado é influenciado pelos grãos e se o grão está em alta não tem como a carne recuar".
"Em 2008 tivemos um estímulo muito grande à produção de grãos devido a alta rentabilidade. Isso se somou à crise financeira e os preços despencaram, mas logo voltaram a subir já que com os prejuízos da crise em 2009 a safra foi menor. Em 2010 se plantou uma safra relativamente boa, mas observamos quebras de safra em vários lugares. Além disso o mundo voltou a crescer e a demanda também aumentou. Assim os preços tendem a subir".
Como falado anteriormente, as carnes subiram na esteira do mercado de grãos e hoje temos os preços mais altos dos últimos anos, como podemos ver no gráfico abaixo.
Assim no mercado de carnes o cenário atual é de preços altos para carne bovina, custos também aumentando, demanda aquecida e retenção de fêmeas nos principais rebanhos do mundo. "O mundo passa por um ciclo de retenção de matrizes, a exceção só acontece nos EUA. Assim, no momento, temos uma oferta ainda mais restrita de carne no mundo todo, com criadores estimulados a reter matrizes, pois os preços do bezerro estão em patamares elevados nos principais produtores de carne bovina". Segundo Mendonça de Barros, o Brasil já está retendo fêmeas a 4 - 5 anos, num movimento de expansão do rebanho.
"Hoje a única pecuária importante que está abatendo fêmeas é a dos EUA. Isso acontece porque os preços dos grãos no mercado norte americano estão tão altos que a produção de bovinos não compensa e eles registraram o menor número de fêmeas desde a década de 70". Assim quando os pecuaristas norte americanos começarem a reter fêmeas, fato que deve ocorrer nos próximos anos, o mercado irá sentir fortes influências, pois os EUA não conseguirão atender os seus clientes na totalidade.
Apesar do mercado interno dos EUA estar bastante aquecido, como é possível observar no gráfico abaixo, as exportações também estão crescendo em função da crise e abate de matrizes - que num primeiro momento está causando aumento da oferta -, mas o país ainda está importando muito.
Mendonça de Barros apresentou também dados de exportação dos principais produtores, e de acordo com os gráficos apresentados em países como Brasil, Argentina, Austrália, Uruguai e Nova Zelândia as exportações estão recuando nos últimos anos. "A Índia é quem tem aumentado a sua produção e compete diretamente com o Brasil".
Segundo o palestrante, os preços da carne no mundo todo estão convergindo e devem se manter em patamares muito mais altos que os que estão sendo praticados atualmente, consequencia da oferta reduzida e da demanda aquecida.
Alexandre Mendonça de Barros afirmou que neste ano e no próximo o mundo estará testando os limites do consumidor, principalmente os consumidores dos países emergentes, ou seja, até quanto a população aceita pagar pela carne bovina. Segundo ele nesse movimento a substituição por outras proteínas é um fator importante que precisa ser avaliado. "Nós estamos testando os árabes, por exemplo, e eles estão buscando novas fontes e aumentando o volume importado da Índia".
"Precisamos ter uma visão estratégica, visando mercados mais exigentes, sólidos e que pagam mais como Coreia, Japão", finalizou.
FONTE: CONGRESSO INTERNACIONAL DA CARNE / BEEFPOINT
Nenhum comentário:
Postar um comentário