O mercado do boi no Brasil teve um início de ano muito melhor do que em 2010. Todos os preços aumentaram, recuperando margens do criador e também do invernista. Algumas grandes tendências seguem influenciando o mercado de forma positiva, do lado da demanda e também da oferta.
A demanda mundial (em especial países emergentes) e a brasileira seguem em crescimento. A renda per capita, da população e índice de pessoas que moram em cidades no mundo aumentam, impulsionando consumo de proteínas mais nobres, como carnes e lácteos. O consumo de carne bovina no mundo também vai crescrer nesses próximos 10 anos, mas em ritmo mais lento que frango e suíno. O foco vai ser cada vez mais a qualidade, o sabor e a diferenciação.
Nesse cenário, apenas Brasil e também Índia (com carne de búfalo) vão crescer sua produção. A importância do Brasil no mercado mundial vai crescer nos próximos anos. E aqui no Brasil o crescimento se dará apenas por aumento de eficiência e produtividade. Com o crescimento da agricultura e uma dificuldade muito maior em converter novas áreas de florestas em pastagens, a pecuária vai avançar pelo aumento da eficiência daqui em diante e não pelo aumento da área. Nos últimos 15 anos crescemos por produtividade e também aumento de área. Logo, o aumento da oferta daqui em diante será mais restrito e isso é mais um fator que dá firmeza de preços.
O ciclo pecuário ainda não dá certeza de mudança. De 2002 a 2007 tivemos um longo período de aumento do abate de fêmeas, natural do ciclo e fortalecido por outros fatores como aftosa em 2005 e aumento do uso de tecnologia. De 2008 em diante, estamos retendo mais fêmeas e investindo na produtividade da cria. Por outro lado, com maior uso de tecnologias como confinamento, semi-confinamento e suplementação, a demanda por bezerros cresce mais que a oferta, fortalecendo os preços do bezerro. Não há previsão de que teremos bezerros baratos no curto prazo. A cria é uma atividade cara, difícil e demorada.
Análise 2011: janeiro a abril
Os primeiros quatro meses mostram um mercado muito firme para a pecuária de corte. Os preços do boi gordo passam grande parte da safra muito estáveis, quando tradicionalmente há queda de preço. Em relação ao ano passado, o patamar do indicador Cepea/Esalq está na casa dos R$103-105/@, muito acima dos valores de jan-abr de 2010 - R$75-82/@. O boi subiu até novembro-2010 e se manteve em outro patamar de preços desde então. Uma demonstração de firmeza de preços.
Gráfico 1. Indicador do preço do boi gordo em SP, R$/@ a vista
Fonte: Cepea/Esalq, elaboração BeefPoint.
O mercado de bezerros também está firme. Subiu menos que o boi. Ou seja, a relação de troca e margem bruta na reposição (quanto sobra ao vender um boi gordo e comprar um bezerro) estão melhores para o invernista e confinador. Mas não há sinais de que teremos preços muito baratos do bezerro. O custo de produção de uma arroba de bezerro é alto e o prazo longo, com isso, mantemos nosso cenário de preços firmes para o bezerro.
Gráfico 2. Indicador do preço do bezerro em MS, R$/@ a vista
Fonte: Cepea/Esalq, elaboração BeefPoint
No mercado interno, os preços da carne no atacado e no varejo também subiram, mas menos que o boi gordo. Isso indica que a margem do varejo diminuiu de um ano para cá (depois ter passado alguns anos subindo) e que a margem do frigorífico na carne também diminuiu (não analisamos couro e sebo a fundo, mas os preços subiram contrabalanceando um pouco essa queda de margem).
A diferença entre o preço da carne e do boi gordo (margem dos frigoríficos) de janeiro a outubro do ano passado foi excelente, muito acima das médias históricas. Hoje não está tão boa, o que é um freio para grandes valorizações da arroba.
Gráfico 3. Diferença (Spread) entre indicador do boi gordo e equivalente físico, R$/@
Fonte: Cepea/Esalq e Intercarnes, elaboração BeefPoint
Nas exportações, o grande problema é o dólar, que segue se desvalorizando. Entre abril de 2010 e 2011, caiu 9%. Com isso, o boi gordo em dólar se valorizou 40% em um ano. As exportações estão subindo em valor, mas caindo em volume. E o grande aumento do preço médio da tonelada exportada (32%) é menor que o aumento do boi em dólares, diminuindo a rentabilidade na exportação.
Ou seja, os preços estão firmes e há alguns fatores que vão pressionar o preço do boi nos próximos 2-3 meses (aumento da oferta com a safra, talvez acelerado pelo frio nesse início de maio) e também pela menor margem dos frigoríficos com a carne no mercado interno e exportações.
E o segundo semestre?
No segundo semestre, a grande pergunta é o volume de animais confinados. Em relação ao ano passado a avaliação no geral é mais positiva (preço boi magro, preço dos insumos e preço futuro do boi gordo), mas nada muito estimulador. As pesquisas que estamos fazendo no BeefPoint indicam confinamentos de frigoríficos bem maiores (desde que consigam comprar boi magro no volume desejado), e entre produtores confinamento crescendo por volta de 10%.
No entanto, esse crescimento parece estar mais concentrado nos estados de Goiás e Mato Grosso, o que ativa o alerta para produtores desses estados em relação a quando irão abater seus animais. Com frigoríficos operando confinamentos e maior volume de animais confinados é arriscado concentrar muito o abate no mês de maior saída do cocho, podendo ocasionar preços bem mais baixos nessas regiões em pequenos espaços de tempo. Ou seja, o volume não será muito maior, mas em determinados locais e momentos, o preço pode sofrer grandes pressões.
Avaliando os preços futuros para a setembro, outubro e novembro, avaliados em 4 de maio (data que finalizo esse artigo), a diferença projetada da entressafra para a safra (preços de hoje) é muito pequena, indicando que teremos o pior diferencial de preços safra-entressafra em muito anos. É possível que isso se confirme? Sim, mas possível sim que o preço se recupere um pouco mais na entressafra do que os valores indicados no mercado futuro hoje.
Conclusão
O cenário de médio-longo para a pecuária brasileira é muito promissor. Demanda crescente e poucos países aptos a atender essa demanda. No curto prazo, a perspectiva também é boa, mas vale reforçar a necessidade de se atentar a uma nova realidade de custos e preços mais altos, onde a diferença de rentabilidade do produtor eficiente para o ineficiente é muito grande. Se torna cada vez mais importante o profissionalismo, gestão, produtividade e saber vender e comprar bem.
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