Um mês após anunciar o embargo à importação de carnes de frigoríficos de três Estados do Brasil, os russos concordaram em reabrir seu mercado ao produto nacional. Até o fim de julho, a Rússia deve formalizar sua decisão em uma teleconferência.
Uma missão técnica negociou, na semana passada, em Moscou, a reabilitação. Durante dois dias, o grupo brasileiro tentou convencer o Serviço Veterinário da Rússia a derrubar o embargo, iniciado em 15 de junho. Das 236 plantas auditadas, 143 serão habilitadas a exportar novamente. Outras 93 seguirão com "restrições temporárias" até o cumprimento das normas e padrões russos. O Brasil enviará nova lista de estabelecimentos aprovados. Os russos pediram garantia de abastecimento mesmo com a redução do número de fornecedores. E exigiram o combate a embarques não autorizados ou contrabandeados de carne para Rússia e Ucrânia.
O governo avalia que indústrias e importadores "têm fôlego" para aguardar até o fim de julho. Houve grande volume de embarques até 15 de junho. Em 15 dias, segundo o Ministério da Agricultura, foram exportados o equivalente a dois meses de vendas. "Por isso, a grita diminuiu", diz uma fonte oficial.
Pesou para a decisão da Rússia o anunciado investimento de R$ 50 milhões na rede nacional de laboratórios. Para liberar as importações, os russos impuseram um "curso de treinamento" dos profissionais dos laboratórios, em instalações russas, para atender às exigências de controle, padronização e certificação.
O secretário de Defesa Agropecuária, Francisco Jardim, disse que estava "muito preocupado" com os resultados negativos da inspeção russa ocorrida em abril. Foram criados dois grupos de trabalho para avaliar métodos de inspeção e segurança laboratorial.
O czar russo da sanidade, Sergei Dankvert, participou das negociações e avalizou pessoalmente a reabertura. Dankvert virá ao Brasil em breve. Nova missão deve vir ao Brasil para uma "inspeção adicional" em "três ou quatro" Estados.
Os russos gostaram das explicações técnicas da missão brasileira. Mas, por uma questão de sinalização, decidiram aguardar alguns dias para oficializar a reabertura. "Se fosse para dizer não, teriam dito na hora. Mas para dizer sim, eles demoram um pouco mais. É parte da cultura russa, do estilo durão deles", diz uma fonte do governo.
Os russos fizeram, porém, algumas ressalvas ao trabalho brasileiro, apontando uma "condescendência" com as chamadas não conformidades. Questionaram o porquê de sua missão técnica, de abril, ter desabilitado 30% das plantas visitadas e a fiscalização do Ministério da Agricultura ter deixado de fora apenas 10% das plantas auditadas. Esse "ruído inicial" ocorreu segunda-feira passada, primeiro dia da reunião. Os brasileiros aproveitaram o intervalo da terça-feira para reunir argumentos.
Na quarta-feira, segundo dia do encontro, explicaram que a diferença percentual decorria da desabilitação prévia feita pelo Brasil antes de enviar uma nova lista de estabelecimentos em condições de exportar à Rússia. Até o embargo, havia 209 plantas habilitadas. Depois, ficaram 125 unidades. A defesa convenceu os russos.
Dessa vez, os russos elogiaram a rapidez do Brasil, à semelhança da Dinamarca, em responder novos questionamentos. Informaram que levariam "alguns dias", mas divulgariam uma nota pública sobre a reunião para "tranquilizar" o mercado internacional.
A matéria é de Mauro Zanatta, publicada no Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.
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