terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Boi Gordo - um olhar para a última década

O ano chega ao fim e, como de praxe, é hora de fazer um balanço de como os resultados se comportaram durante 2010.
Os preços pagos pela arroba do boi gordo surpreenderam os mais otimistas dos analistas. O preço do boi entrou em janeiro de 2010 cotado a R$75,55/@ a vista (Cepea/Esalq/USP). Na penúltima semana de dezembro, a cotação média era de R$104,44 pela arroba do boi gordo, a vista, valor 38,2% mais alto do que o preço inicial do ano.
Entre os primeiros e os últimos dias do ano, a cotação da arroba ainda passeou pelos incríveis R$116,48 a vista em São Paulo. Foi o valor mais alto registrado pelo Cepea que calcula o indicador de preços do boi. O recorde ocorreu em novembro.
Novembro também foi o mês de pico nas cotações da arroba do boi gordo, quando se considera médias mensais. Observe, na figura 1, a evolução nominal dos preços pagos pela arroba em 2010.
Figura 1.
Preços médios nominais, a vista, pagos em São Paulo pela arroba do boi gordo – R$/@



Fonte: Cepea – elaboração Bigma Consultoria
Embora os preços tenham recuado em torno de 7,2% em dezembro, quando comparado ao mês de novembro, ainda assim dezembro representa um ganho significativo nas cotações do boi gordo.
Na média de outubro, novembro e dezembro, o preço do boi foi 30,22% acima do valor de maio de 2010, geralmente considerado mês de referência para o início da entressafra.
O preço de 2010 fechou em patamares cerca de R$15,00 a R$20,00 por arroba acima do que muitos esperavam no início do ano. Foi um ano de valorização forte.
Analisando a evolução dos preços durante a última década, é possível constatar que em 2010 foram registrados os valores mais altos do período, quando se considera médias mensais. Observe a figura 2.
A análise gráfica pode levar ao erro de imaginar que estaríamos em um novo ciclo de alta dos preços, sendo que o último teria sido em 2008. Mas a verdade é que ainda estamos no mesmo ciclo de alta, iniciado em 2007 e cujas características foram alteradas pelos acontecimentos dos últimos três anos.
Não teria havido tempo para que ocorresse a reversão na oferta.
Figura 2.
Preços médios corrigidos pelo IGP-DI, a vista, pagos em São Paulo pela arroba do boi gordo entre jan/01 e dez/10



Fonte: Cepea – elaboração Bigma Consultoria
A análise do ciclo pecuário baseia-se na oferta de animais para abate. É o reflexo das decisões adotadas no campo intuitivamente pelos produtores que buscam fazer caixa para se manter.
Funciona de maneira simples, com base na lei mais comum de mercado: oferta e demanda. Quando a oferta de bezerros é elevada, gradualmente aumenta também a oferta das categorias seguintes. Em determinado momento, caem os preços do boi gordo, cujas cotações vão refletindo nos animais de reposição e, finalmente, na cotação dos bezerros.
Com a queda na cotação dos bezerros, as fazendas especializadas na produção de bezerros vêem necessidade de vender animais mais pesados, ou seja, as vacas em condições de reproduzir na safra seguinte. Aumenta a porcentagem de fêmeas abatidas no total, o que também contribui para pressionar a cotação da arroba neste momento.
Pois bem, em pouco tempo os bezerros que nasceriam daquelas matrizes, que foram abatidas, farão falta no mercado, revertendo o processo gradativamente. A valorização começa nos bezerros e vai até o boi gordo.
Com preços atraentes dos animais jovens, os produtores começam a segurar as matrizes que em breve sobre ofertarão novamente o mercado, iniciando um novo ciclo. Basicamente é assim que acontece o ciclo pecuário.
Muitas vezes, de maneira simplista, tenta-se traçar tendências do ciclo pecuário olhando apenas o lado da oferta de animais. No entanto, o que interessa é o balanço entre oferta e demanda.
No período entre 2009 e primeiro semestre de 2010 foram muitos os artigos e análises concluindo que o período de alta já teria passado. No entanto, em 2010 é registrado o valor mais alto da arroba de toda a década, quando se corrige os preços pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), calculado pela Fundação Getúlio Vargas.
Diversos fatores e variáveis influenciam o equilíbrio da balança entre oferta e demanda. Ora favorecem, ora desfavorecem os preços de mercado. Sendo assim, enquanto a crise financeira global afetaria negativamente, o aquecimento interno do consumo traria impactos positivos ao mercado.

Por isso é temerário traçar cenários com base apenas na oferta. Até o início da década de 90 era possível, pois o mercado era regularizado e o principal fator que alterava oferta e demanda era a produção no campo.
Atualmente, no entanto, o mercado consumidor brasileiro é bem dinâmico. A indústria frigorífica é forte e concentrada e o Brasil é o principal exportador global de carne bovina. A própria economia é muito diferente da de alguns anos atrás.
A pecuária atual é desafiada por variáveis que inexistiam até antes do plano Real.
E durante todo o período do plano Real podemos dizer que vivemos 2,5 ciclos pecuários. Por isso ainda há de se amadurecer a forma com que se analisa o impacto de todas estas variáveis nas decisões que acontecem nas fazendas.

Na prática, o produtor não percebe aumento de oferta para decidir se abate ou não as vacas. O que ele percebe é a queda dos preços, o que pode ser ocasionado por diversos fatores.
Mas já podemos dizer que a cada ciclo pecuário daqui em diante, o produtor brasileiro terá que se adaptar a uma oferta cada vez maior. Tal cenário tende a provocar um prolongamento dos períodos de alta de cada novo ciclo pecuário que ainda está por vir.
É possível conjecturar por páginas e páginas, mas ao final fica a mesma pergunta de sempre: qual é a estrutura atual do rebanho brasileiro?
Essa pergunta resume diversas outras: quantos animais existem em estoque para a próxima safra? Quantos bezerros e bezerras para daqui duas safras? Quantas fêmeas em condições de reproduzir?

Esbarramos sempre na qualidade estatística dos números brasileiros e na diversidade de sistemas de produção e respostas tecnológicas a estímulos de preços.
Voltando à análise de preços, o ano de 2010 fecha também com o segundo maior valor médio anual do boi gordo durante o período de 2001 a 2010.
O preço é o de São Paulo, a vista, segundo acompanhamento diário do Cepea. Observe a figura 3.
Figura 3.
Preços médios anuais corrigidos pelo IGP-DI, a vista, pagos em São Paulo pela arroba do boi gordo entre 2001 e 2010



Fonte: Cepea – elaboração Bigma Consultoria
Apenas em 2008 os preços foram mais elevados do que os de 2010. E mesmo com preços mais elevados, foi em 2010 que o pecuarista obteve os melhores resultados.
Apesar das cotações elevadas em 2008, todas as commodities e demais insumos usados na produção pecuária estavam com também com preços altos. Com isso, o custo de produção em 2008 foi mais elevado do que o de 2010, com os preços mais baixos.
Numa análise comparativa entre preços e custos de produção, a margem de 2010 teria sido 20,5 % superior à margem de 2008. Ainda em relação à 2009, o resultado da pecuária de corte teria melhorado 16% em 2010. Os custos de produção recuaram 3,25% em relação a 2009, enquanto os preços do boi aumentaram 12,81% em valores nominais.
Observe as margens comparativas ilustradas na figura 4, que considera 2001 como índice 100.
Figura 4.
Índice relativo de margem de lucro na pecuária de corte, considerando 2001 como base 100



Fonte: Bigma Consultoria – com informações do Cepea e IEA
Evidentemente que a análise resumida na figura 4 considera uma propriedade estabilizada, cuja tecnologia foi mantida. Trata-se de uma análise econômica com base na composição dos custos de produção e na evolução dos preços dos componentes de custos.
Na prática, o aumento de eficiência, ou a redução da mesma, melhora ou piora o cenário. De qualquer forma, desde 2004 que o mercado não era tão favorável aos produtores em termos de resultados.
E os resultados foram favorecidos para toda a pecuária, desde a cria até a terminação. A análise dos preços mostra ao final do ano a cotação do boi gordo descolou em relação à cotação do bezerro. De fato! Mas o processo apenas recuperou a sobre valorização do bezerro no primeiro semestre do ano.
Na média de 2010, enquanto a valorização nominal da cotação do boi foi de 10,81%, a cotação dos bezerros aumentou 9,63% sobre 2009. Observe, na figura 5, a evolução mensal da cotação do boi e do bezerro, segundo o Cepea.
Figura 5.
Índice de Preços do Boi Gordo e do Bezerro (Base =jan/09)



Fonte: Cepea – elaboração Bigma Consultoria
A relação de troca melhorou sensivelmente aos compradores durante 2010.
Para 2011, ao que tudo indica, a demanda será mais importante do que a oferta para definir os preços do ano. Há quem acredite que exista um estoque de animais considerável para terminar durante o ano. Esse estoque poderia pressionar o preço nos próximos 12 meses.
De qualquer maneira, duas coisas são praticamente certas para 2011. Os custos de produção serão significativamente mais elevados em relação ao de 2010. Imagina-se custos da ordem de 10% a 15% superiores, na média do ano.
Mesmo assim, o pecuarista tende a ficar empolgado com os resultados de 2010, o que aumentará o esforço para incrementar a sua produção durante o ano.
Mas persiste a pergunta. Mesmo que a oferta aumente, será suficiente para cobrir o aumento da demanda

FONTE: BIGMA CONSULTORIA

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