Esse fato afeta diretamente a rentabilidade do produtor. Ele sabe que se intensificar o seu projeto, melhorando a genética, a nutrição, o controle sanitário e a gestão, será recompensado na hora de abater o seu gado.
Não se trata de teoria; é fato. A Associação Brasileira de Angus (ABA) acaba de divulgar balanço do seu programa de carne certificada. Em 2010, as vendas de gado enquadrados nessa categoria (jovem, peso ideal, boa cobertura de gordura etc) aumentou 70%. No total, foram 135 mil cabeças, o que representa ‘apenas’ 1,6 mil toneladas, mas se trata de uma evolução percentual muito expressiva, especialmente se comparada aos anos anteriores do programa, criado pela entidade em 2003.
Além de haver demanda certa para essa carne diferenciada, o aumento do abate é explicado pela motivação do pecuarista em participar da iniciativa. Afinal, a bonificação pode chegar a 10% acima do preço de mercado da arroba do boi gordo. É uma recompensa indiscutível para o investimento na criação de animais altamente produtivos.
Obviamente que o volume ainda é pequeno. Longe de representar um fato negativo, significa que há um enorme potencial a se explorado e a ABA está priorizando o seu programa de carne certificada. Há mais iniciativas nesse sentido, o que também é muito bom para a pecuária como um todo. Sinal de que as raças bovinas, elos essenciais na cadeia da carne bovina, voltam seus programas de melhoramento genético para a eficiência produtiva, gerando bezerros mais pesados e precoces.
Nesse processo, também é essencial que os frigoríficos estejam engajados e igualmente comprometidos, valorizando o trabalho feito nas fazendas. O programa de carne certificada Angus já foi implantado em 11 unidades de abate de Marfrig, Frigorífico Silva, Frigorífico Gruta e VPJ. São três plantas a mais do que no ano passado, o que confirma que a indústria também enxerga no produto de qualidade um diferencial importante e de alto valor agregado.
Pode parecer pouco. E é. Porém, representa um enorme avanço em relação ao passado recente da produção de carne, com pouca – ou nenhuma – comunicação entre produção e indústria. Um dos fatores era a reconhecida necessidade de os pecuaristas impulsionarem a qualidade genética e produtiva dos seus empreendimentos. Além disso, havia pouca (ou nenhuma) valorização do gado diferenciado na hora do abate. Com isso, o criador não se motiva a investir e do outro lado o frigorífico não tinha gado bom em quantidade suficiente para atender à demanda interna e externa.
O diálogo foi criado e prospera positivamente para pecuaristas e indústrias. Não resta dúvida que há um longo caminho pela frente, mas a partida já foi dada. A primeira ação é ampliar a oferta de carne de qualidade no mercado interno, reduzindo por exemplo a necessidade de importação de picanha argentina e uruguaia. No futuro, esse processo pode mudar a imagem da carne brasileira no mercado internacional. Atualmente, nosso produto é comercializado pela metade do preço de nossos vizinhos do Mercosul. Adicionalmente, estamos fora dos maiores consumidores do mundo, como Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, Canadá e México. Claro que há componentes sanitários, por conta da febre aftosa, mas também reconhecemos que precisamos oferecer carne mais saborosa. E estamos trabalhando nesse sentido.
* Empresário e pecuarista, é proprietário da Casa Branca Agropastoril, especializada na criação de gado Angus, Brahman e Simental sul-africano, e acaba de assumir a presidência da Associação Brasileira de Angus (ABA).
FONTE: AGROLINK
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