Ano foi excelente para os pecuaristas ganharem dinheiro, que foram pegos de surpresa e sem boi para vender
Uma disparada nos preços da arroba do boi marcou 2010 para a cadeia produtiva da carne. Pecuaristas e indústria tiveram um ano atípico, com escassez de produto e uma revisão sobre em qual mercado consumidor é mais vantajoso investir.
O ano foi excelente para os pecuaristas ganharem dinheiro, mas eles foram pegos de surpresa e sem boi para vender. O criador mineiro José Borges Bento, de Uberaba (MG), mandou para o abate 300 animais, 150 a menos do que no ano passado, e só conseguiu terminar a engorda porque fez uma parceria com um frigorífico. Ele conta que já vinha reduzindo o rebanho há três anos.
O clima mais seco dos últimos anos foi um dos fatores que provocou a redução da oferta de animais.
– Adversidades do clima e coisas que já eram previsíveis. Teve um período seco mais prolongado bastante acentuado, mas o produtor não estava preparado para confinar o gado – explica o diretor de compras de frigorífico Hércio Dias de Souza Filho.
A escassez de gado no pasto é reflexo, principalmente, do abate de matrizes no passado, como explica o analista de mercado José Vicente Ferraz.
– Você teve um grande abate de matrizes e uma redução do bovino nacional que atingiu o pico em 2005. Nós tivemos, no ano de 2005, os preços recordes de baixa de toda história desde que se tem séries históricas sobre o preço do boi. E esses preços excepcionalmente baixos trouxeram prejuízos para o produtor. Em uma situação em que o produtor está tendo prejuízo, ele obviamente não investe no negócio. No caso esse não investimento significa abater fêmeas e matrizes – comenta Ferraz.
Cinco anos depois, o resultado é falta de boi e preços em disparada. O aumento foi maior no segundo semestre de 2010. Tendo São Paulo como base, em janeiro a arroba estava em R$ 76. O pico foi registrado em novembro, quando as cotações atingiram R$ 115, uma alta de 51%.
– O preço mergulhou e veio em queda e até mesmo entrou 2010 em queda. Fevereiro nós tivemos um pico de baixa, ainda desse ano. A partir de março é que começa novamente a recuperação de preços. Aí ele se estabiliza um pouco em um patamar um pouco melhor, vai aproximadamente até agosto e aí começa esse rali – lembra Ferraz.
O ano foi atípico para a pecuária de corte. A falta de boi no mercado obrigou os frigoríficos a trabalharem abaixo da capacidade. Além disso, o câmbio desfavorável para as exportações fez as empresas priorizarem as vendas para o mercado interno.
O frigorífico Mataboi, de Araguari, no Triângulo Mineiro, trabalhou com 60% da capacidade e reduziu as vendas para o Exterior. Os preços afastaram os importadores.
– Basicamente o que aconteceu no segundo semestre principalmente e que ocasionou esta alta expressiva na arroba do boi e tornou o Brasil não competitivo lá fora foi a política cambial adotada pelo país. O real está muito valorizado e na hora de negociarmos lá fora nós percebemos que os importadores não têm como acompanhar toda esta alta de pré-preço que foi praticada no Brasil. Então, o abate brasileiro atualmente está quase que na totalidade atendendo mercado local – explica o vice-presidente do frigorífico, Eduardo Farina.
Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Camardelli, quando o assunto é exportações, o fator cambial tira a competitividade de todos os setores da economia brasileira. No caso da carne, isto não é diferente.
– Os paises diretamente competidores no mercado externo passam a ter momentaneamente as mesmas condições de competitividade. E aí o desempate fica por conta de distância, logística e custo de frete. Esse fator cambial e essa harmonização de preços do gado externamente fizeram com que países que estavam latentes voltassem a fazer oferta no mercado novamente. Se nós falarmos dos pilares básicos, hoje são praticamente todos adversos. Você tem uma oferta reduzida, um mercado com um apetite menor pela não resolução completa da crise de 2008, e você tem o fator cambial – avalia Camardelli.
O pecuarista José Borges Bento, para não ser pego desprevenido outra vez, planeja investir mais em 2011. Ele acredita que vai demorar de quatro a cinco anos para a pecuária brasileira se recuperar. Mas mesmo sabendo que não será tão simples assim aproveitar o bom momento do mercado, não quer deixar a chance passar.
FONTE: CANAL RURAL
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