segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O ano da carne

Para os criadores de gado, o ano de 2010 foi glorioso. As cotações bateram recorde atrás de recorde. A alta do preço da carne de boi no açougue pode ter sido pesada para o consumidor. Mas teve uma influência favorável para os criadores de frangos e suínos. O Nélson Araújo registrou o clima do setor.
Os produtores de carne recuperaram o fôlego em 2010. Todos têm motivo para comemorar, com mais ou menos entusiasmo. No mercado do frango, o Brasil ampliou de novo as exportações, passando outra vez os Estados Unidos. De cada dez frangos exportados no mundo, quatro foram produzidos no Brasil. No entanto, no município de Holambra, em São Paulo, a avaliação do avicultor Waldomiro Guarnieri não é de muita euforia. “O ano de 2010 para a avicultura foi razoavel”, disse.

Como 95% dos produtores de frango, Waldomiro Guarnieri está no sistema de integração. A empresa para quem trabalha lhe manda o pintinho, a ração e dá a assistência técnica. Ele vigia a engorda.
No sistema de integração o pagamento é feito de acordo com uma tabela que independe das oscilações de mercado. O ganho do produtor varia conforme o resultado do lote. Quanto mais o frango engorda e quanto menos ave morre na granja, mais ele ganha.
Ao contrário de 2009, em 2010 houve reajuste da tabela. Os aumentos variaram de 6%, em Santa Catarina, a 10%, em São Paulo. Mas, só vieram no segundo semestre. O presidente da Associação Paulista de Avicultura, Érico Pozzer, disse que a reação deu apenas para equilibrar. “Nós precisamos ganhar dinheiro em 2011. A gente vem de dois anos muito machucados. E 2010 vai ficar no zero a zero. Nós vamos apenas empatar”, calculou.

De todo modo, o brasileiro passou a comer mais frango, que dispara na liderança do consumo de carnes, o que animou Waldomiro Guarnieri a ampliar a granja. Há uma área pronta para receber outro galpão. Ele está convencido que para faturar mais precisa buscar ganhos de escala. “Nós estamos confiantes que no ano de 2011 as exportações vão continuar. O mundo virá comprar o frango brasileiro”, justificou.

O mundo deve continuar querendo também o nosso boi. Aliás, no ano que passou o consumidor brasileiro sentiu no bolso o que é comprar carne no mercado globalizado.
As donas de casa se assustaram com o custo da carne de boi em 2010. Alguns cortes chegaram a dobrar de preço. Um dos motivos que provocaram esse aumento foi a falta de boi no mercado. Faltou boi porque faltou vaca. É demorado para um bezerrinho ficar pronto para o abate.
A fazenda do seu Ilias de Oliveira fica no município de Monte Alegre, na divisa de Minas Gerais com Goiás. Ele faz o ciclo completo: cria, recria e engorda. Tem oito mil vacas para produzir bezerros. São as chamadas matrizes. Vicente de Souza é capataz num dos retiros.

No boi a pasto, da cobertura ao frigorífico são quatro anos. Acontece que por volta de 2005/2006 o preço estava muito baixo. Mal cobria os custos de produção. O seu Ilías disse o que o produtor faz nessas horas.
“Na falta de capital, o criador lança mão da matriz para se salvar. O preço não estava incentivando muito, o que causou essa falta de gado”, explicou seu Ilías.
Na virada de 2006/2007 muitos produtores mandaram para o frigorífico as matrizes que iriam parir a safra de 2010. Como resultado o preço da arroba explodiu. Passou o primeiro semestre na faixa dos R$ 80. Depois, foi subindo quase todo dia, sendo que, em meados de outubro, rompeu a barreira dos R$ 100 segundo a média calculada pelo Cepea.

De um modo geral, quem mexe com boi ganhou dinheiro em 2010. Mas quem estourou a boca do balão mesmo foi o pessoal que trabalha com confinamento. Eles tinham o animal pronto para o abate justo no pico do aumento.
O pecuaristas da região central de São Paulo, nos municípios de Sales e Novo Horizonte, Diogo Castilho e Fernando Costa pegaram a alta da alta.
“Eu consegui vender por R$ 113 a vista”, disse Castilho.
“Eu vendi por RF$ 120 a prazo”, falou Costa.

Além da matança de matrizes,Fernando e Diogo apontam outras causas que puxaram a cotação. Uma delas foi a seca prolongada que afetou praticamente todas as regiões pecuárias. A falta de pasto adequado atrasou a terminação e a preparação de bois para o confinamento. Desestimulados pelo preço baixo no primeiro semestre, muitos criadores confinaram menos este ano. Também contou muito o crescente aumento do consumo nos países emergentes, puxando o preço internacional. Quer dizer: tem mais gente em condições de comprar carne e menos bife no mercado.

Em dezembro, a cotação do boi gordo caiu e o mercado sinalizou que o tempo da vacas obesas que os criadores tiveram passou. Mas, houve uma conquista de patamar de preço. Ninguém acredita que a cotação retroceda abaixo dos R$ 90 por arroba. E o custo mais alto trouxe uma conseqüência curiosa no ranking das carnes, fazendo com que quem está na lanterna tenha mais animação para comemorar.

Além da confraternização, na festa de fim de ano os suinocultores tiveram uma alegria a mais para comemorar. O ano de 2010 vai entrar para a história. O resultado foi bem melhor do que se esperava.
“É um ano para fechar com chave de ouro. E 2011 também será”, avaliou o suinocultor Roberto Manhaosso.
Foi uma festança daquelas num salão elegante da capital mineira. No cardápio, a carne de porco brilhou. Havia uma constelação de pratos de base suína: travesseiro de leitão, recheado com farofa; escondidinho de costela assada e couve crocante; crostini de pernil; mini abóbora com joelho cozido na gordura por sete horas e espeto de damasco com presunto.

Por que tanta festa se o porco fica em último lugar no ranking de consumo de carne, no Brasil?
Em primeiro está o frango, com 43 quilos por habitante, por ano; em segundo, o boi, com 36 quilos por habitante; e em terceiro, a carne de suíno, com 15 quilos por habitante, por ano.
Acontece que na tabela de aumento anual de consumo o porco foi o campeão de 2010. O boi ficou em último, com aumento de apenas 1,4%. O frango cresceu 7,2%. E o consumo de carne suína aumentou 8,2%. Quer dizer que em 2010 a carne suína conquistou território, aumentando seu mercado.
José Arnaldo Cardoso Penna é criador independente, vice-presidente da Associação dos Suinocultores de Minas Gerais. Ele explicou que o mercado de carne suína aumentou porque a carne de boi ficou cara demais. O consumidor buscou alternativa no porco. A demanda maior repercutiu na cotação, que também bateu recordes: de R$ 2,60 por quilo chegou aos R$ 3,60, mantendo-se no pico da alta por quase três meses.

Teve criador que enfrentou dificuldades com a alta da ração de agosto para frente. Mas para quem estocou comida, aproveitando os preços baixos do primeiro semestre, o lucro do ano foi muito bom. Tanto que algumas semanas antes do Natal os funcionários da granja tiveram uma notícia surpreendente.
“Em função dos bons resultados da granja, consequência do bom trabalho dos funcionários este ano, nós vamos dar uma gratificação equivalente ao 14º salário”, avisou o criador.
Nos últimos dias de dezembro, o preço do suíno começou a recuar, surpreendendo os criadores que esperavam mais altas com as festas de final de ano. Mas, no acumulado de 2010, os resultados são bons.

FONTE: GLOBO RURAL

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