sábado, 29 de janeiro de 2011

Qual a melhor forma de vender carne no momento atual de mercado

Carne bovina é vista pelos consumidores como um produto especial. Churrasco é ainda mais especial. Em momentos especiais de nossas vidas, pedimos um bom pedaço de carne para comemorar. Nenhuma outra proteína animal é tão escolhida para momentos marcantes. Há uma relação muito forte, já estabelecida em muitos lugares do mundo, entre carne bovina e ocasiões comemorativas. Essa é uma das maiores forças da carne, e pode (precisa) ser mais explorada.
O preço da carne sempre foi alto em relação a outras proteínas e hoje está ainda mais alto. O consumo se mantém pois a renda do brasileiro (e de muitos outros países emergentes) cresce. No supermercado de Piracicaba/SP, onde moro, há carnes beirando os R$50/kg há várias semanas.
Vários outros produtos seguiram um caminho de diferenciação, saindo da commodity para maior especialização, foco em qualidade, sabor e formas de tornar cada produto especial, diferente e único. O exemplo clássico é o vinho. Há pouco tempo o Brasil só produzia vinhos baratos e ruins. Outros países como Argentina também não tinham fama de alta qualidade. Hoje todos investem em qualidade, em sistemas que garantam que o vinho seja o melhor possível, ao mesmo tempo que se procura reforçar o melhor de cada região e de cada variedade.
Outros bons exemplos são o café e o azeite. Há muito tempo se vendeu apenas quantidade, hoje há variedades, sabores, e preço superior. Como no vinho, o consumidor aprendeu a conhecer o que é bom e hoje procura isso. O caso do azeite é interessante pois mesmo as grandes marcas estão se dedicando a entregar qualidade superior. O azeite extra virgem é quase que uma unanimidade hoje e cada vez se procura mais diferenciação. A gôndola de azeites no supermercado de uma cidade média no Brasil é cheia de opções, regiões e variedades.
Mais do que tornar cada produto melhor, que pode ser feito utilizando as melhores práticas de produção e industrialização, o vinho, azeite e café procuram também valorizar o que há de especial, de notável, diferente em cada região e variedade. Isso gera variedade e escolha e é uma forma muito interessante de educar o consumidor a entender que há mais opções e que vale a pena fazer essa viagem de sabores.
Tudo isso pode ser muito aplicado a carne bovina, principalmente por ser um produto de ocasiões especiais.
Por outro lado, a carne bovina vem enfrentando problemas na questão de sabor e garantia. Um dos grandes debates de 2010 foi a maior frequência de casos de carne com sabor de fígado, ainda sem uma resposta defintiva sobre o problema. O fato é que enquanto outros alimentos se diferenciam e se vendem de forma mais rebuscada no Brasil, a primeira opção em alimento comemorativo está enfrentando um problema de baixa qualidade, ainda não resolvido.
Isso aumenta a urgência de ação. Há oportunidade: as mesmas tendências que impulsionam o mercado de café, vinho e azeite podem impulsionar o mercado de carnes especiais. As pessoas, no Brasil e no mundo, consomem opções especiais desses produtos pois têm mais renda, querem conhecer e degustar mais sabores. Outro fenômeno é o aumento das refeições fora de casa (típico de aumento de renda) e também o maior interesse por gastronomia (em casa ou fora dela). Há mais gente com renda, não só na classe C. Também há mais ricos no mundo.
E carne especial não é um produto apenas para ricos, mas um produto para ocasiões especiais. Quanto maior a renda, maior a frequência de consumo, mas muitas faixas de renda podem consumir produtos especiais, mesmo que não seja no dia-a-dia. Isso aumenta ainda mais o potencial de consumo.
No caso da carne bovina, há três vertentes possíveis de diferenciação. A primeira é a região. Há lugares onde a produção de carne bovina é mais propícia, e isso pode ser muito bem explorado. Isso pode acontecer desde o pampa gaúcho, até o vale do araguaia.
Outra oportunidade são as raças especializadas. Há clara comparação com as variedades de uvas para vinho. Cada uma com sua característica, diferenças e qualidades. É preciso explorar o que cada uma tem de bom. Mais do que tentar ser o melhor comparativamente, acredito que o mais eficaz é buscar produzir a carne de cada raça explorando o que se tem de mais peculiar, único e diferente. Da mesma forma que se busca fazer um excelente vinho Carmenére e não tornar essa variedade melhor que a Cabernet.
E a terceira oportunidade são os sistemas de produção. O gado terminado em confinamento ou com uso de grãos mais intenso (como o semi-confinamento) geralmente tem idade mais jovem e maior acabamento de gordura, duas exigências para maciez. Por outro lado, há uma tendência mundial em busca de alimentos naturais e a carne a pasto se insere perfeitamente nessa demanda.
Há espaço para cada um, não adianta bater de frente, mas cada um deve buscar seu segmento de mercado. Os consumidores que procuram uma carne mais magra (por questões de saúde e dieta) não são os mesmos que procuram uma carne especial para churrasco com mais gordura por exemplo. Ou pelo menos a ocasião de consumo não será a mesma.
Mais renda e mais conhecimento ampliam a variedade de interesses: há mais demanda por carne extra magra e mais demanda por carne especial para churrasco. O mercado não se afunila, mas se expande.
Criar formas de ensinar, educar o consumidor de forma inteligente sobre todas essas possibilidades é muito promissor e ainda tem um efeito positivo no combate aos ativistas anti-carne que adoram aproveitar o desconhecimento e espalhar sua versão dos fatos.
Outro ponto positivo da busca pela valorização da carne de qualidade é que os frigoríficos podem usar esse trabalho como maneira de melhorar o relacionamento com seus melhores fornecedores. Nesses tempos de baixa oferta, isso se torna ainda mais importante.
Importante reforçar que o principal motivo que as pessoas comem carne bovina não é o preço baixo ou porque os médicos recomendam para uma dieta saudável. As pessoas comem carne pois a consideram deliciosa. Sem esquecer dos atributos nutricionais, é fundamental se lembrar do motivo número 1, o sabor.
FONTE: BEEFPOINT

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