O ano de 2010 surpreendeu todos os agentes do setor pecuário, com preços recordes. Dados divulgados pelo IBGE no final do ano mostram que o volume de abate mensal nos primeiros nove meses de 2010 foi maior que em igual período de 2009. Em março, a diferença chegou a 13%, em abril, a 12%, em maio, esteve a 10% e, em setembro, o aumento sobre o mesmo mês de 2009 foi de apenas 1,16%.
O peso médio das carcaças subiu cerca de 2% no primeiro semestre, em julho, estabilizou, e, em agosto e setembro, as carcaças pesaram, em média, 0,5% menos que em igual período do ano anterior. A queda de peso das carcaças no início do segundo semestre indica que o mercado estava absorvendo animais mais leves e isso teria impacto no curto prazo.
Apesar do aumento do volume abatido, a percepção de agentes de mercado era de oferta enxuta ao longo de todo o ano, especialmente no segundo semestre – agravada pela estiagem severa no Centro-Sul do País. Essa percepção, de fato, era corroborada pelos fortes reajustes dos preços da arroba e da carne.
Agora, com dados de abate em nove meses em mãos, constata-se que a força motriz do mercado foi mesmo a demanda, sobretudo a do brasileiro. Quanto às exportações, o volume embarcado de janeiro a novembro de 2010 foi 2,72% maior que o do mesmo período de 2009. A oferta, portanto, foi coadjuvante. Ainda que crescente, aparentava ser pequena dado o comparativo com o ritmo de vendas.
Com sucessivas altas de meados de maio a meados de novembro (por volta do dia 10), o Indicador do boi gordo ESALQ/BM&FBovespa (São Paulo, à vista – CDI e para descontar 2,3% de Funrural) acumulou alta de 47,2%, avançando de R$ 79,56 para R$ 117,18, sendo este o maior valor da série do Cepea, iniciada em julho de 1997, em termos reais (valores deflacionados pelo IGP-DI).
Praticamente no mesmo período (de 20/maio a 10/nov), a carne com osso negociada no atacado da Grande São Paulo valorizou 51,4%, considerando-se a carcaça casada de boi. O preço médio do quilo a prazo passou de R$ 4,86 para R$ 7,36, também recorde real da série do Cepea iniciada em 2001. Para o traseiro, o ganho foi de 49%, para o dianteiro, de 53% e, para a ponta de agulha, de 60%.
Após os picos em 10-11 de novembro, tanto a carne quanto a arroba perderam sustentação, voltando a ter alguns reajustes positivos apenas no final da segunda semana de dezembro. Assim como no primeiro semestre de 2010, o consumidor brasileiro foi o fiel da balança que desencadeou o aumento dos preços no final de dezembro.
Resistentes aos patamares que os preços atingiram, especialmente dos cortes “menos nobres”, consumidores passaram a buscar alternativas, o que acabou motivando, inclusive, forte valorização também das carnes de frango e suína. O frango resfriado e a carcaça comum suína valorizaram 43,8% e 18,8%, respectivamente, no segundo semestre (de 30 de junho a 27 de dezembro).
Nesse contexto, a cautela dos operadores das duas pontas esteve acentuada. Em grande parte do ano, as cotações da arroba oscilaram conforme a entrada e saída de compradores do mercado. Muitos negócios ocorreram basicamente quando havia urgência do comprador ou do vendedor.
A compra de animais de outros estados para abate em SP bem como a escala de animais de confinamentos próprios e contratados seguiram a tendência já observada em anos anteriores. No entanto, esse volume, acrescido dos arremates no spot, acabou não sendo suficiente para preencher as escalas de abate – dada a demanda –, o que resultou nas sucessivas altas ao longo de meses. Vale destacar ainda que, em muitas regiões, as negociações à vista se sobrepuseram largamente às vendas a prazo. A estiagem nas principais áreas pecuárias também agravou dificuldade de negociação de frigoríficos, ficando marcada na história de 2010.
As condições desfavoráveis das pastagens também interferiram nas negociações de reposição. Em meados do ano, a procura por esses animais desaqueceu, principalmente por bezerros. O maior valor do Indicador do bezerro ESALQ/BM&FBovespa (animal nelore de 8 a 12 meses, à vista, Mato Grosso do Sul) neste ano foi no dia 30 de novembro, de R$ 727,57, alta de 20% se comparada ao mesmo dia de 2009.
Fonte: Cepea
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