segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Estudo sobre a demanda de touros para pecuária de corte no Brasil


Introdução
O Brasil é um país com grande extensão territorial, detentor do maior rebanho comercial bovino do mundo e tem sua pecuária caracterizada majoritariamente por sistemas de produção extensivos, com pouca aplicação de tecnologias, o que reflete em baixos índices produtivos e reprodutivos.
Um dos principais gargalos da pecuária nacional é o baixo valor genético de seu rebanho, o que não permite inclusive o máximo aproveitamento de novas tecnologias a disposição dos pecuaristas. O melhoramento genético do rebanho é uma ferramenta que deve ser utilizada com este propósito por selecionar animais que são mais eficientes para estes ambientes, sem precisar alterá-lo. Esta ferramenta consiste em identificar animais com maior eficiência produtiva e reprodutiva e utilizá-los nos acasalamentos para disseminarem seus genes dentro de uma população. Os investimentos em genética geram resultados a médio e longo prazo, porém duradouros, pois quando inseridos genes favoráveis na população, estes genes automaticamente serão transmitidos aos seus descendentes.
Rebanho efetivo
Segundo o IBGE (2010), o Brasil possui o maior rebanho comercial bovino do mundo, superior a 209 milhões de bovinos. Cerca de 80% do rebanho é composto por animais de raças zebuínas (Bos indicus), que são animais de comprovada rusticidade e adaptação ao ambiente predominante no Brasil. Dentre as raças Zebuínas podemos destacar o Nelore, com 90% desta parcela (ABIEC).
Figura 1- Evolução do rebanho bovino brasileiro de 2005 a 2010.
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Pesquisa da Pecuária Municipal 2009-2010.
Tabela 1 – Efetivo de cabeças no Brasil e suas UF.
Fonte: IBGE, 2010.
Segundo números apresentados na Tabela 1, o maior rebanho se encontra na região Centro-Oeste qual se caracteriza por sistemas extensivos, com grandes rebanhos em propriedades com grandes extensões territoriais. Já a região com o menor rebanho bovino do Brasil é a Sul que se caracteriza por sistemas de produção mais intensificados e grande concorrência com várias outras atividades agropecuárias.
Figura 2 – Distribuição percentual do efetivo de bovinos por grandes regiões-2010.
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Pesquisa da Pecuária Municipal 2009-2010.
Inseminação Artificial no Brasil
Apesar do rebanho bovino destinado a atividade de corte ser muito grande, os baixos índices produtivos e reprodutivos geram uma taxa de desfrute muito baixa, subutilizando o potencial da pecuária nacional, e para aumentar estes índices é necessário promover o melhoramento genético do rebanho nacional.
A inseminação artificial (IA) é uma forma de acelerar o processo do melhoramento genético, pois possibilita o acesso a sêmen de animais com alto valor genético e que normalmente não estão disponíveis para uso em monta natural. No Brasil o primeiro relato de utilização da técnica e datado em 1940, porém a técnica só alcançou impulso, comercialmente falando, a partir de 1970, quando surgiram as primeiras empresas especializadas na técnica (ASBIA, 2011). Mas ainda, a técnica era complicada de ser aplicada em rebanhos de corte, devido aos manejos que deviam ser adotados como a observação do cio, muitas vezes inviável em grandes rebanhos. Já com a popularização da técnica de sincronização de cio viabilizou, do ponto de vista de manejo, a maior utilização da técnica de IA em rebanhos de corte.
Segundo Dr. Lino Rodrigues Filho (Presidente da ASBIA e FEA/USP), “prática da IATF atingiu em 2011 cerca de 6,5 milhões de matrizes inseminadas, representando um crescimento de 70 vezes em relação ao ano de 200” (ASBIA, 2012).
Na Tabela 2 estão dispostas as doses comercializadas relacionadas apenas a rebanhos de corte, das raças mais representantes em numero de doses e rebanho total. Destaca-se a grande importância da raça nelore, onde o Nelore padrão mais o Nelore mocho representam quase que 50% de todo o sêmen comercializado.
Tabela 2 – Número de doses comercializadas de diferentes raças de corte no Brasil nos anos de 2009, 2010 e 2011, participação destas raças no total de doses comercializadas (PART %) e a evolução no número de doses comercializadas do ano de 2009 a 2011 (Evol %). 
Fonte: Adaptado ASBIA, 2011.
Deve-se ressaltar que mais de 50% das doses da raça Angus e Red Angus são importadas. Já a importação de doses de sêmen da raça nelore é quase nula (0,04%), e o Nelore sendo a principal raça responsável pela comercialização de sêmen, indica que nos somos os próprios consumidores da genética produzida no Brasil.
Demanda de touros brasileira
Apesar de ter crescido a utilização da técnica da IA, a maioria das propriedades ainda utiliza touros para cobertura a campo e demanda reprodutores geneticamente superiores. Mesmo as propriedades que utilizam a técnica da IA, necessitam de touros melhoradores para realizarem o repasse de suas matrizes que não emprenharam com a inseminação.
Segundo Embrapa (2004) apud Chaves et al., (2007), cerca de 58 milhões de vacas são naturalmente cobertas por dois milhões de touros numa relação touro/vaca de 1: 25. Considerando que a média de permanência do reprodutor num rebanho seja de cinco anos, existe uma demanda anual de 400 mil touros novos/ano para reposição devido a óbito ou descarte por problema clínico, sanitário, andrológico ou comportamental.
Pesa contra esse mercado o fato de a maior parte dos pecuaristas ainda usar animais próprios, sem índices de qualidade comprovada (Teixeira, 2009).Muitos pecuaristas utilizam seus melhores bezerros machos, popularmente conhecidos como “ponta de boiada” para tornarem reprodutores. Isto implica em vários problemas como a utilização de reprodutores sem comprovação nenhuma de superioridade genética e ocasiona o aumento da consanguinidade dentro do rebanho.
Simulação da demanda de touros
O objetivo desta simulação foi estimar o número demandado de touros anualmente pela pecuária nacional. Para a simulação touros utilizou-se as informações do efetivo de rebanho (cabeças) obtidos pela Pesquisa Pecuária Municipal (IBGE, 2010). Já para a estimativa de participação do rebanho de corte e número de matrizes (não disponibilizado no banco de dados citado) para cada grande região, estado e cidade, utilizou-se o percentual observado no censo agropecuário (IBGE, 2006). Na Tabela 3 esta a participação no rebanho de corte das classes dos animais por idade e sexo segundo censo agropecuário (IBGE, 2006).
Tabela 3 – Participação das classes de animais dentro do rebanho de corte nacional.
Fonte: IBGE, 2006.
Como demonstrado na Tabela 3, adotou-se que o rebanho da bovinocultura de corte brasileira é composto por 30,2% de matrizes. Para a estimativa também considerou que 7.000.000 de matrizes foram inseminadas. Este dado foi gerado a partir da informação do numero de doses de sêmen comercializadas em 2011 (ASBIA, 2011), considerando que todas estas foram utilizadas para inseminação e atingindo uma média entre a técnica IA convencional e IATF de 50% de prenhez. Este valor foi adotado propositalmente pouco abaixo ao observado em média com a utilização das duas técnicas, para correção das doses que foram comercializadas, porém não utilizadas. A utilização destas doses foi considerada proporcional ao efetivo do rebanho de cada cidade, estado e grande região.
Foi considerada uma média de permanência dos reprodutores nas propriedades de cinco anos, e uma relação de touro/vaca de 1/30. Na Tabela 4 estão ranqueadas as cinco grandes regiões brasileiras pela demanda de touros.
Tabela 4 – Demanda anual simulada de touros em relação ao numero de matrizes de corte do Brasil e para as cinco grandes regiões brasileiras.

Estimou-se um rebanho nacional com cerca de 51 milhões de matrizes, e uma demanda anual em aproximadamente 317 mil touros. Pode-se observar que a região que mais demanda touros é a região Centro Oeste, demandando quase 40% do total. Já a demanda menos expressiva é na região Nordeste com apenas 12,3% do total.
Tabela 5 – Demanda anual simulada de touros em relação ao numero de matrizes de corte, para os dez estados brasileiros com maior efetivo de rebanho.
Os três estados da região Centro Oeste lideram a lista de estados com maior número de matrizes e consequentemente maior demanda de touros.
Tabela 6 – Demanda anual simulada de touros em relação ao numero de matrizes de corte, para os dez municípios brasileiros com maior efetivo de rebanho.
Ressalta-se a fundamental importância de escolher bons touros para a reprodução visto que apesar de uma presença física de aproximadamente 5% do rebanho, estes são responsáveis por mais de 90% do ganho genético do rebanho (Silva et al., 1993).
Não se pode mais comprar touros confiando apenas no pedigree, é necessário comprar animais que apresentem avaliações genéticas positivas, e de boa procedência, e uma forma de se aliar estes dois quesitos é adquirindo animais com CEIP (Certificado Especial de Identificação e Produção), o qual é emitido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e certifica que este é um animal geneticamente superior (20 a 30% dos melhores animais nascido a cada safra), resultando em lucro na certa para o produtor (Giacomini, 2006).
Conclusão
A bovinocultura de corte no Brasil é uma atividade que apesar de apresentar baixos índices reprodutivos e produtivos, apresenta características peculiares que lhe confere competitividade no mercado internacional.
Uma maneira de elevar estes índices zootécnicos é por meio do melhoramento genético animal, que tem como objetivo identificar os animais mais eficientes para os diferentes sistemas de produção e ambientes encontrados no território nacional, e selecioná-los para que estes dissipem seus genes na população.
Por Daniel Biluca, Zootecnista e Executivo da Conexão Delta G Norte

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