Duas máximas acompanham a pecuária brasileira. A primeira: o pecuarista sabe produzir, mas não sabe vender; a segunda: o setor é forte, porém desunido
Duas máximas acompanham a pecuária brasileira. A primeira: o pecuarista sabe produzir, mas não sabe vender; a segunda: o setor é forte, porém desunido. Os números provam que eles sabem criar gado e com eficácia cada vez maior. A idade média de abate caiu um mês por ano, em média, na última década, situando-se na faixa de 24 a 36 meses, algo impensável até os anos 1980.
O peso médio ao desmame (sete meses de idade) também evolui (mais lentamente), situando-se na faixa dos 150 quilos, e a taxa de desfrute (percentual do rebanho que vai para o abate) caminha para 25%, ainda abaixo da média dos países mais produtivos, porém avança.
Os números do IBGE apontam para 4,8 milhões de propriedades rurais no país, das quais cerca de 80% têm gado (corte e leite), mesmo que para subsistência. Isso dá a dimensão da abrangência e da importância socioeconômica da atividade. Números da CNA mostram que a carne e o leite movimentam algo em torno de R$ 70 bilhões por ano somente dentro da porteira.
Quanto a não saber vender e serem desunidos, há nisso um fundo de verdade. Mas eles são vítimas de um sistema que os coloca contra a parede no momento da obtenção da receita, após longos e caros investimentos em genética, em sanidade, em nutrição, em mão de obra e em gestão. Nessa hora, as opções de comercialização se resumem, com sorte, a duas ou três.
Além disso, eles vendem os bois o mais rápido possível para não continuar gastando para mantê-los. Não dá para concordar com a pecha de desunião. Acho mais que falta “engajamento” em lutas que efetivamente melhorariam nossa condição de vendedores. Uma das causas é a frequente mudança das regras.
O caso da rastreabilidade é sintomático. Primeiro era obrigatório, o que levou muitos criadores a fazer grandes investimentos. Porém, quase uma década depois, pouco foi definido. Mas o ônus ficou com o pecuarista, que tem seu gado depreciado quando não é rastreado. Outra questão que tira o sono do produtor diz respeito ao peso ideal de abate. Num momento, eles são convencidos de que o boi gordo ideal para o frigorífico tem de pesar 18 arrobas. Produzem tendo esse parâmetro como meta.
Depois, vem a preferência por animais mais pesados. A onda agora é boi com 22 arrobas, justificada -segundo os entendidos de plantão- pela redução do gado disponível. Perfeito. Só que a conta recai sobre o criador, que paga para manter os animais durante semanas no pasto ou confinados e depois os entrega mais gordos para o abate.
Nunca é demais lembrar que é preciso pelo menos dois anos para preparar um boi para o abate. É nessas horas que falta um maior “engajamento” da parte dos pecuaristas. Afinal, a cadeia produtiva da carne bovina não existe sem eles. Mas eles continuam ao sabor dos movimentos do mercado e não fazem valer a sua importância.
PAULO DE CASTRO MARQUES, empresário e pecuarista, é proprietário da Casa Branca Agropastoril, especializada na criação de gado angus, brahman e simental sul-africano.
FONTE: bca agrobusiness
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