sexta-feira, 22 de julho de 2011

“Será que o mercado futuro não está exagerando?”


É a pergunta que ouvi algumas vezes nesta semana. Ouvi dizer até que essa alta já é demais, que o futuro em relação ao físico exagerou muito. Será? Veremos…

Em primeiro lugar, considero os R$108,00 um bom preço para o hedge. É claro que cada um possui custos diferentes, mas acredito que para o confinamento estratégico, o mercado futuro já tenha se tornado uma boa e barata opção para quem gosta de se proteger contra possíveis acidentes. Para aqueles que gostam de um seguro que não limite a alta, existe o mercado de opções. Ele possui um custo maior, mas não impede que o produtor continue a aproveitar uma arrancada de preços. Para acompanhar uma discussão sobre ferramentas disponíveis para proteger a produção, acesse: http://www.agroblog.com.br/boi-gordo/sera-esta-a-safra-mais-pessimista-da-historia-o-que-fazer

Bom, daqui até outubro muita coisa pode acontecer. Ninguém achava que esse contrato poderia ser liquidado em R$99,00/@, mas ele chegou a ser negociado próximo desse valor, o que significa que a máxima ou a mínima, algumas vezes, pode fugir à verdadeira expectativa do mercado para o preço do boi físico no momento que deveria representar o pico da safra.

Bem, existem várias comparações a serem feitas, então resolvi refletir junto com vocês sobre algumas delas.

Iniciemos com a alta média entre fundo de safra e pico de entressafra levando em consideração um histórico desde 1954. Nesse o período, a alta média entre fundo da safra e pico da entressafra foi de 28%. Considerando o fundo do boi 2011 em R$97,00/@ (média de junho), isso colocaria o boi gordo em outubro/novembro em R$124,00/@. Observe o gráfico.

Gráfico 1.
Valorizações fundo da safra/pico da entressafra e desvalorizações entressafra/safra desde 1954.
Okay. Ficou lindo para o produtor e horroroso para o frigorífico. Essa é uma situação extrema, como a que vivenciamos no ano passado. De toda forma, é um cenário a ser considerado. O problema é que não sabemos ao certo se outubro marcará novamente o pico da entressafra, certo? Melhor amenizarmos esse gráfico usando as médias da safra contra as médias da entressafra, ao invés de usar fundos e picos. Menos agudo, não é? Isso colocaria a arroba para o segundo semestre em R$108,00/@, em média.

Gráfico 2.
Valorizações entre preço médio da safra/entressafra e desvalorizações entressafra/safra desde 1954.
Mas cada ano é um ano e temos fases de alta e de baixa envolvidas com o ciclo pecuário, certo? Por isso as subidas tendem a ser mais fortes nas fases de alta do ciclo pecuário e mais amenas nas fases de baixa. Bem como as quedas tendem a ser mais fortes nas fases de baixa e as altas mais comedidas. Segue o gráfico dos ciclos pecuários.

Gráfico 3.
Ciclos pecuários e preços do boi gordo corrigidos pelo IGP-DI (R$/@ em Barretos – SP).
Observe no gráfico que estamos ainda na fase de alta do último ciclo, certo? Se alguém achar que já estamos na fase de baixa, me avise. Podemos considerar um quadro diferente. Mas por enquanto, é isso o que enxergo.

Levando em conta as altas entre fundos das safras e picos das entressafras nas fases de alta do ciclo, isso confere uma projeção para o boi em outubro de R$130,00/@! Se levarmos em consideração a valorização entre preço médio da safra e preço médio da entressafra nessa mesma fase de alta, a arroba para outubro ficaria em R$111,00/@.

Um último fator que nos dirá se o mercado está exagerado ou não: a expectativa do mercado futuro para a entressafra em anos anteriores.

Gráfico 4.
Alta precificada para o contrato de outubro nos primeiros semestres de anos anteriores.
Definitivamente 2011 não está exagerando. Não para o lado positivo.

Aliás, o gráfico 4 nos mostra que este é o ano mais pessimista da história. Mesmo que o segundo semestre não tenha chegado até a projeção que o mercado futuro precificou no passado, o pessoal estava bem mais otimista antes. Aproveitando o gancho, olhe bem para os últimos anos… o otimismo tem diminuído gradativamente. Por que será? Acho que é uma questão para refletirmos.

Bem, a alta média precificada para o contrato de outubro nas safras anteriores colocaria o boi nos R$113,00/@. Isso é impossível? Não, não é. Por que seria? No ano passado tivemos um boi físico em R$117,00/@. E como bem pudemos enxergar ao ver o outubrão cotado em R$99,80 há algumas semanas, o mercado futuro não tem limites de otimismo ou pessimismo. Basta querer e encontrar condições para estopar* uma multidão, que o “impossível” acontece!

*Para quem não tem familiaridade com o mercado futuro, o termo estopar significa encerrar uma posição perdedora na bolsa, ou acionar o “stop” para evitar maiores prejuízos.

Voltando à discussão, em todas as situações descritas com base no passado, o boi permaneceria acima dos R$107,00/@, levando em conta valorizações entre safra e entressafra calculadas de diferentes maneiras. Portanto, acredito que a alta precificada pela BM&F tenha finalmente chegado a um patamar que podemos considerar justo, na verdade. Mas ainda há potencial e possibilidade de novas altas, mesmo que o físico não chegue lá.

É claro que a análise perfeita do potencial de alta do boi físico leva em consideração outros fatores, como oferta de animais e demanda, o que inclui indicadores que vão desde custos com o boi de cocho, até renda da população, diferença de preços com outras carnes, exportações, cenário macroeconômico, entre outros. Por sinal, tenho procurado enxergar uma luzinha no fim do túnel em discussões levantadas em artigos anteriores que levam esses outros indicadores em consideração. Aliás, convido-os a lê-los para opinar também. É muito bom poder trocar ideias e enxergar pontos de vista diferentes sobre o rumo do boi.

Obviamente não sei qual será o pico desta entressafra, assim como ninguém sabe. Mas o importante é tentar desenhar o máximo de possibilidades e casá-las em um conjunto para traçar o seu caminho e a sua estratégia. Assim, o resultado financeiro certamente será muito melhor ao longo dos anos. Tenha certeza!
FONTE: www.agroblog.com.br
autor: Lygia Pimental

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