sexta-feira, 16 de março de 2012

Boi gordo: cadê o piso?







Semana não muito interessante essa última. Aliás, as últimas. Já são quase dois meses de queda. Como dissemos na semana passada, é safra, reflexo da retenção de vacas, quaresma, liquidação das fêmeas que não servem mais à reprodução. O que mais? Enfim, sejamos objetivos, observemos o gráfico:
Gráfico 1. Variação dos preços do boi gordo (SP), boi casado, escalas e bezerro – comparação semana-a-semana, mês-a-mês e ano-a-ano.
Fonte: Cepea/Broadcast/Bigma – Divisão AgriFatto
Tudo caiu, menos as escalas. Elas estão na contramão. Para aproveitar uma oferta maior de animais, os frigoríficos aumentaram o ritmo, ou seja, os abates estão em alta. A tentativa agora é recuperar a margem.
Tem quem argumente que os frigoríficos conseguem manter as escalas longas artificialmente, que essa oferta toda não existe de verdade e que, assim sendo, esse dado não é confiável e deveria ser cada vez menos utilizado. Preciso discordar gentilmente.
Acredito que isso possa ser feito durante um dia, dois, três… mas manter compras em bons níveis sem oferta razoável por um tempo maior do que isso acarreta em preços maiores, já nos ensinou a lei da oferta e da demanda. E é por isso que nunca comparamos dias, mas períodos. Semana-a-semana, mês-a-mês, ano-a-ano…
E aí, entra o comportamento dos preços. Acho que eles confirmam o comportamento das escalas, não é? Portanto, escalas em alta e preços em baixa sinalizam oferta maior, sim. É o que temos visto e a última semana não fugiu a esta regra.
Mas recentemente, o mercado indicou que pode encontrar algum tipo de suporte no curto-prazo após praticamente dois meses de queda. Nos últimos dias já não tem sido tão fácil assim comprar animais por preços mais baixos. O mercado futuro reagiu ao sinal arrancando fortemente.
Gráfico 2. Evolução do contrato futuro de outubro na BM&F
Fonte: Broadcast/BM&F/Divisão AgriFatto – Bigma
O contrato de outubro saiu dos seus 99,00, patamar em que permanecia “adormecido”, para os 102,00 na sessão de ontem. A linha de tendência de baixa (vermelha, contínua) foi despedaçada, mas temos uma importante lição de casa pra fazer no momento: ultrapassar a resistência traduzida pela linha pontilhada, nos 102,00, que coincide com os 50% de retração de Fibonacci.
Pra quem não se lembra de análises anteriores, o Fibonacci foi um italiano muito inteligente que descobriu uma sequência numérica que o mercado obedece e nos sugere pontos de referência para suportes e resistências de preços. São essas linhas cinzas paralelas.
De toda forma, oportunidades estão surgindo, pessoal, grazie a Dio! Vale a pena ficar de olho e deixar a conta na corretora aberta para que na hora certa não esbarre em burocracia, perdendo a chance de aproveitar os preços que estão aparecendo na BM&F. Não se esqueça de olhar também para o mercado de opções.
Voltando à semana passada, deixamos uma janela aberta para que os leitores se comunicassem. A repercussão foi muito legal, fiquei contente com os e-mails que recebi. Repetirei aqui o gráfico que gerou a discussão e algumas das mensagens que chegaram até nós. Peço desculpas aos que mandaram mensagens depois e não foram citados.
Gráfico 3. Preço do boi gordo em São Paulo corrigidos pelo IGP-DI e custos de produção.
Fonte: Bigma Consultoria – informações do IEA/Cepea
Lygia, observo que durante este período, ocorreu uma relação proporcionalmente inversa. Desvalorização da @ do boi e valorização dos custos de produção, acarretando em menor lucratividade para os pecuaristas.
Lygia, o que podemos descrever como consequência do comportamento do mercado ao longo do tempo é o estreitamento da margem do produtor, mas não sei bem como podemos ter esperanças e olhar para frente quando vejo este gráfico.
O estreitamento da margem e faturamento da pecuária não fazem parte de um ciclo natural, o que obriga toda a cadeia a melhorar sua eficiência? Ouvi que a margem não está com ninguém da cadeia, mas com o consumidor, se isso for verdade, não é coerente pensar que é tempo de investir em eficiência, como o frango e suíno já fazem há tempos?
Como solução, a sugestão é sempre de aumento da eficiência e da produtividade por área, com diluição de custos fixos, otimização de recursos e maior desfrute do rebanho.
O pessoal anda afiado! Em resumo, melhorar a eficiência, a produtividade por área e também a comercialização pode mostrar melhor resultado ao longo dos anos do que ganhar R$1,00/@ a mais na negociação hoje. Ou alguém acha que ainda trabalhamos com a mesma lotação por área de 40 anos atrás? Negativo, temos melhorado nossos índices. É o que o mercado exige de nós.
Foi algo que discutimos muito na semana passada: sua preferência é por margem ou por preço? Você prefere um boi de R$95,00 ou de R$120,00/@? Depende. Quanto custou o seu boi de R$120,00/@? Por isso, aqui na AgriFatto ficamos com a margem. Afinal de contas, é sobre ela que conseguimos interferir, melhorar, cortar aquela gordurinha em períodos de vacas magras. Sobre os preços pagos, nem tanto.
Outro assunto que tratamos na semana passada e que também repercutiu foi sobre a Quaresma. Recebi a sugestão de um leitor de comparar também o comportamento dos preços do frango ao longo dos anos para conferirmos se ele também sofre no período. Vamos ao ponto:
Gráfico 4. Variação do preço do boi casado, frango e suíno entre o carnaval e a semana anterior à Páscoa.
Fonte: IEA/Cepea/Broadcast/IEA/Divisão AGriFatto – Bigma
Interessante notar que bovino e frango obedecem bem o período de Quaresma, mas o suíno nem tanto. A queda média no período para a carne suína foi de apenas 0,25%. Para o frango, 11,3%. Talvez o motivo seja a menor representatividade à mesa do brasileiro, historicamente falando.
De toda forma, a Quaresma se faz sentir e só nos resta esperar algum tipo de reação do consumo após a Páscoa. A boa notícia é que o mercado costuma começar a se movimentar à espera do consumo com uma semana de antecedência, então não falta muito.
Casando com a análise que fizemos no início do texto desta semana, o mercado pode ter motivos para se sustentar a partir de agora. Além disso, as fêmeas que estão entrando com força nas escalas de abate são reflexo também do descarte após a estação de monta. O clima adverso ajuda a aumentar a taxa de repetição de cio e, consequentemente, o volume de fêmeas que vão para o gancho. Talvez a diminuição do ritmo da entrada dessas fêmeas também possa ser sentida a partir de abril. É o que nos diz a proporção de fêmeas que participam dos abates na comparação entre primeiro e segundo semestres de anos anteriores.
Por enquanto é isso. Um abraço a todos e até a próxima!

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