O atual cenário
da pecuária do Rio Grande do Sul com bons preços para todas as categorias do
estoque bovino oportuniza a reflexão sobre o passado recente e expectativas de
futuro. Momento ideal para celebrarmos conquistas e nos prepararmos para uma
nova realidade.
Foi a partir do
segundo semestre de 2006, após dois anos seguidos de recordes no abate de
fêmeas que a pecuária do Rio Grande do Sul começou sua recuperação impulsionada
pelo incremento da demanda em função da redução da oferta e do aumento das exportações
de carne e, inclusive, do início das exportações de gado vivo. Este momento
fica exemplarmente demonstrado pelo crescimento do preço do terneiro que passou
da média de R$ 1,65 por kg em 2006 para R$ 2,50 em 2007. Uma valorização de
51,5% em um ano nesta categoria, que implicou na modificação na relação de
troca que baixou de 3,2 para 2,6 terneiros por boi gordo. A partir de então,
percebeu-se a volta dos investimentos na atividade, fator que assegurou uma
estabilização da população bovina do Estado em números próximos a 13,5 milhões
de cabeças (87% para produção de carne) e, também trouxe ótimos resultados decorrentes
da adoção de novas tecnologias. Observou-se uma grande evolução na padronização
do gado obtida através da utilização intensa de melhor genética das raças de
origem britânica, especialmente da raça Angus e das sintéticas Brangus e
Braford. Este melhor padrão genético aliado à melhor nível nutricional
promovido pela integração lavoura-pecuária determinou, em primeiro momento, redução
na idade de abate e na idade das fêmeas ao primeiro parto. Como consequência,
pressionou-se a fase de cria que respondeu com ganhos nos índices de prenhez e
na taxa de desmame, apesar das flutuações oriundas das frequentes estiagens
abaixo do paralelo 30°, região que concentra o maior percentual das pastagens
nativas do Rio Grande do Sul e, que são predominantemente destinados à produção de terneiros.
Esses ganhos de
eficiência são motivo de justa celebração, mas
devemos voltar ao trabalho e prepararmo-nos para novos tempos. Vivemos a época
da velocidade, da instantaneidade, das frequentes modificações nos cenários econômicos
em um mundo cada dia mais global e mais complexo. Esta evolução tem dificultado
nossa capacidade para interpretar e entender as flutuações do mercado da carne
e os efeitos de inúmeras variáveis incidentes na rentabilidade do processo de
produção.
Há consenso que a
população do mundo cresce e que aumentam as concentrações urbanas, que bilhões
de pessoas ascendem à classe média e geram imenso aumento de demanda de
alimentos, em um planeta que já explora grande parte de seus recursos naturais.
O Brasil desfruta
de condição reconhecidamente privilegiada para liderar o atendimento deste
grande desafio de segurança alimentar da humanidade, mas, como se portará a
produção da carne bovina no Rio Grande do Sul?
O Estado, por
suas particularidades ambientais e culturais, distingue-se do restante do país
em muitos aspectos da produção pecuária. Aqui já não se dispõe de grandes
extensões para criação de gado e ainda assiste-se redução paulatina de seus
campos naturais substituídos em boa parte por produção agrícola e florestal.
Estas alterações na paisagem ocasionadas pela intensificação dos processos da
produção rural impactam em outros aspectos da atividade pecuária. A
bovinocultura perde escala pela redução da área, enfrenta à elevação dos custos
fixos pela valorização da terra e dos custos variáveis pela atualização
tecnológica. Com esta realidade criou-se um enorme desafio para a etapa
primordial do processo produtivo que é a fase da cria e, em decorrência disto,
para os demais segmentos que terão que pagar mais por sua matéria prima. Quem
produzirá o terneiro que necessitamos? Como ofertaremos mais terneiros por
área, ocupando solos mais limitados e elevados aumentos nos custos de produção?
Para responder
estas questões neste cenário de transição, momento que temos bons preços e
visualizamos grandes perspectivas no aumento do consumo, mas, em contrapartida,
constatamos grandes ameaças nos custos crescentes e concorrência de atividades
mais rentáveis, vislumbram-se algumas oportunidades geradas na particularidade
do ambiente de nossa produção bovina produzida à base de pasto.
Podemos evoluir
muito com a especialização na produção de carne de altíssima qualidade através
do melhoramento contínuo das características do nosso rebanho e com a conquista
de mercados exigentes, e que se dispõe a pagar muito por este produto, tão
especial e tão apreciado.
Para alcançar estes
objetivos temos que, primeiramente, melhorar nossa organização através da
promoção ao associativismo e formação de alianças. Necessitamos buscar a
aproximação com a indústria, com o varejo e com o consumidor. Assim, estabeleceremos
condições básicas para a continuidade desta atividade que amamos e para a qual somos
tradicionalmente vocacionados.
Pense nisso. O futuro
se define agora.
Pelotas,
14 de março de 2012.
Eng. Agr.
José Luiz Martins Costa Kessler*
*Conselheiro Técnico da Associação Rural de
Pelotas/RS.
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