quarta-feira, 14 de março de 2012

Pecuária do Rio Grande do Sul: O futuro se define agora.




 O atual cenário da pecuária do Rio Grande do Sul com bons preços para todas as categorias do estoque bovino oportuniza a reflexão sobre o passado recente e expectativas de futuro. Momento ideal para celebrarmos conquistas e nos prepararmos para uma nova realidade.

Foi a partir do segundo semestre de 2006, após dois anos seguidos de recordes no abate de fêmeas que a pecuária do Rio Grande do Sul começou sua recuperação impulsionada pelo incremento da demanda em função da redução da oferta e do aumento das exportações de carne e, inclusive, do início das exportações de gado vivo. Este momento fica exemplarmente demonstrado pelo crescimento do preço do terneiro que passou da média de R$ 1,65 por kg em 2006 para R$ 2,50 em 2007. Uma valorização de 51,5% em um ano nesta categoria, que implicou na modificação na relação de troca que baixou de 3,2 para 2,6 terneiros por boi gordo. A partir de então, percebeu-se a volta dos investimentos na atividade, fator que assegurou uma estabilização da população bovina do Estado em números próximos a 13,5 milhões de cabeças (87% para produção de carne) e, também trouxe ótimos resultados decorrentes da adoção de novas tecnologias. Observou-se uma grande evolução na padronização do gado obtida através da utilização intensa de melhor genética das raças de origem britânica, especialmente da raça Angus e das sintéticas Brangus e Braford. Este melhor padrão genético aliado à melhor nível nutricional promovido pela integração lavoura-pecuária determinou, em primeiro momento, redução na idade de abate e na idade das fêmeas ao primeiro parto. Como consequência, pressionou-se a fase de cria que respondeu com ganhos nos índices de prenhez e na taxa de desmame, apesar das flutuações oriundas das frequentes estiagens abaixo do paralelo 30°, região que concentra o maior percentual das pastagens nativas do Rio Grande do Sul e, que são predominantemente destinados à produção de terneiros.

Esses ganhos de eficiência são motivo de justa celebração, mas devemos voltar ao trabalho e prepararmo-nos para novos tempos. Vivemos a época da velocidade, da instantaneidade, das frequentes modificações nos cenários econômicos em um mundo cada dia mais global e mais complexo. Esta evolução tem dificultado nossa capacidade para interpretar e entender as flutuações do mercado da carne e os efeitos de inúmeras variáveis incidentes na rentabilidade do processo de produção.

Há consenso que a população do mundo cresce e que aumentam as concentrações urbanas, que bilhões de pessoas ascendem à classe média e geram imenso aumento de demanda de alimentos, em um planeta que já explora grande parte de seus recursos naturais.

O Brasil desfruta de condição reconhecidamente privilegiada para liderar o atendimento deste grande desafio de segurança alimentar da humanidade, mas, como se portará a produção da carne bovina no Rio Grande do Sul?

O Estado, por suas particularidades ambientais e culturais, distingue-se do restante do país em muitos aspectos da produção pecuária. Aqui já não se dispõe de grandes extensões para criação de gado e ainda assiste-se redução paulatina de seus campos naturais substituídos em boa parte por produção agrícola e florestal. Estas alterações na paisagem ocasionadas pela intensificação dos processos da produção rural impactam em outros aspectos da atividade pecuária. A bovinocultura perde escala pela redução da área, enfrenta à elevação dos custos fixos pela valorização da terra e dos custos variáveis pela atualização tecnológica. Com esta realidade criou-se um enorme desafio para a etapa primordial do processo produtivo que é a fase da cria e, em decorrência disto, para os demais segmentos que terão que pagar mais por sua matéria prima. Quem produzirá o terneiro que necessitamos? Como ofertaremos mais terneiros por área, ocupando solos mais limitados e elevados aumentos nos custos de produção?

Para responder estas questões neste cenário de transição, momento que temos bons preços e visualizamos grandes perspectivas no aumento do consumo, mas, em contrapartida, constatamos grandes ameaças nos custos crescentes e concorrência de atividades mais rentáveis, vislumbram-se algumas oportunidades geradas na particularidade do ambiente de nossa produção bovina produzida à base de pasto.

Podemos evoluir muito com a especialização na produção de carne de altíssima qualidade através do melhoramento contínuo das características do nosso rebanho e com a conquista de mercados exigentes, e que se dispõe a pagar muito por este produto, tão especial e tão apreciado.

Para alcançar estes objetivos temos que, primeiramente, melhorar nossa organização através da promoção ao associativismo e formação de alianças. Necessitamos buscar a aproximação com a indústria, com o varejo e com o consumidor. Assim, estabeleceremos condições básicas para a continuidade desta atividade que amamos e para a qual somos tradicionalmente vocacionados.

Pense nisso. O futuro se define agora.

Pelotas, 14 de março de 2012.
Eng. Agr. José Luiz Martins Costa Kessler*


*Conselheiro Técnico da Associação Rural de Pelotas/RS.

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