terça-feira, 13 de março de 2012

Considerações sobre as exportações brasileiras de bovinos vivos


Por Daniel Freire, presidente da Associação Brasileira de Exportadores de Gado – ABEG
Prezados,
Aproveitamos este documento para apresentar argumentos técnicos contrários à taxação das exportações brasileiras de bovinos vivos, por nos parecer um assunto de tal relevância, não podemos aceitar meras afirmativas de caráter emocional.
A exportação de bovinos vivos agrega valor ao produto de venda do pecuarista, o boi gordo, e é uma alternativa de venda para o fazendeiro brasileiro.
Os benefícios desta via de escoamento da produção vêm também através da geração de empregos, diretos e indiretos, tanto nos setores de produção industrial, relacionados aos insumos, como na logística que envolve o processo de exportação.
Assim como a exportação de carne bovina, a exportação de gado em pé está susceptível aos vários fatores conjunturais que regulam o mercado, embora seja um nicho de mercado.
Os dois canais de negociação podem coexistir, sem prejuízo para o setor, a exemplo do que ocorre na Austrália, outro importante produtor e exportador de produtos pecuários.
A representatividade das exportações de bovinos vivos é pequena no Brasil, tanto em relação aos abates como ao rebanho.
A exportação de produtos primários não deve ser vista como um retrocesso para a cadeia.
Prova disso é o desenvolvimento e importância econômica dos complexos agroindustriais de grãos e minério de ferro, produtos que são exportados em grande quantidade na forma bruta, isentos de taxas de exportação, assim como o boi vivo.
Os ganhos em cadeia
Segundo dados divulgados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz–USP, em conjunto com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Produto Interno Bruto (PIB) do Agronegócio em 2010 somou R$821,1 bilhões.
Deste total, a pecuária, considerando todos os elos envolvidos – insumos, produção na fazenda, indústria e distribuição, respondeu por 29,6%, ou R$242,6 bilhões. Para a geração total de riquezas do país naquele ano, que totalizou R$3,675 trilhões, a pecuária contribuiu com 6,6%.
Desde 1994, quando a série do PIB Agro começou a ser divulgada pela parceria entre Cepea/USP e CNA, este segmento do agronegócio cresceu 45,0%.
O setor que mais evoluiu em geração de riquezas dentro da pecuária foi o de insumos, com alta de 85,6%, o que demonstra o aumento da adoção de tecnologia na atividade.
Este segmento e o da produção na fazenda, somados, compõem a maior parte da geração de riquezas do setor. Ou seja, é antes e dentro da porteira, onde ocorre maior geração de riqueza pela pecuária. Na soma, os dois elos responderam por 54,1% do PIB da pecuária em 2010.
Dezenas de indústrias produzem insumos para a pecuária, geram empregos e arrecadação de impostos, não importa onde os animais serão abatidos. Quando a remuneração do pecuarista está interessante, devido aos bons preços do boi gordo, há investimento na atividade.
Em outras palavras, quando a pecuária vai bem, as indústrias que lhe dão suporte também vão.
Um nicho de mercado
A exportação de bovinos é uma atividade relativamente recente no Brasil. Este mercado surgiu devido a demandas específicas de alguns clientes.
Em 2011 foram exportados bovinos vivos, sem finalidade reprodutiva, para quatro países: Venezuela, Líbano, Turquia e Jordânia.
Opostamente ao que ocorre com as exportações de carne, não há pulverização dos compradores. Segundo dados compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), o Brasil exportou carne bovina in natura para 87 países em 2011. Os compradores de carne industrializada no período foram 108. Miúdos e tripas foram enviados a 62 destinos.
As exportações de bovinos vivos para engorda e/ou abate são um nicho específico e, portanto, susceptível a qualquer intempérie, comercial ou política. Como exemplo, pode-se citar a redução da competitividade em razão da valorização da moeda brasileira.
As exportações de gado em pé são um nicho de mercado, com pouca representatividade em nível nacional, mas nada desimportante, pois gera renda e agrega valor à produção da região onde existe.
Em 2011, a representatividade das exportações de bovinos vivos foi de 0,19% no rebanho total e de 0,97% sobre os abates nacionais.
Geração de empregos e investimentos
A exportação de gado em pé, no contexto social e econômico, aparece como uma alternativa de diversificação de serviços e investimentos, por exemplo, nos setores portuário e de insumos, sem falar na geração de outros postos de trabalhos indiretos.
É indiscutível também a quantidade de empregos diretos e indiretos gerados, por exemplo, na indústria de insumos, que inclui os segmentos de produção de sementes, defensivos, fertilizantes, medicamentos, suplementos minerais, rações, produtos para reprodução, maquinários e equipamentos, entre outros.
Estes postos não são perdidos com as exportações de bovinos vivos. Ao contrário. Em decorrência das exportações de bovinos vivos, não há redução de empregos, visto que os elos do setor que mais geram riqueza (insumos e produção pecuária) são estimulados, gerando uma maior agregação de valor (produção de insumos) e renda para o país.
Também são gerados empregos diretamente relacionados às exportações de bovinos vivos, por exemplo, nos portos por onde são embarcados os animais: mão de obra portuária, nas áreas de pré-embarque, compra de animais, transporte, responsáveis técnicos, fiscais, despachantes, etc.
Novos postos de trabalhos são gerados indiretamente, sem falar no ganho para a agricultura da região, pensando do lado da produção de alimentos. Os ganhos para o setor são em cadeia.
Exportações de produtos básicos
O Brasil é, tradicionalmente, um país exportador de commodities e matérias primas. Destaque para os setores de grãos e mineração, entre outros produtos.
O questionamento das exportações de bovinos vivos implicaria também em um questionamento junto às indústrias exportadoras de grãos, minério de ferro e vários outros exportadores de produtos básicos.
Na agricultura, os principais produtos exportados são soja, café, açúcar bruto, milho e algodão.
O mercado internacional é essencial para o escoamento da produção agrícola do país. Do lado da soja e milho, parte do bom desempenho em termos de preço para o agricultor se deu em função da boa demanda pelo mercado internacional, que por sua vez deu sustentação às cotações no mercado interno.
Como reflexo disto, temos os investimentos em fertilizantes, defensivos agrícolas, sementes, etc., que por sua vez repercutem em melhorias dos índices produtivos do país.
Na tabela 1 estão alguns produtos básicos exportados pelo Brasil e sua participação em relação à produção nacional.
Tabela 1. Produção e exportação brasileira de alguns produtos básicos em 2011 – em mil toneladas.
Fonte: MDIC / IBRAM / CONAB / IBGE / Compilados pela Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br
As exportações de bovinos vivos representaram, em 2011, 0,97% dos abates totais no Brasil. Em relação ao rebanho, os embarques de gado em pé representaram 0,19%.
Conclusões
Com base nos argumentos apresentados, pode-se extrair que a taxação das exportações, em qualquer percentual, de bovinos vivos poderia limitar uma forma de comercialização que tem agregado valor ao setor pecuário e aos elos que o precedem.
Este nicho de mercado, que se desenvolveu naturalmente, também existe em outros importantes países produtores e exportadores de carne bovina, como Austrália, México e Canadá, por exemplo, o que demonstra que uma atividade não exclui a outra.
As exportações de bovinos vivos devem fazer parte da política e objetivos do país, já que representam ganhos para a pecuária do Pará e de outros estados exportadores.
O próprio mercado se regula. Exemplo disto foi a redução dos embarques de bovinos vivos pelo Brasil em 2011 na comparação com 2010, em função de questões cambiais .
As exportações de bovinos vivos podem ser vistas como uma forma de diversificar, criar um novo canal de negociação e diluir riscos, situação favorável especialmente diante de um cenário de crise econômica. A agregação de valor no campo, no meio rural, é uma importante ferramenta de fixação do homem no campo e da geração de empregos rurais.
FONTE: ABEG

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