segunda-feira, 2 de julho de 2012

Mercado do Boi: A dificuldade de manter a vaca no pasto


Vocês têm acompanhado pela televisão os leilões de gado? Têm reparado na quantidade de fêmeas ofertadas e arrematadas Brasil a fora? Eu tenho, não é pouca coisa, não. Bom, como sempre gosto de colocar números acima dos “achismos”, vamos acompanhar o que tem acontecido com o abate de fêmeas nos últimos meses:

Observem o que aconteceu com o primeiro trimestre de 2012. Normalmente, os primeiros trimestres do ano refletem naturalmente uma taxa alta de fêmeas abatidas, resultado do descarte das fêmeas que repetiram o cio após a estação de monta.

Entretanto, os últimos meses têm sido um pouco diferentes. Vamos colocar uma lente de aumento nisso, basta observarmos juntos a tabela 1. 

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Notem que tanto em fases de baixa de ciclo pecuário como em fases de alta, temos uma alta taxa de fêmeas abatidas no primeiro trimestre do ano. Como eu disse anteriormente, é um movimento natural. 

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Mas observem mais atentamente o que tem acontecido ao longo de 2011 e agora, em 2012. Na tabela, dei destaque ao fundo do poço do último ciclo pecuário, ou seja, 2006. Naquele período os preços estavam ruins há bastante tempo e na tentativa de fazer caixa, o pessoal saiu liquidando o plantel, inclusive as fêmeas.

É o que ocorre hoje? Não. É claro que as margens estão mais apertadas. Do ano passado pra cá, a arroba já recuou 5%. Faço a comparação ano-a-ano para analisarmos períodos semelhantes. Se eu usar janeiro contra junho, seria natural esperar queda de preços, pois é o movimento normal que a safra traz. Agora, estamos indo para o mesmo caminho, basta acompanhar os números da tabela! Mas mesmo com esse cenário mais difícil, ainda não é liquidação. Pelo menos não é o que nosso indicador de custos indica.

Seria por causa do clima? Acho que o clima certamente teve uma forte influência, pois piora a qualidade das pastagens e diminui a taxa de concepção nas propriedades. Mas acho que tem mais alguma coisa escondida nessa conta.

Vejam no gráfico 2 como o diferencial do preço pago pela vaca e pelo boi gordo tem diminuído nos últimos tempos. Usei a praça de Cuiabá-MT por ser uma boa referência de diferentes sistemas de pecuária: ciclo completo, cria, recria e engorda. Lá tem de tudo.

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Observem a linha verde. Hoje a diferença está em -8%, enquanto a média dos últimos 10 anos gira em torno de -11% e já chegou abaixo de -20%. Isso significa que o custo de oportunidade de manter a vaca no pasto está alto!

Ouvi há alguns dias que, de acordo com o movimento PIB (produto interno bruto) do setor
de insumos para a pecuária, os investimentos na pecuária continuam, e que por isso o ciclo ainda
não virou. Mas pessoal, pensem bem, o fundo do ciclo anterior ocorreu há 6 anos! Além disso,
paramos de investir a partir do momento em que aplicamos capital na atividade e não somos
remunerados por isso. 

Portanto, considerando o comportamento atual dos preços pecuários, podemos dizer que se
continuar assim, certamente os investimentos deixarão de acontecer. Mas aí já terá sido tarde
demais praqueles que só então decidem encarar que o ciclo pecuário atingiu sua fase de baixa. Aí é
tarde demais pra virar o leme do navio.

A notícia boa é que apesar de aparentemente já estarmos inseridos na fase de baixa do ciclo pecuário desde o ano passado, o clima e a proximidade do preço da vaca com o do boi poderão encurtar a fase de baixa, pois esses fatores exacerbaram o movimento antes da hora. Outra boa notícia é que, como já comentamos aqui, ainda temos seca e chuvas, safra e entressafra. Então não é o fim do mundo, ainda teremos oportunidade de fazer bons negócios.

Bom, por último, gostaria de avisar os amigos de Minas Gerais que estarei em Ponte Nova 
na próxima quinta-feira para falar sobre o mercado de carnes. Espero encontrar mais alguns amigos que puderem comparecer. Abraços!
Fonte: Agrifatto

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