Foto: Edição/247
PRODUTORES AMEAÇAM INTERROMPER O FORNECIMENTO DE ANIMAIS PARA ABATE E PROMOVER TRATORAÇO NA PRAÇA DOS TRÊS PODERES, EM BRASÍLIA; CARTA ABERTA PARA UTILIZAÇÃO DE RECURSOS DO BNDES EM BENEFÍCIO DA CARTELIZAÇÃO DE PREÇOS; PRESIDENTE DO CADE PROMOVE INVESTIGAÇÃO APÓS REUNIÃO COM FRENTE PARLAMENTAR DA AGROPECUÁRIA; "JÁ TÍNHAMOS ESSA PREOCUPAÇÃO"
Realle Palazzo-Martini _247 - O Movimento Nacional contra o Monopólio dos Frigoríficos decidiu endurecer o jogo contra o chamado "Cartel da Carne". Com ameaças de interromper o fornecimento de animais para abate, lideranças ruralistas reuniram-se ontem na sede da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA) e divulgaram a Carta dos Pecuaristas Goianos. O documento traz seis reivindicações principais, entre elas a de que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) investigue suposto abuso de poder econômico nas aquisições de frigoríficos com a utilização de dinheiro público.
A ação tem como endereço o Grupo JBS. Segundo a análise dos pecuaristas, a empresa detém em alguns estados mais de 50% do mercado. Em Goiás, JBS, Marfrig e Minerva controlam 40% dos abates. O movimento denuncia que os financiamentos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Nacional (BNDES), que serviriam na teoria para o JBS melhorar a sua competitividade no mercado global, tem sido utilizado para aquisições, fusões e arrendamentos de frigoríficos Brasil adentro. Os produtores exigem que o banco democratize o crédito às pequenas e médias empresas do setor.
Resultado quase que imediato da reunião em Goiânia e de uma audiência com membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o presidente do Cade, Vinícius Carvalho, informou que o órgão vai realizar estudo detalhado sobre o setor de frigoríficos. "Nós também já tínhamos essa preocupação. Sempre que um determinado setor apresenta muitas operações de concentração, o Cade fica alerta", disse Carvalho em entrevista à Agência Estado. O presidente do organismo antitruste se comprometeu a buscar a assinatura de Acordos de Preservação da Reversibilidade da Operação (Apros) nos processos onde houver riscos de prejuízo à ordem econômica.
A Carta dos Pecuaristas Goianos denuncia que o dinheiro recebido do BNDES é utilizado no arrendamento de frigoríficos e na estruturação de confinamentos. Tais estruturas, acusam, com centenas de milhares de cabeças de gado, servem a uma regulação artificial dos preços pagos aos produtores. Atualmente, a arroba está cotada em Goiás a R$ 83, mas os pecuaristas sustentam que o valor mínimo necessário à manutenção da atividade seria de R$ 90.
Com a vaca a caminho do brejo, as lideranças ruralistas decidiram na reunião da SGPA em Goiânia que as atividades do movimento nacional contra o monopólio dos frigoríficos serão intensificadas. Além da paralisação alternada e temporária do abate de animais, não está descartado um "tratoraço" ou um "caminhonaço" na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Adesivos do movimento serão distribuídos aos simpatizantes da causa ruralistas em diversos estados.
Retórica da crise
O presidente do Sindicato da Carne em Goiás, José Magno Pato, disse ontem ao jornal goianiense Diário da Manhã que a pecuária de corte está em declínio e que a margem de lucro dos frigoríficos é irrisória. Segundo ele, o frigorífico vende para o supermercado a carcaça a R$ 7 o quilo, o que dá aproximadamente R$ 1.600. Ele reclama que a atividade é inglória também para as empresas. "A remuneração média de um frigorífico é de no máximo 5% ao ano, bem abaixo do que qualquer aplicação financeira". Magno Pato alega que há 10 anos o consumo per capta de carne bovina no Brasil era de 37 quilos por ano. Hoje, diz, esse consumo caiu para 30 quilos/ano.
Em oposição às alegações de que a atividade pecuária está em declínio no Brasil, o diretor-técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz, disse à Agência BeefPoint que o Brasil deverá voltar à primeira posição no ranking dos maiores exportadores de carne bovina no mundo este ano. Na estimativa da consultoria, o Brasil vai embarcar 1,465 milhão de toneladas equivalente carcaça, à frente da Austrália (1,38 milhão de toneladas) e dos Estados Unidos (1,25 milhão de toneladas). No ano passado, o Brasil ficou em segundo lugar, com 1,322 milhão de toneladas embarcadas, atrás da Austrália (1,35 milhão de toneladas), mas ainda um pouco à frente dos Estados Unidos (1,24 milhão de toneladas).
Leia abaixo a íntegra da reportagem do jornal Diário da Manhã
CARTEL DA CARNE
Pecuaristas contra-atacam
Mobilização contra o monopólio terá medidas de enfrentamento como reclamação no CADE e cooperativas para abate
Hélmiton Prateado
Os produtores de carne bovina de Goiás decidiram adotar uma postura de enfrentamento ao que classificam de "monopólio dos frigoríficos" e da cartelização dos produtos da cadeia produtiva da carne. Reunidos na manhã de ontem na sede da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA) eles reafirmaram a disposição de encarar o cartel dos frigoríficos.
Segundo o presidente da SGPA, Ricardo Yano, há uma estrutura poderosa financiada com recursos públicos através do BNDES que oprime os produtores de carne bovina com baixas remunerações e por uma cartelização que concentra renda nos frigoríficos. "Os pecuaristas estão sendo sacrificados com apoio do governo e os milhões de financiamento público. Decidimos reagir e mudar essa situação", frisou Yano.
A reunião na SGPA marcou o início de uma campanha de adesivaço intitulada "Movimento Nacional Contra o Monopólio dos Frigoríficos". A intenção, de acordo com Ricardo Yano, é difundir a insatisfação dos produtores e concentrar os esforços na luta contra as empresas de abate e venda de carnes. "Goiás tem expressão nacional na produção de pecuária de corte, o maior rebanho confinado, excelência na qualidade de produto, pecuaristas conscientes com a sanidade e com as boas práticas de produção, mas mesmo assim um preço irrisório pago pelo gado entregue aos frigoríficos".
Lideranças dentre os produtores de pecuária de corte compareceram ao evento na sede da SGPA e firmaram compromisso de esclarecer a sociedade sobre o que consideram "opressão dos frigoríficos" sobre os pecuaristas e lutar para mudar essa realidade.
Carcaça limpa, restos lucrativos
De acordo com o diretor da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, Carlos Alberto Guimarães, os frigoríficos tratam de forma desrespeitosa os pecuaristas por dominarem o capital, enquanto os produtores não sabem usar suas armas. "O maior ator desse cenário dentre os frigoríficos é o grupo JBS, que se internacionalizou com dinheiro do BNDES. O Governo Federal criou um monstro incontrolável com dinheiro público que está comendo os pecuaristas".
Carlito Guimarães, como é conhecido, preside também uma associação de criadores do Araguaia e Xingu expõe dados atualizados da cadeia produtiva da carne bovina para justificar que a balança está mais para os frigoríficos e muito pouco para os pecuaristas. Ele explica que um boi entregue pelo produtor para o frigorífico é morto, retiram-lhe as patas, couro, cabeça e vísceras e pesam somente a carcaça, ou os "quartos" dianteiros e traseiros. Sobre esse peso líquido é que é pago para o produtor.
"O frigorífico fica com tudo isto fora a carne, ou seja, do boi só não se aproveita o berro e o rastro e o pecuarista só não quebra por teimosia", alfineta o produtor. Ele explica que a cotação do boi em Goiás atualmente está em R$ 83,00 a arroba (15 quilos). Um boi pesa em média, depois de morto e eviscerado, cerca de 15 arrobas, o que dá aproximadamente R$ 1.245,00. O que resta, como couro e outros, o frigorífico vende bem, o que aumenta seu rendimento.
Custos altos e decadência
O presidente do Sindicato da Carne, José Magno Pato, defende os frigoríficos justificando que a margem de lucro é irrisória. "O frigorífico vende para o supermercado a carcaça em média a R$ 7,00 o quilo, o que dá aproximadamente R$ 1.600,00".
Para Magno Pato a atividade é também inglória para as empresas. Ele ressalta que a indústria frigorífica é a que mais emprega e a de menor índice de industrialização. "Para matar 1.000 bois por dia um frigorífico precisa ter no mínimo 600 funcionários, que custam em média R$ 1.500,00 por mês, cada um, mais os encargos. A remuneração média de um frigorífico é de no máximo 5% ao ano, bem abaixo do que qualquer aplicação financeira".
José Magno Pato, que também é produtor, tem na ponta dos dedos dados para justificar o declínio da pecuária de corte. Ele mostra que há 10 anos o consumo per capta de carne bovina no Brasil era de 37 quilos por ano e de frango chegava a 12 quilos. Hoje essa realidade se inverteu de forma brutal, com um consumo de carne bovina de 30 quilos/ano e de frango subiu para 50 quilos.
José Magno Pato, que também é produtor, tem na ponta dos dedos dados para justificar o declínio da pecuária de corte. Ele mostra que há 10 anos o consumo per capta de carne bovina no Brasil era de 37 quilos por ano e de frango chegava a 12 quilos. Hoje essa realidade se inverteu de forma brutal, com um consumo de carne bovina de 30 quilos/ano e de frango subiu para 50 quilos.
Prospectiva
Segundo o pecuarista Gilberto Santana a solução passa por uma organização de moldes empresariais para congregar os produtores. "Creio que nossa solução será a formação de cooperativas para gerenciar a cadeia produtiva da carne e talvez até pequenos frigoríficos espalhados pelo Estado com uma central de beneficiamento e comercialização. Só assim poderemos contrapor o poderio dos frigoríficos".
Sua alternativa é endossada por Carlitos Guimarães. "Se temos competência para criar e engordar o boi temos também para colocar carne na porta dos supermercados com preço competitivo e justa remuneração para quem produz", finaliza.
FONTE: brasil247.com
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