Incerteza sobre remuneração inibe participação, que é maior entre fazendas de produção intensiva
O número de propriedades habilitadas a exportar carne bovina para União Europeia caiu 5,8% em 2013 e passou de 1.823 fazendas para 1.717, segundo lista atualizada nesta quarta-feira, 10, pelo Ministério da Agricultura. A pasta tem 15 mil propriedades cadastradas.
Para exportar ao bloco econômico, as propriedades precisam integrar o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov) e passar pela certificação do Ministério da agricultura, que permitirá que elas integrem a lista de propriedades habilitadas.
Desde que foi criado, porém, o sistema encontra resistência do produtor, pela necessidade de investimento na identificação dos animais para a rastreabilidade diante da incerteza em relação ao pagamento diferenciado pelo animal com destino aos europeus.
“(o resultado) É muito variável e não há garantia de recebimento de valor diferenciado pelo gado rastreado e certificado”, observa Marcela Vinholis, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP) que realizou estudo sobre as motivações do pecuarista para aderir ou deixar de participar do sistema.
O estudo considerou uma amostra de 32 propriedades certificadas e 52 não certificadas no Estado de São Paulo, no ano de 2011. Em fevereiro de 2010, São Paulo contava com apenas 137 fazendas inscritas no Sisbov, diante de um universo de 25.638 propriedades.
“No ano avaliado existiam aquelas propriedades que não receberam prêmio em nenhuma venda, as que receberam o prêmio Europa em algumas negociações e outras que receberam o prêmio no rebanho todo. Parte destas últimas possuía o valor previamente acordado com o comprador.”
Os resultados do estudo mostram que as propriedades que já trabalham com sistema intensivo de produção animal tendem a buscar a certificação. Enquanto 87,5% das propriedades certificadas consultadas no estudo usam o sistema intensivo, nas fazendas não certificadas esse índice cai para 42,3%.
“Sistemas de produção altamente intensivos no uso de insumos e capital são caracterizados por maior complexidade de gestão e maior risco do negócio. Esta condição implica na adoção de um conjunto de novas práticas de gestão como controles de inventário e de indicadores zootécnicos, planilhas de custos de produção, capacitação de mão de obra e mecanismos de gestão do risco preço. A obtenção da certificação Sisbov, por sua vez, requer o controle preciso de inventário e da movimentação do gado e a capacitação de mão de obra para a implantação e manutenção do sistema.”
Outras características que diferenciam as propriedades certificadas das não certificadas são o tamanho do rebanho e da propriedade. Quanto maior o rebanho e o tamanho da fazenda, maior a adesão à certificação. As propriedades certificadas possuíam em média 9.260 cabeças e 4.300 hectares, contra 971 cabeças e 1.065 hectares das não certificadas.
A pesquisadora aponta como fator fundamental para a adesão, independente do tamanho da propriedade, a necessidade de capacitar a mão de obra das fazendas. “A regulamentação é bastante clara e detalhada e algumas certificadoras fornecem um ‘passo a passo’ para a adequação da propriedade. No entanto, a rotina de controles e trâmites de documentos, bem como o processo de auditoria não é a realidade de muitas propriedades rurais, o que requer a autoaprendizagem e treinamento.”
No âmbito das políticas públicas, a pesquisadora sugere fomentar o associativismo na pecuária, a adoção de instrumentos de gestão de risco, além de reduzir os custos de implantação e manutenção do sistema. O estudo, porém, não avaliou o gasto médio para a adesão e manutenção do Sisbov.
Fonte: Portal DBO
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