sexta-feira, 19 de julho de 2013

Registro de beta-agonista pode dividir indústria de carne bovina na Austrália

Isso tem potencial para se tornar um dos debates mais vigorosos e controversos vistos na indústria de carne bovina australiana em anos

Em breve, a Austrália provavelmente terá que tomar algumas difíceis decisões sobre se apoia a adoção do uso da ferramenta de produtividade para promoção do crescimento, os beta-agonistas, dentro da indústria de carne bovina. Isso tem potencial para se tornar um dos debates mais vigorosos e controversos vistos na indústria de carne bovina australiana em anos.
Nesse artigo, o Beef Central pode confirmar que a companhia global de saúde animal MSD (divisão australiana de negócios da Coopers) apresentou um pedido buscando o registro para uso de seu produto beta-agonista, Zilmax, para uso em gado de corte na Austrália.
A principal questão se resume em ponderar os benefícios consideráveis de produtividade que podem ser ganhos usando os beta-agonistas em sistemas de produção com grãos da Austrália, contra o potencial impacto no acesso a mercados internacionais para a carne bovina australiana.
Não há dúvidas de que os beta-agonistas produzem ganhos colossais no desempenho em engorda de gado de forma intensiva. Nos Estados Unidos, onde os produtos são registrados para uso desde 2006, cerca de 70% a 90% dos novilhos e novilhas de engorda recebem esses compostos em suas rações.
O uso nos Estados Unidos foi modesto nos primeiros anos após o registro, mas os processadores estão agora usando ativamente o produto na cadeia de fornecimento, segundo informou uma fonte da Zilmax australiana.
Por que? Os beta-agonistas têm apoiado bastante a recente oferta doméstica de carne bovina dos Estados Unidos. O analista da indústria, Len Steiner, recentemente identificou o uso de beta-agonistas como uma razão crítica pela qual a indústria de carne bovina dos Estados Unidos tem sido capaz de manter seus altos níveis de produção, apesar do tamanho do rebanho nacional que chegou ao menor nível em 40 anos.
Um defensor da introdução de beta-agonistas para a produção de carne bovina na Austrália disse que o benefício acumulado para confinamentos e abatedouros poderia ser de A$ 60-A$70 (US$ 54,26-US$ 63,30) em valor extra por animal.
A MSD pediu o registro do Zilmax há dez meses, mas o lento processo poderia facilmente demorar mais 12 a 18 meses para ser finalizado. Isso dá um bom tempo para os grupos da indústria australiana em todos os setores avaliarem suas implicações e ter informações sobre o processo de registro, disseram seus apoiadores. Outros grupos de interesse, incluindo varejistas e grupos de consumidores, aparentemente também serão consultados.
Entende-se que o processo está atualmente passando do estágio de “triagem preliminar” para o começo da revisão pela Autoridade de Medicina Veterinária e Pesticidas da Austrália (APVMA).
Esse processo envolverá uma avaliação detalhada não somente dos aspectos da saúde humana associados com o Zilmax, mas também, do bem-estar animal, meio-ambiente e talvez mais importante, potenciais impactos no acesso ao comércio internacional pela Austrália.
Sabe-se que outra companhia de saúde animal, Elanco, começou um processo de pedido de registro australiano para seu beta-agonista chamado Optaflexx anteriormente, mas interrompeu esse processo. Especula-se que esse processo poderá, agora, ser reativado.
Nos bastidores, líderes da indústria já reconheceram a natureza potencialmente explosiva da discussão que se aproxima. Visões divergentes poderiam emergir não somente entre os setores, mas dentro dos setores, sugerem discussões com membros seniores da indústria.
De acordo com uma fonte próxima ao processo de registro, a oportunidade de usar beta-agonistas na produção de carne bovina produzida com grãos não atenderá todas as cadeias de fornecimento australiana, mas a intenção é tornar isso disponível para todos aqueles que queiram aproveitar seus benefícios. Os sistemas já estão em prática para garantir que os usuários não representarão nenhum risco aos mercados de exportação de carne bovina duramente conquistados pela Austrália.
A indústria de carne suína australiana já tem acesso ao produto beta-agonista, Paylean (baseado na ractopamina, o equivalente bovino usado nos Estados Unidos sendo Optaflexx).
Entretanto, as implicações de acesso a mercados são bem mais amplas para a indústria de carne bovina australiana do que para suínas, porque quase 70% da carne bovina do país termina nos mercados de exportação, enquanto as exportações de carne suína são bastante limitadas. Além disso, alguns mercados de exportação de carne bovina – potencialmente enormes – não aceitarão carne de gado tratado com esse composto.
Atualmente, há uma barreira total às exportações de carne bovina dos Estados Unidos à Rússia, Taiwan e União Europeia (UE) devido à possibilidade de o produto conter beta-agonista. A China também proíbe o uso de beta-agonistas, apesar de sua atual barreira total à carne bovina dos Estados Unidos seja baseada principalmente nas preocupações de segurança alimentar relacionadas à encefalopatia espongiforme bovina (EEB).
Desde 1 de março, a China tem requerido uma verificação por terceiros de que a carne suína dos Estados Unidos que entra no país é livre de beta-agonistas. No passado, a carne suína dos Estados Unidos teve sua entrada recusada quando quantidades de traços foram encontradas. No total, cerca de 160 países no mundo todo não suportam o uso desses compostos.
Taiwan removeu sua barreira aos Estados Unidos, embora aplique o limite máximo de resíduos (MRL). O Japão e a Coreia estão passando pelo mesmo processo.
A agência de padrões internacionais Codex em julho passado adotou os MRLs para ractopamina após um longo debate e uma votação apertada de 69-67 pelos países membros. Entretanto, grupos de lobby dos consumidores dos Estados Unidos incluindo o Centro para Segurança Alimentar registraram petições dos cidadãos pedindo que a Administração para Alimentos e Drogas (FDA) dos Estados Unidos revisasse os padrões Codex recentemente adotados para MRLs de beta-agonistas.
Apesar da aprovação do Codex, UE, Rússia e China continuaram com seus embargos a aditivos na alimentação animal.
Não é exagero afirmar que a Austrália recebeu um enorme beneficio no comércio internacional nos últimos dois anos devido à barreira imposta aos Estados Unidos e outros países exportadores que permitem o uso de beta-agonistas. As exportações australianas à Rússia, China e UE aumentaram principalmente às custas das vendas dos Estados Unidos.
Diferentemente da indústria de carne suína dos Estados Unidos, a maioria dos fornecedores de carne bovina dos Estados Unidos não poderia fornecer carne bovina sem ractopamina, disse o analista americano, Len Steiner recentemente. Segundo ele, a China agora se tornou o quarto maior comprador de carne bovina australiana, com os envios australianos aumentando em 35 vezes comparado com o ano anterior.
O colunista mensal do Beef Central, Steve Kay, sugeriu no início do ano que a barreira a acesso ao mercado da Rússia em 11 de fevereiro à carne dos Estados Unidos poderia custar à indústria pecuária americana US$ 155 milhões. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que uma porção de US$ 97 milhões é de perda no valor das exportações de carne bovina e US$ 58 milhões na perda de exportações de carne suína. A Rússia anteriormente era um mercado de US$ 550 milhões por ano para carnes dos Estados Unidos.
A Rússia também ameaçou proibir as importações do México e de outros países exportadores de carne bovina que usam beta-agonistas, incluindo Canadá e Brasil, porque acredita que eles, também, não podem garantir a oferta de produtos livres do composto.
Entretanto, existe uma ideia disseminada de que a barreira da Rússia é motivada mais pelo protecionismo do que pela preocupação com o bem-estar dos cidadãos da Rússia.
É importante notar que os Estados Unidos comentaram na época que a Rússia impôs sua barreira em 11 de fevereiro que os produtores dos Estados Unidos continuariam usando aditivos nos alimentos animais, porque os benefícios econômicos de usá-los (no sistema de produção de carne bovina dos Estados Unidos) de longe ultrapassa a perda no valor das exportações à Rússia.
Departamentos de agricultura nos Estados Unidos e no Canadá disseram que não tinham a intenção de começar programas de certificação de produtores que não usam beta-agonistas na carne bovina. Precisaria de US$ 10 milhões para instituir uma segregação de grande escala de carcaças expostas ao composto daquelas que não são. Os frigoríficos dos Estados Unidos teriam que reconfigurar completamente suas plantas, com muitas não estando preparadas para fazer isso, somente para ser capaz de exportar à Rússia.
Alguns observadores disseram que uma barreira a beta-agonistas na UE poderia começar a se assemelhar à barreira de 25 anos ao uso de hormônios promotores de crescimento – que continuam em prática mesmo após a Organização Mundial de Comércio determinar em favor dos Estados Unidos e do Canadá que dizem que esses hormônios são seguros e que a barreira deveria ser removida. Um cenário similar pode ser gerado com a UE e a Rússia com relação às barreiras à ractopamina, mesmo se os Estados Unidos em algum ponto ganhar o processo na OMC com relação à sua segurança.
A reportagem é do Beefcentral.com

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