quarta-feira, 2 de junho de 2010

Mesmo com frango barato, consumo de carne bovina não deve diminuir

Migração de um tipo de carne para outro não deve ser tão intensa, por causa da renda maior do brasileiro
A diferença de preço entre as carnes de frango e de boi é um dos maiores dos últimos seis anos. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o frango congelado no atacado da Grande São Paulo está 55% mais barato do que o preço da carcaça bovina casada, perto da maior diferença entre as duas proteínas já registrada pelo Cepea, de 58% em março de 2006.
Assim, cresce a expectativa de migração de consumo da carne bovina para o frango, mais em conta. Mas a recuperação da renda e mudanças nos hábitos de consumo podem tornar esse movimento mais tímido do que em outros momentos.
Conforme o Cepea, o spread médio entre o frango congelado e a carcaça bovina casada é de 43% desde 2004, quando teve início a série histórica do Cepea. Só neste ano, o quilo do frango congelado caiu 12% no atacado da Grande São Paulo, sendo vendido por R$ 2,45 o quilo na última quarta-feira.
Segundo o pesquisador Matheus Pacheco de Almeida, do Cepea, a lenta retomada da demanda internacional pelo produto explica o comportamento de preços. "As exportações não estão decolando, o que obriga as empresas a vender no mercado interno." A proibição da venda de frango temperado desde abril é outro fator que teria contribuído para a baixa do frango, já que 90% da produção de alguns frigoríficos era de frango temperado. Com o aumento da oferta de frango in natura, os preços baixaram. O Mapa determinou o fim das vendas de frango temperado na tentativa de inibir fraudes em relação à mistura de água ao produto.
Insumos. A queda dos principais insumos utilizados na produção de carne de frango - milho e farelo de soja - também pode ter contribuído para retração no preço da carne. O indicador de preços do milho Esalq/BM&FBovespa acumula queda aproximada de 5% em 2010, enquanto o indicador para a soja cai 8% no ano, considerando as cotações em Paranaguá (PR). "O maior determinante para a formação de preços é a demanda, mas todos os elos da cadeia sabem que o preço dos insumos está baixo e que as margens dos produtores melhoraram", diz.
"A tendência, neste momento, é atrair maior consumo para o frango e inibir a demanda pela carne bovina", diz o economista Fábio Silveira, da RC Consultores. Na sua avaliação, há uma pressão de baixa sobre os preços da carne bovina, também explicada pela perspectiva de manutenção de preços deprimidos dos grãos.
Mas, para o coordenador de Pecuária do Cepea, o pesquisador Sérgio De Zen, uma migração mais significativa e clara do consumidor de uma proteína para outra não deve ser verificada. O aumento do poder de compra do brasileiro, argumenta, faz com que o fator preço tenha um peso menor na decisão do consumidor. "Quando havia restrição muito forte de renda, essa migração era mais iminente. Agora, com um padrão melhor, alguns consumidores vão aceitar (a diferença de preço) um pouco mais."
Já a economista Amarillys Romano, da Tendências, avalia que, apesar do recente aumento, a renda extra do consumidor está comprometida com a compra de bens duráveis e que o aumento do diferencial entre as carnes de frango e bovina pode provocar uma migração temporária de consumo.
É unânime entre os analistas, porém, a percepção de que, no mínimo, o atual patamar de preço das aves deve inibir a recuperação da carne bovina no atacado.

FONTE: O ESTADÃO

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